Fugas - Viagens

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Leva-me até ao topo da colina

Actualmente, entre os três trepadores de colinas — o tom amarelo tradicional ofuscado por taggs e grafittis — o da Glória “é claramente o que transporta mais gente”, indica Martins Marques. Um milhão de pessoas por ano, “ligeiramente menos” do que o Elevador de Santa Justa. “Há muita gente ali da zona e outros que não são mas utilizam-no naquela vivência do Bairro Alto e dos bares, e depois temos também muitos turistas, principalmente a partir da Páscoa”, acrescenta. Já o ascensor da Bica “transportará à volta de umas 500 mil pessoas por ano” e o do Lavra, mais escondido e, por isso, pouco utilizado por passeantes, “uns 300 mil”.

“Os turistas passam aqui nos Restauradores e vêem logo o elevador porque chama muito a atenção”, conta um dos guarda-freios. Muitos aproveitam os minutos em que está estacionado junto à paragem para tirar fotografias e continuar caminho, outros aproximam-se para também ficarem na imagem. Primeiro esta família com um selfie stick, depois aquele grupo alegre de espanholas que não tarda a entrar num dos tuk tuk ali parados, já na Avenida da Liberdade. Mas a grande maioria acaba por subir no ascensor e as filas de turistas vão-se formando e desaparecendo ao ritmo do sobe e desce. Saskia e a mãe acabam de perder o último eléctrico, resguardam-se da chuva enquanto o outro não vem. “Vamos tentar ir, é um highlight turístico, é muito cool”, defende a holandesa.

Pouco depois, lá vamos novamente calçada acima, uma portuguesa entre pouco mais de 20 turistas. À janela do lado direito, vão surgindo os painéis da Galeria de Arte Urbana, que ali começou em 2008. As telas são alteradas com frequência e, desta vez, acompanha-nos na subida um trabalho inspirado num poema de José Régio. “Vem por aqui”, “Não sei por onde vou / Não sei para onde vou”, “Sei que não vou por aí”. As frases de Cântico Negro vão alternando com desenhos garridos.

È finito?”, pergunta um italiano aos amigos quando, cerca de três minutos depois, o trajecto chega ao fim. A subida, com uma curva ligeiramente acentuada no início, não deixa vislumbrar toda a trajectória e há quem chegue ao engano, acreditando ser um percurso maior, semelhante ao dos eléctricos. “Diga-me um passeio giro para fazer agora com chuva”, pede entretanto uma turista brasileira. “Tem ali o miradouro [de São Pedro de Alcântara] que é muito bonito e depois tem o Chiado e o Bairro Alto”, recomenda o guarda-freios. “Os turistas gostam muito disto, dizem que é parecido com o de São Francisco [nos Estados Unidos]”, contar-nos-à mais tarde o outro guarda-freios em serviço. “Alguns até nos convidam para ir depois com eles passear.”

As duas carruagens que fazem actualmente o percurso são de 1914, altura em que a linha foi electrificada. “Têm sofrido modificações ao longo dos anos, sobretudo ao nível das madeiras de revestimento, mas toda a parte mecânica é, de um modo geral, original”, refere Martins Marques. “Cada carro tem um motor, portanto é como se fossem eléctricos normais, mas depois estão interligados por um cabo, o que faz com que um possa fazer de contrapeso ao outro, não sendo necessária tanta potência ao nível dos motores, porque o peso do que desce ajuda o outro a subir.”

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