A viagem não dura mais de três minutos e Greta não tem muito tempo a perder. É polaca, vive no Porto desde Maio e, de facto, não é turista. Vai trabalhar para Gaia, na outra margem, tem uma assinatura Andante e usa o funicular como transporte público. Alguém lhe disse que esta era a forma mais prática de chegar à parte baixa da cidade e que, com o funicular a parar mesmo aos pés da ponte, chegar à outra margem do Douro era uma brincadeira. “Faço isto todos os dias para ir trabalhar e gosto muito. É uma vista muito bonita a caminho do emprego”, diz, sorridente, em português, antes de se afastar, apressada, pela rua fora.
O funicular não vai tardar muito a fazer mais um trajecto. A cabine, com capacidade para 25 pessoas, anda pouco cheia nesta manhã de Outono. É provável que daqui a algumas horas já não seja bem assim, porque os turistas continuam a encher as ruas do Porto e o funicular é, sobretudo, procurado por turistas. Até porque, a menos que se tenha uma assinatura Andante, os preços para uma viagem de 281 metros e apenas três minutos têm sido classificados consistentemente como um exagero – 2,50 euros. E até os turistas se queixam.
Como Ronald Zellin, um alemão que ocupa um dos bancos do funicular quando ele inicia o trajecto da Rua de Gustavo Eiffel em direcção à Batalha. “É muito caro. Devia funcionar como transporte público e estar incluído no bilhete Andante”, diz, retirando o cartão de viagem azul do bolso da camisa. O preço não o deixa com um ar muito satisfeito e quase não repara na vista, ao contrário de Thomas Böhlan, que o acompanha, e que diz que quis fazer a viagem “pela vista e por causa da tecnologia”, enquanto vai deitando um olhar rápido em volta.
O Funicular dos Guindais actual foi inaugurado a 19 de Fevereiro de 2004, seguindo um projecto do arquitecto Adalberto Dias. Criado no âmbito da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, está instalado no mesmo local onde, entre 1891 e 1893, funcionou uma outra estrutura de transporte, projectada por Raul Mesnier, e abandonada depois de um acidente, a 5 de Junho de 1893, que danificou gravemente as composições, apesar de só ter causado ferimentos ligeiros nos ocupantes.
A nova versão, gerida pela Metro do Porto, vence o mesmo desnível de 61 metros, ligando a Batalha à Ribeira, o que, associado ao preço, torna o funicular apetecível sobretudo para turistas. A vista vale bem a pena, mas a viagem é tão curta que, se não for atento, corre o risco de a perder.
Os madrilenos Fernando Palencia e Soledad Gil, que chegaram esta manhã ao Porto, estão ansiosos por revisitar a cidade que viram pela última vez no final dos anos 1980. Fazem a viagem até à parte alta absorvendo claramente a vista. “Gostei muito da viagem, foi muito bom”, diz Soledad, no final, apesar de reconhecer que o bilhete “é caro, pelo tempo que dura”. Assim que deixam a composição com uma única cabine, tratam de procurar o próximo objectivo de viagem. “Queremos ir à livraria”, diz ela, referindo-se à Lello. Tinha pensado em apanhar um transporte, porque se há coisa de que se lembra do Porto é das subidas e descidas, vai dizendo, a rir. Mas quando lhe apontam a Torre dos Clérigos, ali do topo da Rua 31 de Janeiro, encolhe os ombros e diz que sempre dá para ir a pé. Fernando acompanha-a, com a máquina fotográfica pronta. Provavelmente, não voltam ao funicular. Patrícia Carvalho