Não se pode ainda hoje falar de Coimbra sem lembrar Pedro e Inês e a Quinta das Lágrimas, hoje hotel de charme, é o palco mais palpável desses amores. Foi coutada de reis e nobres e desses tempos ficou-lhe a lenda pois foi aqui que viveram o (proibido) idílio romântico e foi aqui que Inês encontrou a morte. Nos jardins é possível tentar transportarmo-nos para aquele século XIV feito de amor e sangue. E é de sangue que se faz um dos mitos deste local, na chamada Fonte das Lágrimas (pois das lágrimas de Inês terá surgido) cujas algas avermelhadas são tradicionalmente associadas ao sangue de Inês – a sua cor escura já não permite essas liberdades poéticas. De qualquer forma, foi o suficiente para comover o duque de Wellington, que durante a sua estadia mandou colocar uma placa com uma das estrofes de “Os Lusíadas”. A outra fonte, a dos Amores, enquadrada por ruínas medievais – um pano de parede com janela e porta ogivadas – prossegue por um estreito canal e é conhecido por “cano dos amores” pois por ali iriam os barquinhos com as cartas de Pedro para Inês na altura em que esta vivia no Paço da Rainha Santa (junto ao convento de Santa Clara). Mitos ou realidade, o certo é que as árvores da mata junto da Fonte dos Amores estão cobertas de “laços de amor”, juras de enamorados.
“Oh Coimbra do Mondego...”. Mais um fado, sim, e quantos falam do rio que atravessa a cidade? Desde Camões, gerações de poetas se inspiraram no Mondego; agora chegou a vez de os conimbricenses também se inspirarem. O restaurante Baga não resistiu e ocupou o barco O Basófias, um clássico do turismo no Mondego, com o Love Sushi à horas das refeições. Chegamos ao Parque Dr. Manuel Braga, onde ancora, com o restaurante a ser montado para poucas horas depois ser desmontado, na altura em que o barco volta a navegar. Começou a funcionar há um ano e a opção foi pela vista e tranquilidade que se usufrui no barco, conta Sérgio Santos. A vista é para a outra margem, uma das entradas do Parque Verde do Mondego, que se estende pelas duas margens – desse lado, o esquerdo, surgiu a grande novidade (e sensação) do rio Mondego. Na zona dos desportos náuticos agora também se pratica paddle surf. Nós vimos mergulhos desde a ponte Pedro e Inês, caiaque-polo mas do paddle surf hoje só o meeting point à laia de lounge do Coimbra Stand Up Paddle. Luís Brito faz as honras da casa, que é de aluguer de material e em breve será escola.
Na outra margem, em frente, sobressaem os restaurantes e bares “pendurados” no rio. É a outra metade do Parque do Mondego, que inclui o Pavilhão Centro de Portugal, que Siza Vieira e Souto Moura projectaram para a Expo de Hannover, e agora é a sede da Orquestra Clássica do Centro.
Hoje o Salão Brazil está transformado numa espécie de salão literário – vários poetas ditos por vozes portuguesas e brasileiras. Mas essa é a primeira parte da noite, a segunda será ocupada por electrónica experimental. Poucas noite são iguais no Salão Brazil e há noites que nem existem. “Abrimos três ou quatro vezes por semana mas sujeito a actividade cultural”, explica José Miguel Pereira, presidente da Jazz ao Centro, a entidade gestora e programadora do Salão Brazil – que foi salão de bilhar e manteve o nome e as filas de candeeiros, agora a iluminar mesas, hoje cheias. Muitos concertos (os músicos ficam muitas vezes hospedados no andar superior, onde já funcionou um pensão, “quando a Baixa tinha a energia que agora não tem” – há 50 anos esclarece José Miguel) – apesar do jazz ser o leit motiv da associação gerente, não há preconceitos – e até noites de quizzes fazem a programação ecléctica.