Fugas - Viagens

  • Diogo Baptista
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Coimbra de A-a-Z

Às vezes não olhamos para cima, mas no caso da rua Ferreira Borges podemos deparar-nos com edifícios especialmente belos e com montras inesperadas em primeiros andares: um Darth Vader com mão de rato Mickey é chamariz suficiente para a loja Gang of Four (loja de roupa com marcas pouco usuais). Na Praça do Comércio, que já levou o nome de Praça Velha, já só há a Feira das Velharias e Antiguidades, uma vez por mês, mas temos esplanadas, algum comércio e a igreja românica de São Tiago junto à barroca de São Bartolomeu – à noite, a iluminação feérica dá-lhe um ar saído doutros tempos. Assim como às ruelas e becos que aqui na Baixa se confundem num dédalo com um charme único.

Na Rua da Sofia, a monumentalidade é mais visível, pelos colégios universitários que aqui se localizavam (o berço da universidade): os grandes edifícios de pedra branca de um lado da rua convivem com o comércio do outro lado.

É através de um cartaz que temos o primeiro contacto com a Cria’ctividade – Integração Alternativa à Praxe, no topo das Escadas Monumentais, enquanto estudantes rodeiam a estátua de D. Dinis com odes à bebida e estas na mão. Para esta noite anuncia-se um concerto no Jardim da Sereia e uma festa na Real República Rápo-Táxo. Depois de no Tropical, café de gerações de estudante, voltarmos a ouvir falar da Cria’ctividade (a “Rita da Bota-Abaixo” distribui flyers, um ano depois de, caloira, ter recorrido ao grupo quando a praxe não lhe correu bem. “Pensei ‘fiz asneira, não vou ter amigos’”) ver-nos-emos noite bem cerrada na República Rápo-Táxo, mesmo ao lado da dos Fantasmas.

Bruno Garrido e Mário Carvalho vendem senhas (finos a 0,80€) e esperamos que eles expliquem o conceito que nasceu na República dos Kágados. A ideia foi criar uma plataforma alternativa à praxe dita tradicional e para tal juntaram-se seis repúblicas, secções e organismos autónomos da universidade. “É um grupo informal, sem hierarquias e submissão. Quem participa são voluntários, com motivações diversas e uma motivação comum: não se reveem no modelo de praxe.” Esta Cria’ctividade dura um mês e tem programação ecléctica: concertos, workshops, jogos em rede (“lan parties”), torneios de futebol, jantares em casas, festas. Na semana de inscrições tiveram várias bancas a prestar auxílio nas matrículas. “Até pais demonstraram interesse” e a mãe de uma estudante que desmaiou no primeiro dia de praxe pediu-lhes ajuda. E muitos estudantes vêm esclarecer dúvidas juntos dos membros do Cria’ctividade: “sinal de que fazemos bem as coisas”.

Foi a 22 de Junho de 2013 que a Universidade de Coimbra – Alta e Sofia foi inscrita na lista do Património Mundial da Unesco por oferecer um exemplo maior da integração de uma cidade universitária numa tipologia urbana específica, pela manutenção de tradições culturais e cerimoniais ao longo dos séculos e pelo património histórico exemplar. Em Coimbra, a distinção da UNESCO foi bem-vinda, mas agora algumas vozes se levantam contra a massificação do turismo que trouxe – e que este Verão se sentiu ainda mais, dizem-nos – cujas consequências ainda estão por apurar. Há quem fale da “gentrificação” que se começa a sentir, “qualquer apartamento é para turistas, qualquer loja é gourmet [com as respectivas inflações dos preços]”, queixam-se Bruno Garrido e Mário Carvalho; há quem refira, como Natasha Soares, que “se continua a privilegiar a Alta e a Baixa” deixando o resto da cidade à margem. Bruno e Mário falam ainda do risco de Coimbra “se tornar uma Disney”, porque “o turismo tem consequências”.

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