Há poucos dias, a responsável de uma marca queixava-se de andar sempre em contraciclo. Na época em que se vendiam automóveis em Portugal a bom ritmo não tinha uma gama atraente. Agora, dispõe das melhores propostas de sempre, mas os portugueses não compram. Provavelmente, a Chevrolet lamentará o mesmo. Para além de uma gama variada, passou a propor recentemente um produto muito apreciado por cá - uma carrinha média -, que corre o risco de não ser tão popular quanto o seu potencial permite. E não será por culpa própria, mas apenas e só do clima económico.
Há quem opte por carrinhas por estas serem, muitas vezes, mais bonitas do que os carros que lhe deram origem. Ora, se o Cruze já tinha caído no goto dos portugueses, o principal estava feito. No restante, a secção traseira, a Chevrolet não arriscou, optou por linhas clássicas e o conjunto resulta equilibrado e agradável ao olhar.
Por dentro, há coisas que explicam como é que a Chevrolet consegue ter um dos melhores - se não o melhor -, preçário adaptado ao mercado português. No tablier não há superfícies moles, como é cânone no segmento, os plásticos são todos rijos e os pilares do pára-brisas (A) são forrados a plástico e não a tecido como em alguns rivais. Em vez desses revestimentos moles, a Chevrolet colocou tecido em algumas zonas. Já o computador de bordo tem um grafismo tão básico que faz lembrar os jogos dos computadores ZX Spectrum. Mas nada disto impediu a Chevrolet de obter um interior agradável ao olhar. Já o computador inclui funções pouco comuns como a tensão da bateria ou o registo dos últimos consumos por períodos de 5 km.
O motor 1.7 turbodiesel já tem um longo historial, com vários níveis de potências e evoluções tecnológicas, ao serviço da General Motors. Mas a sua aplicação na Cruze é, sem dúvida, a melhor de que temos memória. Desde logo por ter uma resposta correcta para esta carrinha, adequada ao transporte de uma família e respectiva bagageira. Além disso, está bem insonorizado e funciona com suavidade.
No entanto, evidencia alguma tendência para ir abaixo nos arranques. Outro aspecto menos agradável foi a média conseguida neste teste: cerca de 7 litros. Mas tendo em conta que o mesmo foi realizado durante os primeiros 700 km da vida desta unidade, por certo que haverá margem de progressão. Até porque a Chevrolet já está em sintonia com as actuais preocupações de baixar consumos e emissões, dotando a Cruze de indicação da mudança mais correcta a engrenar e de Start&Stop (desliga o motor durante as paragens e volta a ligar no momento de arrancar).
Na generalidade, esta carrinha Cruze é agradável de conduzir. Quando se exagera em curva, a frente tende a alargar a trajectória, mesmo em piso seco. Se a aceleração for ainda mais pronunciada, é possível fazer escorregar um pouco a traseira. Reacções que não se verificam em condução normal e não chegam a colocar o condutor em apuros, uma vez que as ajudas eléctrónicas estão lá para evitar que a diversão se transforme em susto.
Em curvas pronunciadas, a carroçaria tem tendência para adornar e, em auto-estrada, por exemplo, notam-se algumas oscilações desta sobre as rodas. Não sendo nada de preocupante para um veículo familiar, não se coaduna com uma marca que exibe um orgulhoso autocolante no vidro traseiro a lembrar que foi campeã de construtores por duas vezes (2010 e 2011) no Mundial de Carros de Turismo.