Quando os primeiros negócios de comida de rua começavam, ainda timidamente, a dar os primeiros passos em Lisboa, Isabel Tavares teve a ideia de lançar um projecto de street food no Norte. Foi no Porto que nasceu, em 2012, o Comida de Rua, com veículos transformados e adaptados pelo Street Food Mobile, do arquitecto italiano Andrea Carletti, e uma série de “sandes com talento português, criadas pelo chef Elísio Bernardes e pela cozinheira Mi”: frango grelhado com cogumelos, queijo da Ilha e rúcula em pão de sementes de sésamo; vitela assada com queijo de cabra e compota de cebola; ou a vegetariana, entre outras propostas que entretanto foram surgindo (em Lisboa há uma oferta de três variedades, no Porto de oito, porque existe uma cozinha de apoio no Mercado de Matosinhos).
Hoje, Isabel — que criou este novo negócio quando, aos 40 anos, ficou desempregada — é já uma veterana no universo da street food em Portugal. E a experiência tem-lhe ensinado muito. Tornou-se mais conhecida depois da passagem pelo programa televisivo Shark Tank para captar investimento que lhe permitisse aumentar o negócio — actualmente tem já três motos em Lisboa e duas no Porto. “Neste momento estamos num ponto de muito trabalho e de desbravar o mercado em Lisboa”, explica, numa conversa telefónica. “Apesar de termos nascido no Porto, percebemos que Lisboa tem um potencial enorme.”
São dois mercados “incomparáveis”. O Porto “é muito mais pequeno e familiar, a dinâmica das pessoas é muito mais em casa”, enquanto Lisboa “tem outra dimensão e um ritmo de vida diferente”. Além disso, “a Câmara do Porto é muito pouco aberta a este tipo de conceito” e até agora o Comida de Rua não obteve uma licença para estar efectivamente na rua (em Lisboa vai em breve ter dois pontos de venda fixos, um junto à saída do metro de Sete Rios e o outro em Entrecampos).
“Fazemos três anos e estamos sempre a aprender e a afinar as velas porque o vento está sempre a virar”, diz. “Neste momento estamos a assistir a um fenómeno em que cada vez que levantamos uma pedra surge uma moto.” Acredita que vai haver uma selecção — os próprios festivais de street food “são um conceito que se esgota” — e que vão ficar os melhores. “A street food vai passar a ser o que é noutros países: algo que faz parte da vida das pessoas mas não nesta quantidade.”
Focaccia in Giro
Enrico Postiglioni e Angélica Padua
www.focacciaingiro.com
O Focaccia in Giro é um exemplo de um projecto de comida que começou na rua, teve sucesso, e entretanto, embora mantendo-se na rua, encontrou também um espaço próprio dentro de portas. Tudo começou com o triciclo Clementina, uma Ape Piaggio adaptada com materiais ecológicos e que ganhou até um “cabelo” em forma de horta de ervas aromáticas.
A ideia surgiu da parceria entre a brasileira Angélica Padua e o italiano Enrico Postiglione, ambos a viver em Portugal há 12, 13 anos. Nenhum dos dois tinha experiência de restauração mas Enrico sabia fazer focaccias, conhecia a “receita da avó Giovanna” e estava interessado em trabalhar com produtos portugueses e pequenos produtores.