Fugas - Fugas Com Astérix

  • A Odisseia de Astérix
    A Odisseia de Astérix © 2013 LES ÉDITIONS ALBERT RENÉ/GOSCINNY-UDERZO
  • Astérix entre os Belgas
    Astérix entre os Belgas © 2013 LES ÉDITIONS ALBERT RENÉ/GOSCINNY-UDERZO
  • A Grande Travessia
    A Grande Travessia © 2013 LES ÉDITIONS ALBERT RENÉ/GOSCINNY-UDERZO
  • As 1001 Horas de Astérix
    As 1001 Horas de Astérix © 2013 LES ÉDITIONS ALBERT RENÉ/GOSCINNY-UDERZO
  • A Odisseia de Astérix
    A Odisseia de Astérix © 2013 LES ÉDITIONS ALBERT RENÉ/GOSCINNY-UDERZO

Nem só de javalis (mas quase) se alimentavam Astérix e Obélix

Por Alexandra Prado Coelho

As aventuras dos heróis gauleses por vários pontos do mundo são pretexto para falar das tradições gastronómicas desses locais - do queijo da Córsega às batatas fritas belgas, dos caroços de azeitonas dos espartanos à cerveja morna dos bretões.

Javalis, claro, muitos, sempre. Mas nem só de javalis se faz a história da comida nas aventuras de Astérix, Obélix e dos outros irredutíveis gauleses de uma pequena aldeia da Gália que resiste, ainda e sempre, à ocupação romana. Quando viajam pelo mundo, os dois heróis têm vários choques culturais - e, quer sejam positivos ou negativos - muitos deles têm a ver com a comida.

Obélix tem um apetite inesgotável mas é muito pouco imaginativo quando se trata de pensar no menu: se puder comer apenas javalis assados, que caça nos bosques em redor da aldeia, fica satisfeito. O problema é que nem todo o mundo é tão entusiasta em relação a esta iguaria. É um choque, por exemplo em A Odisseia de Astérix, perceber que em Jerusalém não se come carne de porco, como lhe explica Isaías, o judeu que encontram no caminho, que tem para lhes oferecer apenas frutos secos e nem sequer sabe o que é um javali.

"Singularis porcus, género de mamífero ungulado, paquiderme, cujo tipo habita na Gália e é bom que se farta", explica-lhe Obélix. "Porco?!! Mas isso é absolutamente proibido pelas nossas leis! Aliás, mesmo as outras carnes só podem ser consumidas se forem puras!", responde-lhe Isaías. Mas, lost in translation, Obélix percebe "duras" e conclui que "nesta terra são um bocado sovinas". No entanto, não perde o apetite e nessa mesma noite delicia-se com (pelo menos) dez carpas recheadas.

O peixe não é uma novidade para os gauleses (embora Obélix não costume comê-lo). Uma das personagens icónicas da aldeia é precisamente o peixeiro Ordemalfabétix, que tem como característica vender peixe muito pouco fresco. Este é, aliás, o ponto de partida de A Grande Travessia: o stock de peixe na aldeia está a acabar e Astérix surpreende-se por isso ser possível num sítio que fica a dois passos do mar.

"Estava à espera de uma remessa nova, mas os carros de bois que trazem o peixe de Lutécia estão em greve como forma de protesto contra o preço do feno", diz-lhe Ordemalfabétix. Astérix argumenta que basta ir buscar o peixe ao mar. "O mar? Que tem o mar a ver com o meu peixe?", responde-lhe o peixeiro, indignado. "Eu vendo peixe de Lutécia, sôr Astérix! Eu respeito o freguês! Abasteço-me nos melhores grossistas! Não vou desatar a vender peixe saído da água, sem garantia de qualidade!"

Outro choque cultural semelhante ao do Médio Oriente acontece em Astérix entre os Bretões, quando os dois amigos descobrem que aqueles que serão os britânicos do futuro param tudo às cinco da tarde para beber uma inexplicável água quente, às vezes com uma pinguinha de leite, servem cerveja morna e comem javali cozido com molho de hortelã - a ideia de que na Grã-Bretanha se come mal é confirmadíssima aqui, onde mesmo numa estalagem com o promissor nome de O Bem-disposto Javali este é servido com o incontornável molho de hortelã.

Curiosamente, onde os gauleses encontram as suas almas gémeas é Entre os Belgas. Estes gostam de comer e de beber tanto quanto os gauleses e, tal como estes, fazem grandes banquetes numa mesa em forma de U no centro da aldeia. Apesar de os dois autores de Astérix, René Goscinny e Albert Uderzo, serem franceses, neste caso tomam partido pelos belgas na eterna disputa sobre a origem da batata frita (que viria a ser conhecida no mundo anglo-saxónico como french fries).

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