Por aqui, espera-se um Fevereiro tão bom ou melhor. Contudo, estes dias de Janeiro vieram estragar alguns planos — os nossos, claro, e os dos organizadores da “Salsa en la Montaña”, o evento que está a deixar todos entusiasmados, ainda que o tempo tenha trazido contrariedades. Começou como “Salsa en la Playa”, em La Rochelle, em 2003, até que alguns membros da organização (a associação Tormenta Latina) que fazem esqui decidiram misturar as duas coisas, “porque são tão diferentes”, contam-nos. Em 2010 fizeram a primeira Salsa en la Montaña en Saint-Lary e desde então o sucesso é em crescendo. Para este fim-de-semana (que começou na quinta-feira) estava programada até dança com esquis, lá em cima, e aulas ao ar livre para iniciantes, cá em baixo — estava porque já sabemos que não vai acontecer, será tudo em local coberto. Mas certa é a folie folle — espera-se.
O almoço no Isard Café Central faz-se em ambiente contemporâneo, entre comida regional e internacional. Entre peixe do dia, carpaccio, pauvé saumon, magret du canard entier tranche, medaillons de veau, tarte de boeuf, escolhemos uma pasta, mais leve.
E depois do almoço, mais experiência gastronómica: desta feita vamos provar um ícone doce desta parte dos Pirenéus. Le Gâteau à la Broche, qualquer coisa como “bolo no espeto”, é indispensável em qualquer lar que se preze e alguns ainda o fazem em casa — embora já quase nunca da maneira tradicional, no fogo, mas em fornos eléctricos. Ancizan é agora o nosso destino e a Histoire de Gâteaux a nossa paragem. É aqui que, mais uma vez, vamos aos bastidores da loja para entrar em ambiente extra-quente e observar como se formam aqueles bolos, que os caprichos do calor fazem ter aspecto de pinheiros de Natal, nunca iguais, de cores que vão do amarelo ao castanho conforme a cozedura. Os ingredientes são simples: ovos, manteiga, açúcar, farinha, baunilha natural e rum formam a massa que vai sendo vertida sobre uma espécie de espeto revestido de “almofadas” de papel vegetal que gira em frente ao fogo alimentado por lenha.
Depois do fogo, o regresso a Saint-Lary é uma incursão aquática. A vila é conhecida pelas suas termas e no Sensoria Thermalisme & Spa temos um cheirinho delas. A nossa entrada é para o Sensoria Rio, uma piscina que é como uma gruta com janelas para as montanhas, onde se procura simular as “sensações do canyoning”. Imaginamos como será relaxante estar ali depois de um dia intenso de esqui — nós, sem termos tido esqui, passamos por géiseres e jactos de massagens, cascatas com mais ou menos pressão, jacuzzis virados à paisagem; entramos na sauna e mergulhamos em água gelada e não saímos sem um pouco de banho turco.
Pois, não andamos longe da comida e da bebida — já nos tinham prevenido, claro — e esta noite temos restaurante temático, a Cidrerie d’Ancizan, que faz as vezes de museu da cidra. Curioso que a cidra seja bebida típica nestas paragens onde não vimos nenhuma macieira – Christian confirma: as maçãs vêm do País Basco, francês e espanhol. Os enormes barris estão encostados a uma das paredes do enorme espaço rústico, com mezzanines onde se distinguem figuras do museu — cada um serve-se à sua vontade, com a técnica possível: a ideia é abrir o barril, deixar a cidra cair no copo que vem debaixo até cima (é preciso briser, diz uma placa).