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Curitiba, a cidade exemplar

Por Andreia Marques Pereira

Pode ter passado muito tempo na sombra de São Paulo, mas conseguiu emancipar-se e a reputação de Curitiba é global: paradigma do urbanismo, amante da cultura e militantemente verde — ou não fosse capital do Paraná, o estado que alberga uma das maravilhas da natureza, as Cataratas do Iguaçu. É também uma cidade onde cabe todo o mundo e daí nasce o seu charme e a sua força numa história que tem tido sempre os olhos no futuro.

Chega o frio e em Curitiba anseia-se por que ele traga a neve, “nem que seja por uns minutinhos”. Pelo menos a cidade ligada ao turismo, aquela que sabe que a sua mera sugestão pode ser garantia de hordas de visitantes vindos do Norte em busca de um sabor a Inverno-Inverno, não Inverno de chinelo no pé.

Nós chegamos com o Outono em velocidade cruzeiro, friozinho q.b. — o suficiente para as lareiras de restaurantes e bares estarem acesas e para o quentão, a versão local do vinho quente, saber a conforto. Ironias da geografia: agora que nos preparamos para o nosso Outono, Curitiba está prestes a receber a Primavera que se anuncia vestindo os ipês de flores amarelas e acabando com a geada que, essa sim, é presença constante nos cenários invernosos de uma cidade de um milhão e 800 mil habitantes, paradigma do urbanismo, amante da cultura e militantemente verde — sabemo-lo antes de chegarmos: a sua reputação precede-a.

Se calhar, às vezes, um nome marca o destino. No caso de Curitiba — “curi” é pinhão, “tiba” muito, na língua tupi-guarani, dos habitantes pré-Curitiba, portanto — não é literal, mas a intenção está lá. As araucárias, ou pinheiros-do-Paraná, continuam a ser símbolos destas paragens do Brasil sulista, agora como espécie protegida tal a devastação ao longo dos tempos. No entanto, há algo de herança dessa pré-história de Curitiba na Curitiba do presente e na que se projecta no futuro (e não é à toa que falamos do futuro, já que esta cidade sempre teve os seus olhos postos aí). Traduzindo, Curitiba tem 33 parques e bosques: são motivo de orgulho indisfarçável.

Praias verdes e autocarros-metro

Diz-se mesmo que os parques são a praia de Curitiba, situada num planalto a 934 metros metros de altitude. A manhã está cinzenta, mas o Jardim Botânico está pintalgado de vultos, de grupos. Há quem corra militantemente, há quem passeie descontraidamente, há quem chegue em excursões — e no meio de tudo isto, uma aula gigante de ioga num relvado, com vista para o pavilhão de ferro (pintado de branco), ao estilo do Palácio de Cristal de Londres, que no interior alberga uma estufa e é o topo de um jardim formal.

Estamos num oásis, os prédios são as nossas dunas de areia, mais ou menos distantes, dependendo de onde estamos: olhamos os imensos relvados, os bosquetes e, na distância, vemos o skyline coberto pela bruma matinal; ou podemos vê-lo a irromper por detrás da cintura arbórea (40% da área do parque é constituída por Mata Atlântica) tão perto mas noutra dimensão. As araucárias são, claro, incontornáveis entre a flora e a sua silhueta contra os arranha-céus, por vezes como um menorah quase perfeito, são imagens compulsivas para fotógrafos.

Um oásis entre as dezenas de parques de Curitiba: preservação e promoção do contacto com a natureza, convívio, chamariz turístico. É tudo isso, são tudo isso e são também uma notável opção de planeamento urbano, tendo sido criados como sistema de escoamento de águas — os lagos não são apenas estéticos, são uma forma de controlar possíveis enchentes. “Em vez de centrais de drenagem, fizeram grandes lagos com parques em redor. São mais baratos e temos, ao mesmo tempo, saneamento e área de verde de lazer, mais do dobro do recomendado pela OMS”, explica Cesar Rozalinski Kuczkowiski, o nosso guia.

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