Era uma lacuna importante na gama actual da Triumph: a ausência de um modelo capaz de competir no segmento mais elitista das motos de grande turismo. É um nicho de mercado exigente, tecnologicamente muito avançado e onde as marcas colocam todo o seu saber, indo ao encontro de uma clientela madura, conservadora e que sabe o que quer. Com a Trophy 1200, a Triumph sabe que vai ser comparada com o que de melhor se faz, e preparou-se para isso.
Exteriormente é imponente, sem ser pesada. As linhas fluem e inserem-se dentro do que se espera, podendo-se até considerar compacta e elegante. É a que tem a maior superfície frontal e isso costuma ser sinónimo de protecção aerodinâmica, uma das características mais apreciadas no segmento.
O primeiro contacto não deixa de ser intimidante. Mas depressa mostra que foi estudada para ser usufruída em todos os ambientes. O banco não é alto e permite colocar os dois pés no chão simultaneamente, as mãos tombam com naturalidade nos comandos e o seu accionamento exige apenas a força de que estamos à espera de exercer. A sensação de qualidade geral é muito elevada, desde a pintura até ao toque e funcionamento dos periféricos, e é aqui que se encontram as dificuldades.
O painel de instrumentos é claro e legível mas são tantas as funcionalidades e os sistemas possíveis de personalizar que, num primeiro momento, procuramos apenas conhecer os fundamentais e deixamos os restantes para outra oportunidade. Assim que ligamos o motor ficamos a conhecer outros dos pontos fortes desta Trophy. O tricilíndrico de 1215cc é impressionante, revelando-se um portento de suavidade e energia. Levámo-lo ao extremo inferior, engrenando a sexta velocidade, tentando ver até que rotação é que desce e retoma sem hesitações, e conseguimos rodar abaixo das 2000rpm, recuperando como se tivesse transmissão automática. A subida de rotação é decidida e encorpada, mas seria mais confortável se fosse mais silencioso, já que é notório o ruído de funcionamento proveniente do seu interior.
Em ambiente citadino a suavidade do motor é complementada com a surpreendente ligeireza da ciclística, não tardando a que arrisquemos a serpentear pelo trânsito sempre que a oportunidade o justifica. A caixa de velocidades é precisa e suficientemente leve de accionar, não se tornando cansativa. Curiosamente, é neste meio que mais se faz sentir o ABS e o controlo de tracção, entrando em funcionamento de forma perceptível nas mudanças de piso e no empedrado. Em ambos os casos agradecemos a intervenção, sendo mais subtil em aceleração que na travagem.
Em estrada, entramos rapidamente em modo turístico, quase não trocando de velocidade e aproveitando o omnipresente binário assim que se ultrapassam as 2500rpm. A alta velocidade o conjunto oferece boa protecção, mostra-se estável e não obriga a estar em alerta total, sendo suficientemente ágil para lidar com as diferentes situações que vão surgindo. O vidro dianteiro regulável em altura permite personalizar a posição em função dos gostos individuais e isola o ambiente o suficiente para se ouvir o som proveniente do equipamento de áudio, se for essa a disposição.
Com um consumo médio a rondar os 6,5 l/100km, os 26 litros do depósito de combustível oferecem uma boa autonomia, sendo interessante também os 31 litros de capacidade de cada uma das malas laterais. Os mais de trezentos quilos do conjunto não se revelam delicados assim que paramos. O descanso lateral acciona-se instintivamente e o cavalete central está bem desenhado, não sendo difícil de utilizar. Esta Trophy, sobretudo nesta versão SE, revela-se assim uma excelente proposta, e não serão poucos a reequacionar as certezas estabelecidas na última década.
PORMENORES
Generosa
O espaço para arrumação é grande. Cada uma das malas laterais tem 31 litros de capacidade e na linha de acessórios originais encontra ainda um top case com 55 litros de capacidade. A qualidade do fecho e o ajuste da tampa garantem segurança e impermeabilização.
Evoluída
A suspensão dianteira está entregue a uma forquilha invertida WP, sendo nesta versão SE regulada electronicamente. O sistema ABS está permanentemente ligado, aproveitando o que de melhor os discos de 320 mm e as pinças Nissin de quatro pistões podem proporcionar.
Exigente
Tudo o que a Trophy SE tem possível de personalizar, e não é pouco, é feito a partir do painel de instruções e operacionalizado através de botões colocados no guiador. São muitas funções, talvez demasiadas, para uma geração de utilizadores que não teve telemóveis na adolescência...
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo: 4T, três cilindros em linha, refrigeração líquida
Distribuição: DOHC, 4 válvulas p/cilindro
Cilindrada: 1215cc
Diâmetro x curso: 85 x 71,4 mm
Potência declarada:132cv às 8.900rpm
Binário declarado: 120 Nm às 6.450rpm
Alimentação: Injecção electrónica
Arranque: Eléctrico
Embraiagem: Em banho de óleo
Caixa: Seis velocidades
Ciclística
Quadro: Dupla trave em alumínio
Suspensão dianteira: Forquilha invertida WP com 43mm de diâmetro com 130mm de curso
Suspensão traseira: Monoamortecedor WP com 120mm de curso
Travão dianteiro: Dois discos de 320mm com pinça Nissin de 4 pistões
Travão traseiro: Disco de 267mm com pinça Nissin de 2 pistões
Roda dianteira: 120/70-17’’
Roda traseira: 190/55-17’’
Peso e dimensões
Distância entre eixos: 1542mm
Altura do assento: 770 - 790mm
Capacidade do depósito: 26l
Peso em ordem de marcha: 301kg
Preço: 18.820 €