Fugas - Motores

Miguel Madeira

Lexus CT 200h Convenience: A tecnologia democratiza-se

Por Luís Francisco

Sem abandonar o estatuto premium, a Lexus alarga a sua oferta de propulsão híbrida a um modelo mais popular. O resultado é um carro de qualidade bem acima da média e com argumentos que vão muito para lá da mera preocupação ecológica.

Já havia o Toyota Prius, certamente o mais conhecido dos carros de propulsão híbrida. A combinação de um motor eléctrico com outro a gasolina também marcava presença nas berlinas de gama superior da Lexus, a divisão de luxo do construtor japonês. Faltava juntar estas duas ideias e assim surge o Lexus CT 200h: um veículo com a qualidade de construção e a distinção a que o nome "obriga", mas acessível a um público mais vasto. E dotado de indiscutíveis argumentos ecológicos.

A alquimia funcionou. Tudo aqui, desde o som agradável do fecho das portas à qualidade global dos interiores, do desenho exterior sem "loucuras" às qualidades mecânicas, "diz-nos" que este é um Lexus de pleno direito. E isto é conseguido à volta de um sistema de propulsão híbrido, que conjuga um motor a gasolina de 1,8 litros e 99cv com outro eléctrico, de 82cv. A potência final é de 136cv, mais do que suficiente para calar os que dizem que um carro ecologicamente competente não pode ser divertido.

Este pode, mas há que passar por um período de adaptação. Acontece que a direcção, os travões e o posto de condução precisam de algum tempo para se tornarem intuitivos. Demorará mais para alguns, mas algumas dezenas de quilómetros permitem, desde logo, desfazer algumas impressões iniciais, quase todas elas pouco abonatórias.

Os travões parecem pouco progressivos, até nos habituarmos ao curso do pedal e percebermos que, quando solicitados, estão realmente lá. A direcção, demasiado leve (e isto, claro, é uma opinião muito pessoal), complica o contacto com a estrada, rouba sensibilidade ao condutor. Mas, lá está, quando se "aperta" um pouco mais com o CT 200h em curva, percebemos que, afinal, é bastante incisiva e até se pode mostrar divertida.

Já o posto de condução justifica que se perca algum tempo de início, porque optar por uma regulação muito alta do banco rouba visibilidade para a frente (por causa do retrovisor central) e baixar demasiado o assento prejudica a visibilidade para os lados e para trás (os retrovisores laterais não são muito abrangentes). Em termos de ergonomia, a coisa não corre mal, embora se lamente a tentação de "pulverizar" os comandos um pouco por todo o tablier.

Mas é claro que todos os argumentos mecânicos serão irrelevantes se o motor não se mostrar à altura. Neste caso, os motores respondem bem ao desafio. Não é uma potência avassaladora, mas o facto de o propulsor eléctrico disponibilizar todo o seu binário logo de entrada possibilita reacções rápidas e garante boas prestações. Para quem se quiser aproximar dos consumos anunciados pela marca (4,1 litros/100 km), no entanto, há que recomendar moderação...

A caixa, automática de variação contínua, despacha o serviço sem grandes problemas, mas também sem brilhantismo por aí além. Garante suavidade em andamentos comedidos, é certo, mas o som de uma aceleração "infindável" sem que aos nossos ouvidos chegue o sinal de passagem de mudança pode tornar-se aflitivo. É como se engrenássemos a segunda numa caixa manual e entrássemos na auto-estrada de prego a fundo, sem nunca metermos a terceira...

E é também para evitar estas coisas que o carro se pode conduzir de três maneiras distintas - Eco, Normal e Sport. Basta que se seleccione o temperamento pretendido e teremos diferentes afinações da caixa e do pedal do acelerador. Na verdade, há ainda um quarto modo, o EV, completamente eléctrico, mas esse permite apenas deslocações curtas (não mais de 2 km) e a velocidades moderadas (abaixo dos 40/45 km/h).

Mas basta de falar do condutor. Este carro também é para a família e uma das agradáveis surpresas é constatar que o espaço a bordo surge bastante simpático, destacando-se o bom desempenho ao nível do espaço para os joelhos dos passageiros de trás. A bagageira, com um compartimento por baixo de um fundo falso, não impressiona mas também não passa vergonhas. Pena é que não haja pneu suplente. E que o desenho das portas traseiras (e da respectiva moldura) complique o acesso aos bancos. Ao nível do conforto, boas impressões até apanharmos mau piso, altura em que a suspensão claudica de forma evidente, tornando-se ruidosa e temperamental.

Contas feitas, a Lexus apresenta um produto único num segmento onde nenhum rival de pedigree tem qualquer proposta híbrida. Obrigado, portanto, a bater-se com os modelos de motorização diesel, o CT 200h exibe um preço francamente competitivo, mesmo que nos estiquemos um pouco na lista de extras. Na verdade, o Lexus custa praticamente o mesmo que o Prius. E é muito mais carro.

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