Fugas - Viagens

Luís Maio

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Valais - A Suíça chique e selvagem

Desde o fim do conflito as vias "ferratas" das Dolomitas passaram a ser adoptadas por guias locais, para conduzirem turistas a enclaves de outro modo inacessíveis ou quase. Mais recentemente, toda a rede italiana foi modernizada e ampliada, de modo a seduzir a crescente clientela dos desportos radicais. A operação revelou-se tão lucrativa que não demorou a ser duplicada noutras latitudes dos Alpes e um pouco por todo lado onde se praticam desportos de montanha. Chegou inclusive aos espaços fechados, como o centro comercial de Singapura, que dispõe de uma via "ferrata" com uma altura de oito andares.

As vias "ferratas" só surgiram nos Alpes Suíços nos anos 90. Mas estão a multiplicar-se em grande ritmo, prevendo-se que das actuais 40 em uso no país se passe em breve para a casa da centena. A justificação é simples: as vias "ferratas" permitem aos não alpinistas também chamados de aventureiros de fim-desemana chegar onde chegam os alpinistas, sem o treino e a experiência, mas com tanta ou mais segurança. O que poucos destes aventureiros amadores sabem, ou querem saber, é que as vias "ferratas" podem ser mais traiçoeiras e produzirem danos físicos maiores que o alpinismo clássico. O emprego de um cabo fixo de aço permite que o comprimento das cordas seja maior que na escalada tradicional, de tal forma que na eventualidade de uma queda esta pode ser mais violenta, sobretudo se houver choque com os adereços metálicos do trilho.

Uma vez que o risco não é levado muito a sério, as vias "ferratas" continuam em franca expansão nos Alpes e noutros destinos de montanha. É certamente uma boa notícia para o sector turístico, mas não para os alpinistas, nem para os amigos do ambiente. Os alpinistas acusam a invasão de espaços que antes eram só deles e, nomeadamente em Inglaterra, estão em guerra aberta com os amadores, reivindicando que lhes sejam vedados os santuários de montanha. Verdade seja dita, enquanto o alpinismo se guia pela ética do "Tira só fotos, deixa apenas pegadas", as vias "ferratas" decoram as montanhas de artefactos metálicos e inestéticos. A sua popularidade está certamente a pressionar a tranquilidade da vida selvagem nas alturas. Haverá, portanto, que travar a multiplicação gratuita e promover a integração sustentável das vias "ferratas" nos respectivos ecossistemas. Porque elas são, de facto, um passaporte perfeito para tornar os encantos da montanha acessíveis a quase todos.

(A única ferrata já instalada em Portugal encontra-se no Parque Aventura de Póvoa do Lanhoso.)

Como ir

Há comboios frequentes entre Sion-Sierre e Basileia, Berna, aeroporto de Genebra, Lausana e aeroporto de Zurique, bem como ligações ferroviárias directas com cidades estrangeiras como Bruxelas, Paris e Milão. Mais informações pelo telefone + 41 (0) 900300300, ou no site www.rail.ch. Sion tem também um pequeno aeroporto, sobretudo usado por charters e voos privados.

Onde ficar

As grandes estâncias de neve dispõem de hotéis para todos os gostos e bolsas, mas quem escolhe o Valais sobretudo pelos postais de natureza e paraísos rurais tem também muito por onde escolher. Ficam algumas sugestões.

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