Fugas - Motores

O pequeno citadino faz furor também em modo eléctrico

Por Carla B. Ribeiro

As soluções eléctricas ainda desbravam caminho, com algumas marcas a apostarem mais neste caminho que outras. A Volkswagen entrou este ano na corrida, mas conseguiu mais que marcar posição, com o e-up a representar uma real solução eléctrica para a cidade.

As apostas dos construtores em veículos que recorram a energias diferentes das de combustão só ganharão relevo quando uma série de questões forem resolvidas — como a do custo da construção e consequente inflação nos preços dos modelos eléctricos. Ainda assim, até lá, ninguém quer ficar totalmente de fora da corrida e, mesmo não sendo um nicho no qual a conservadora Volkswagen aposte, a insígnia alemã não poderia deixar de marcar posição com a estreia no segmento.

Isso foi visível com o e-Golf, uma solução que parece mais fadada a entrar para a História da marca do que propriamente para revolucionar o mercado dos eléctricos. Mas com o e-up a conversa parece ser outra. Já com o modelo animado pelos convencionais blocos a combustão, o sucesso do pequeno citadino foi para lá das expectativas. E o mesmo poderá acontecer com a versão eléctrica que chegou ao mercado com o preço muito superior aos seus manos a gasolina, mas muito competitivo face aos seus concorrentes mais directos movidos a electricidade. O citadino vende-se desde os 26.505€.

Comece-se pelo pior: dar uma escapada de fim-de-semana só porque apetece deixa de ser viável com um carro cuja autonomia real é apenas ligeiramente superior a 100km — a autonomia avançada pela marca é de entre 120 e 160km, mas este último registo só se conseguirá em condições excepcionais. É que mesmo a apalpar asfalto durante os dias em que enfrentámos a cidade com este eléctrico, seleccionando o modo de condução Eco+, aproveitando toda e qualquer oportunidade para recuperar energia, não ligando o ar condicionado nos dias mais frios dos últimos anos (nem mesmo o aquecimento!), sem ouvir rádio e usando só as luzes obrigatórias, andámos sempre com mais energia gasta do que quilómetros percorridos. Por exemplo, quando marcava que tínhamos percorrido uns oito mil metros, o número de quilómetros que tinha desaparecido da autonomia já ia nos 12. E quando o conta-quilómetros marcava mais de 70km, a autonomia, que tinha arrancado com 140km, alertava-nos que nos restavam cerca de 40km para desfrutar da bateria.

Ainda assim, a designada range anxiety, expressão inglesa que define o receio do condutor de um veículo eléctrico de ficar parado na estrada sem autonomia nem forma de recarregar as baterias, é praticamente nula neste e-up — desde que, claro, se tenha por perto um posto de abastecimento, durante o dia ou durante a noite (a carga pode ser ainda feita numa tomada doméstica, demorando mais tempo, ou numa Wallbox, comercializada por cerca de 700€). Não serve para andar às voltas o dia inteiro, mas a função de meio de transporte para quem sai de manhã para trabalhar e volta para casa à noite, reservando o fim-de-semana para curtos passeios, é totalmente cumprida, sobretudo no caso das cidades portuguesas, em que a maioria dos que trabalham nelas vivem num raio até 25/30km. A verdade é que deixámos o carro a “dormir” num posto de abastecimento e circulámos nestes moldes durante três dias, pára-arranca matinal incluído, sem quaisquer receios de ter de encostar a meio caminho.

Depois há os desempenhos. Não sendo um ás na aceleração, o e-up é desembaraçado, acelerando dos 0 aos 60 km/h em apenas oito segundos, o que vai deixando para trás nos semáforos verdadeiros portentos das estradas. Sobretudo se em subida, tirando proveito da sua veia eléctrica.

As suas dimensões, aliadas à sua grande agilidade, também fazem com que se sinta peixe na água em trânsito urbano. E na altura de estacionar, com um comprimento de 3,54m, não é difícil de encontrar um lugar à sua medida. As parcas dimensões exteriores não são evidentes a quem se senta nos lugares dianteiros. Para condutor e pendura há espaço de sobra e o vidro do amplo e alto pára-brisas ajuda a criar uma atmosfera nada claustrofóbica. No banco traseiro, onde se admitem apenas dois passageiros, as crianças pequenas não terão qualquer dificuldade em encontrar uma posição prazenteira e confortável. Já para adultos é muito desaconselhável escolher um dos assentos atrás.

A mala, com 251 litros, à semelhança do up! com motor de combustão interna, é pequena, mas suficiente para o uso quotidiano que este carro exige. As semelhanças entre o up! e o e-up! não se ficam pelo volume da mala. E isso, defende a marca, é uma vantagem para a linha de produção e consequentes custos. Mas nos pormenores não faltam diferenças: além de alguns detalhes de design, destaque para o contorno que as luzes diurnas, em LED, desenham no pára-choques ou para as jantes de 15’’ e design distinto.

Ficha técnica*

Motor: Eléctrico síncrono permanente

Potência: 82cv

Binário máximo: 210 Nm

Bateria: Iões de lítio

Peso da bateria: 230kg

Voltagem: 374 V

Ac. 0-60 km/h: 8,1s

Ac. 0-100 km/h: 12,4s

Velocidade máxima: 130 km/h

Consumo misto: 11.7 kWh/100 km**

Nível de eficiência: A+

Comprimento: 3540mm

Largura: 1645mm

Altura: 1498mm

Distância entre eixos: 2420mm

Peso em vazio: 1139kg

Autonomia: 120 a 160 km

* Dados da marca

** com o custo do kWh calculado em 0,24€, um consumo de 11.7 kWh /100 km implica um gasto de 2,81€ a cada 100km.

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