Fugas - Motores

Deixem-nos sonhar!

Por João Palma

A versão do série 4 Cabrio “envenenada” pela M, a divisão desportiva da BMW, não está ao alcance de todas as bolsas, mas também poucos podem possuir um quadro de Picasso, Miró ou Chagall e não é por isso que não apreciamos obras de arte.

O BMW M4 Cabrio é o mais potente dos série 4 Cabrio e tem as mesmas prestações, mecânica e motor que os M4 Coupé e M3 berlina (a única carroçaria que manteve a designação M3). Com uma silhueta similar à do M4 Coupé, tem também quatro lugares reais (embora nos dois traseiros o espaço não abunde), mas a capacidade da mala foi reduzida para alojar a capota rígida rebatível. A quinta geração deste descapotável tem um preço-base de 106.000€, mas o veículo que conduzimos, com extras, custa 139.626€.

Quem adquire um carro como este deseja-o bem equipado. Por isso, é lógico que não se importe de pagar 4050€ pela excelente caixa de transmissão de embraiagem dupla M com Drivelogic, 7550€ pelo eficientíssimo sistema de travagem M em cerâmica/carbono, 1965€ pelo sistema de iluminação adaptativa em LED, 2575€ pelo sistema de navegação Professional ou ainda 420€ pelo aquecimento das nucas dos bancos dianteiros. Mas pagar por coisas como o deflector de vento num descapotável, o rebatimento assimétrico de bancos, o pack de fumadores e outros itens que deveriam ser de série já custa mais a engolir. A diferença entre o preço-base do M4 Cabrio e o do veículo que conduzimos ascendeu a 33.626€ — o custo de um bom carro.

Esta é uma política comum às marcas premium: valendo-se do prestígio e da qualidade intrínseca dos seus produtos, com excepção da segurança (aí não brincam), quase tudo o resto é pago à parte. Seja como for, este é um carro de sonho que quem gosta de automóveis desejaria possuir.

O BMW M4 Cabrio é a mais lúdica das três versões desta “bomba” preparada pela M. A capota rígida rebatível, dividida em três segmentos, que se pode abrir ou fechar em 20s a uma velocidade até 18 km/h, reduz a capacidade da mala para uns escassos 220 litros com a capota rebatida ou 370 litros com a capota montada. Este M4 Cabrio pode ter um comportamento dúplice. A céu aberto, mesmo a baixas temperaturas, apela a um estilo de condução descontraído para desfrutar a paisagem e o conforto proporcionado pelas suas potencialidades como estradista. Com a capota levantada e isolamento irrepreensível das condições exteriores (só se notando o agradável rugido do potente motor), comporta-se como o coupé e quase que exige uma condução desportiva.

Há, porém, um perigo. A velocidade está limitada a 250 km/h, mas sente-se que o carro podia dar muito mais: mesmo só com o pé apoiado no acelerador o velocímetro marca facilmente 150 km/h. Assim, é preciso muito cuidado para não engordar os cofres do Estado.

A solução é procurar estradas sinuosas de montanha e descobrir que o M4 tem um comportamento brilhante e como que ensina a conduzir: com resposta muito directa e imediata ao acelerador e ao volante, possibilita desempenhos que não se julgariam ao alcance de um condutor comum. A somar a isto, o M4 Cabrio está também preparado para a pista, dispondo de Launch Control (arranque rápido desde parado), Smokey Burn Out (função que permite que as rodas patinem com o carro em movimento), Stability Clutch Control (correcção de sobreviragem) e Laptimer (tempo de volta).

É facílimo encontrar a posição de condução ideal e, sendo um superdesportivo, traz travão de mão e não travão de estacionamento eléctrico, o que, em conjugação com as patilhas de selecção de mudanças no volante, possibilita algumas “brincadeiras”. Tanto o M4 Cabrio como os outros dois membros da família trazem um propulsor a gasolina que tem por base o bloco de 2979cc de seis cilindros em linha também usado no série 3 normal. Mas as semelhanças acabam aqui e é como comparar um hambúrguer da McDonald’s a um bife de lombo: a M criou um motor quase novo que substitui o anterior 4.0 V8, sendo 11cv mais potente e acelerando dos 0 aos 100 km/h em menos 0,5s. Pela primeira vez, o propulsor dos M3 e M4 não é atmosférico, sendo dotado de dois turbocompressores. A refrigeração do motor foi melhorada e este foi trabalhado em diversas vertentes para lhe aumentar a capacidade de resposta mesmo em subidas mais íngremes, onde não há perda de potência. Acresce que o binário máximo de 550 Nm está praticamente sempre disponível, num amplo intervalo que vai das 1850 às 5500 rpm.

A direcção, totalmente nova, é eléctrica, com assistência variável dependendo dos modos de condução (Comfort, Sport e Sport+) tendo uma resposta superior à de uma direcção electro-hidráulica. A caixa automática M proporciona melhores performances e menores consumos que a manual (embora seja difícil baixar dos 11-12 l/100km).

A tracção é traseira, com o diferencial M de bloqueio electrónico e o eixo de transmissão reforçado com fibra de carbono em vez de metal. A fibra de carbono é também usada numa peça em U que reforça o compartimento do motor. As ligações da carroçaria ao chassis também foram reforçadas para garantir maior estabilidade e rigidez. E até os pneus foram especialmente concebidos para esta jóia tecnológica criada pela M: Michelin Pilot Super Sport 255/35 ZR19 92Y (frente) e 275/35 ZR19 100Y (atrás).

FICHA TÉCNICA*

Motor: 2979cc, 6 cil., 24 válv.

Combustível: Gasolina 95 ou 98 octanas

Potência: 431cv/ às 5500-7300 rpm

Binário: 550 Nm/às 1850-5500 rpm

Transmissão: Caixa automática de dupla embraiagem e 7 relações

Veloc. máxima: 250 km/h**

Aceleração 0 a 100 km/h: 4,4s

Consumo médio: 8,7 l/100km

Emissões de CO2: 203 g/km

Norma de emissões: Euro 6

Preço: 106.000€ (veículo ensaiado, 139.626€)

* Dados do construtor

** Velocidade limitada electronicamente

--%>