Fugas - Viagens

Luís Maio

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Valais - A Suíça chique e selvagem

A criação do parque natural coincidiu com a abertura da primeira e única estrada até ao vale de Diablerets, uma estreita língua de asfalto que serpenteia sempre à beira do precipício, na maior parte do percurso sem espaço para mais de uma viatura. Só está aberta de Maio a Novembro e, para além das vertigens e emoções fortes do traçado, dá acesso a uma rede de itinerários pedonais que sulcam floresta e montanha, eventualmente passando pelo lago. É uma paisagem esplêndida de pinheiros colossais, alguns dos quais com mais de 500 anos de idade, emoldurados por encostas atapetadas de flora alpina, barrancos agrestes e picos nevados, onde se pode avistar uma variedade de animais selvagens, incluindo cabras de montanha, veados, marmotas, víboras e águias-reais. Aos pés do lago há meia dúzia de "chalets" pluricentenários, reconvertidos em alojamentos para mochileiros. É um lugar isolado, mágico e selvagem, os Alpes suíços no seu máximo esplendor.

Verde aos degraus

O Valais constitui um território claramente estratificado. Os glaciares e os picos nevados nas alturas dão lugar a lagos, florestas e prados nos altos planaltos. São tradicionalmente povoados por vacas leiteiras, mas a verdade é que já quase ninguém as cria por estas paragens. As que se avistam nas alturas estão de férias, que é como quem diz, são transplantadas das planícies para aproveitar as pastagens durante os meses de Verão. Nos degraus inferiores, ou mais precisamente dos mil metros para baixo, encontram-se as manchas agrícolas, correspondendo a vinhedos (um pouco mais acima), hortas e pomares (um pouco mais abaixo).

À vinha é a cultura privilegiada, traduzindo-se em 5200 hectares de área plantada, recortada em 120 mil talhões por 23 mil produtores de vinho. O Valais é, na verdade, a principal região vitivinícola do país e um terço de todos os vinhos engarrafados na Suíça são originários deste cantão. Um investimento que faz todo o sentido, quando o Valais beneficia do maior número de dias de sol (2000 mil horas por ano) e do menor dias de chuva (média de 570 mm de precipitação ao ano) do país. As melhores vinhas estão nas províncias de Leuk e Sion, na margem direita do Rhône, ou seja, viradas a sul, e organizadas em terraços ou socalcos esculpidos em pedra calcária todo um conjunto de factores que se conjugam para favorecer a produção de vinhos de qualidade (sobretudo de brancos).

As vinhas e mais em geral a paisagem agrícola do Valais são marcadas pelas "bisses", canais de irrigação em tudo semelhantes às levadas da Madeira. São testemunhos de outra época em que o aproveitamento da água escorrendo dos glaciares era o único remédio para a secura reinante do vale. Há notícia da sua existência pelo menos desde o século XIII, atingindo uma extensão de 1800 quilómetros durante o pico da criação de gado, em meados do século XX. Depois vieram as barragens e o Valais tem algumas das mais altas do mundo, que constituem atracções singulares de pleno direito (Emosson, Mauvoisin, Dixence) , enquanto as "bisses" se tornavam obsoletas e eram votadas ao abandono. Hoje há umas quantas recuperadas para a agricultura, mas muitas mais têm sido restauradas para servirem de roteiros de caminhada, precisamente como na Madeira.

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