O “outro” Penedo da Saudade também tem canção, “Do Choupal até à Lapa”. A lapa é a dos Esteios, território do Romantismo, na margem esquerda do Mondego – por detrás dos portões da Brigada Fiscal da GNR, que agora ocupam a Quinta das Canas. Também aqui à beira-Mondego vinham estudantes, boémios, poetas em busca de inspiração neste recanto também em patamares e onde não faltam placas a assinalar várias passagens (incluindo a do imperador do Brasil, D. Pedro II). As visitas são livres; a vista de Coimbra e do rio segredo bem escondido.
Da Baixa à Alta de Coimbra, do Arco da Almedina ao largo da Sé Velha são “só” umas escadarias a subir. A inclinação da colina é tal que a rua ganhou esse nome incontornável na geografia da cidade e central para qualquer visitante. A partir deste eixo central, saem ruelas que mergulham entre casario antigo, em alguns casos em processo de renovação, mas aqui, nesta passarela rasgada e sustida em vários níveis – diríamos fôlegos – a recuperação já vai adiantada, pintando de cores brilhantes, ora fortes ora suaves, os edifícios. Restaurantes, tascas modernas (uma anunciando-se até como “ginja point”) com petiscos à fartura e respectivas esplanadas, lojas gourmet, de artesanato, de souvenirs, de roupa, hostels – isto no primeiro segmento, que termina com o mítico bar Quebra, que dos seus dois andares dá jazz a toda a zona e da esplanada oferece boa vista ao vaivém de turistas que param para fotos junto da estátua da tricana de Coimbra. Está num local apropriado: é personagem de vários fados coimbrões e está entre duas casas onde o fado, o Fado ao Alto e o Quebra o Galho. No segundo lanço do Quebra-Costas, que começa ao lado do bar Quebra, mais estreito, as tascas são tradicionais e os andaimes não tão constantes. “Há dois anos, dois terços dos negócios no Quebra-Costas não existiam”, nota Mário Carvalho, arquitecto, voluntário do Cria’ctividade, “agora é só hostels, lojas gourmet, restaurantes que afastam as pessoas daqui de lá. Ainda não houve reflexão sobre as consequências da classificação”.
É a padroeira da cidade e mandou construir o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, um dos ex-libris de Coimbra. Depois da morte de D. Dinis mudou-se definitivamente para aqui passando a residir num paço anexo e acompanhou a construção desta obra singular, distinta de todas as outras góticas pela sua tipologia que muitos atribuem ao facto de ter sido projectada também para receber o túmulo da sua mecenas. Situado, na altura, nos arrabaldes da cidade, o mosteiro sofreu desde sempre com as inundações do Mondego. Por isso, no século XVII passou a “a-Velha” quando foi construído um novo, mais acima. O de Santa Clara-a-Velha continuou o seu persistente afundamento nas águas do Mondego até que já nos anos de 1990 começaram as obras definitivas para recuperar o conjunto arquitectónico, resgatando as ruínas do antigo claustro. Hoje, com um centro interpretativo e esplanada, recuperou parte do seu esplendor podendo ser visto na sua totalidade – há passadiços de madeira que permitem uma visão global também do seu exterior. A Rainha Santa Isabel, por ironia do destino acabou por morrer em Estremoz onde se deslocou para, uma vez mais, evitar uma guerra familiar (entre o filho, rei de Portugal, e o neto, rei de Castela), mas foi transportada para Coimbra seguindo os seus desejos expressos. Sepultada no “seu” mosteiro, foi transferida para Santa Clara-a-Nova.