Um dos princípios-base do jornalismo é não escrever na primeira pessoa e tentar ser o mais distanciado possível do tema sobre que se escreve. Mas todas as regras têm excepções e o autor destas linhas não resiste a descrever a sua primeira experiência a sério de condução fora-de-estrada há uma dezena de anos, por caminhos de cabra, com pedregulhos, lama e terra solta, subindo e descendo precipícios, transpondo rios caudalosos.
Sendo um condutor comum cujas maiores aventuras fora do asfalto se tinham até aí desenrolado em estradões de piso mais ou menos regular, foi com algum receio que, ao volante de um Range Rover Sport, me deparei logo com uma montanha-russa composta por subida íngreme por um corta-fogo arenoso e irregular seguida por um precipício onde mal se vislumbrava um trilho semeado de pedregulhos. Pois bem, o Range Rover Sport foi um verdadeiro mestre: dotado de caixa automática e da primeira edição do sistema Terrain Response, a única coisa que tive que fazer foi escolher o tipo de piso sobre o qual circular e manter o veículo dentro dos trilhos. No final, tive de reconhecer: o mérito era do carro e não meu.
Muita água já passou pelos cursos de água que então transpôs o Range Rover Sport e este melhorou e refinou-se. A versão que agora conduzimos, Range Rover Sport 3.0 SDV6 340cv HEV HSE, é um híbrido diesel/eléctrico que às aptidões melhoradas para todo-o-terreno de elevada dificuldade junta o conforto de uma berlina de luxo em asfalto e algumas preocupações ecológicas, graças ao motor eléctrico que está presente no arranque e que, com a bateria carregada, a uma velocidade máxima de 48 km/h, permite que o veículo se desloque em modo 100% eléctrico durante 1,6km.
É verdade que a média de consumo que fizemos, 9,1l/100km, está algo distante do anunciado pela marca, mas nos quase 500km percorridos também fizemos algumas incursões fora de estrada e, típico de um híbrido como o Range Rover Sport, os consumos em cidade são inferiores aos conseguidos em estrada ou auto-estrada, graças à maior participação do motor eléctrico. Em cidade, conseguimos consumos na casa dos 7,0 l/100km; em estrada e auto-estrada, às velocidades permitidas, foram na ordem dos 8,0 l/100km. E não esquecer que este “bicho” pesa 2,4 toneladas!
Em termos de designação, seria talvez mais adequado chamar-lhe Range Rover Forte em vez de Range Rover Sport: o arranque, em modo eléctrico, é muito suave e a bem escalonada caixa de oito relações, de comportamento irrepreensível, proporciona uma condução confortável. Sente-se, isso sim, toda a força e potência dos 340cv disponíveis quase desde o arranque nas recuperações, ultrapassagens e em rampas íngremes (fora de estrada, com pneus apropriados, pode subir “paredes” com 45º de inclinação). Depois, o Terrain Response 2 acrescenta à primeira versão deste sistema a função Auto, com o veículo a adaptar-se automaticamente às condições do terreno e de condução. Com o sistema Terrain Response 2 (ver pormenores), qualquer condutor normal se transforma num perito em transpor caminhos de cabra.
O Range Rover Sport é grande e bonito. Na configuração de cinco lugares, o habitáculo é espaçoso para todos os ocupantes e recheado de mordomias. Os materiais e acabamentos são de primeiríssima qualidade, com destaque para os bancos e estofos em couro e a instrumentação muito completa mas relativamente fácil de utilizar. Os dois lugares opcionais que equipavam o veículo que conduzimos, embora confortáveis, retiram espaço à mala (a Land Rover nem refere a capacidade da mala na configuração de sete lugares) e, mais grave, obrigam à substituição da roda sobresselente por um kit de reparação de pneus.
Mas o verdadeiro dilema é outro. Será que não vamos usufruir de todas as potencialidades oferecidas por este veículo, que custa mais de cem mil euros, com receio de riscar a sua pintura em trilhos escabrosos? Mas isso seria como comprar umas sapatilhas topo de gama, apropriadas para correr maratonas e custando mais de uma centena de euros, para fazer passeios higiénicos — há opções muito mais baratas.
BARÓMETRO
+ Design, qualidade dos materiais e acabamentos, equipamento de série, capacidade e facilidade de condução em todo-o-terreno
- Kit de reparação de pneus na variante de sete lugares
Pormenores
menu muito completo…
A nova versão do sistema Terrain Response 2 torna ainda mais simples a qualquer condutor normal aventurar-se por veredas que se pensaria serem difíceis de transpor. Para além da função Auto, que ajusta automaticamente o carro às condições do terreno, pode-se seleccionar manualmente as seguintes posições no botão selector: geral; erva, gravilha e neve; barro e sulcos; areia; terrenos rochosos; e Dynamic (optimiza a performance de condução em estradas pavimentadas e secas). A juntar a isto, há ainda o controlo de descidas e o selector de mudanças baixas. Por isso, em Auto ou escolhendo o modo apropriado, só é preciso manter o veículo nos trilhos que ele se encarrega do resto.
… mas ainda há mais…
Se tudo isso não bastasse, o sistema de navegação do Range Rover Sport oferece as opções de navegação em estrada ou fora dela, com indicações e orientações distintas, quer se circule no asfalto ou fora dele. Além disso, o veículo que conduzimos trazia como opção (811€) um muito útil Sensor de Passagem a Vau, com Monitor de Ângulo Morto, sensor de aproximação de veículos e detector anticolisão em manobras de marcha atrás. O Sensor de Passagem a Vau, por meios de detectores nos retrovisores, mede a profundidade da água em zonas alagadas (o Range Rover Sport pode transpor cursos de água até 85cm de profundidade).
…e isto não acaba aqui…
Respira-se luxo no interior do Range Rover Sport, com os estofos em pele, etc., etc. Mas a condizer com a sua vocação para o fora de estrada, os tapetes são de borracha facilmente lavável, em vez de alcatifa que se sujaria facilmente. Também os pneus de origem, Pirelli Scorpion Verde M&S (Mud & Snow – Lama e Neve), podem ser usados tanto no asfalto como fora dele, pelo que este veículo é um verdadeiro todo-o-terreno.
Opção muito discutível
Lembram-se da campanha publicitária em que o velocista Carl Lewis aparecia com sapatos vermelhos de salto alto? Pois bem, fizeram algo semelhante ao veículo que conduzimos: em opção (1430€), trazia mais dois lugares, mas para montarem a terceira fila de bancos tiveram de retirar a roda sobresselente e substituí-la por um kit de reparação de pneus. Agora imagine-se um pneu danificado numa incursão fora do asfalto e o condutor a telefonar à assistência em viagem (se tiver rede…): “Estou aqui, nas coordenadas 38º46’17.0’’N 9º25’43.5’’W, tenho um pneu rasgado, venham-me ajudar. É no barranco a seguir ao terceiro corta-fogo…” Por outro lado, ter um carro destes e não o usar fora do asfalto é um crime. Por isso, há que optar: ou ter um autêntico todo-o-terreno de cinco lugares ou um veículo de sete lugares para passear no alcatrão (e nesse caso há no mercado opções mais baratas).
FICHA TÉCNICA
Mecânica
Cilindrada: 2993cc
Potência do motor de combustão: 306cv às 4000 rpm
Binário do motor de combustão: 700 Nm às 1500-3000 rpm
Cilindros: 6 em V Válvulas: 24
Alimentação: Gasóleo, com sistema de injecção directa por rampa comum. Turbo de geometria variável e intercooler
Potência do motor eléctrico: 48cv
Binário motor eléctrico: 170 Nm
Potência total: 340cv
Tracção: Total permanente, diferencial central bloqueável e sistema Terrain Response 2
Caixa: Automática de 8 relações
Suspensão: À frente, de duplo braço inferior, atrás multibraço; ambas pneumáticas, com amortecimento adaptativo de altura variável e barra estabilizadora passiva
Direcção: Pinhão e cremalheira, eléctrica assistida variável
Diâmetro de viragem: 12,1m entre passeios; 12,6m entre paredes
Travões: Discos ventilados (380mm) à frente; discos ventilados (365mm) atrás
Dimensões
Comprimento: 4850mm
Largura: 1983mm
Altura: 1780mm
Distância entre eixos: 2923mm
Peso: 2372kg
Pneus: 275/45 R21 (kit de reparação na variante de 7 lugares)
Capac. depósito: 80 litros
Capac. mala: de 489 litros na configuração de 5 lugares até 1762 litros com a 2.ª e 3.ª filas de bancos rebatidas
Capacidades todo-o-terreno
Ângulo de entrada: 24,3º (33º off-road)
Ângulo de saída: 24,9º (31º off-road)
Ângulo ventral: 18,9º (25º off-road)
Altura livre ao solo: 278mm
Passagem a vau: 850mm
Auto Terrain Response 2: Sim
Prestações*
Veloc. máxima: 210 km/h (225 km/h opcional)
Aceleração 0 a 100 km/h: 6,7s
Consumo misto: 6,4 litros/100 km
Emissões CO2: 169 g/km (Euro V)
Preço*: 102.235€ (versão ensaiada: 111.191€)
* Dados do construtorEquipamento
EQUIPAMENTO
Segurança
ABS: Sim
Controlo estab. dinâmica: Sim
Cont. estabilidade inclinação: Sim
Controlo de tracção: Sim
Controlo travagem em curva: Sim
Trav. assistida emergência: Sim
Sensor de profundidade de passagem a vau: Opção (811€)
Sistema alerta colisão: Opção (pacote Sensor de Profundidade)
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim
Airbags de cortina: Não
Airbag de joelhos condutor: Não
Auxílio ao arranque em subida e controlo de descida: Sim
Aviso da pressão dos pneus: Sim
Sistema de fixação Isofix para cadeiras de crianças: Sim
Aviso cinto de segurança: Sim
Vida a bordo
Vidros eléctricos: Sim
Vidros escurecidos: Opção (413€)
Vidros térmicos: Sim
Fecho central: Sim
Direcção assistida: Sim, variável
Retrovisores regulação eléctrica e rebatíveis electricamente: Sim
Volante regulável e em pele: Sim
Comandos no volante: Sim
Bluetooth e USB: Sim
Ar condicionado: Sim automático bizona (quadrizona, 1094€)
Bancos dianteiros eléctricos com memória: Sim
Bancos traseiros rebatíveis: Sim
3.ª fila de bancos: Opção (1430€)
Estofos e bancos em pele: Sim
Reg./limitador de velocidade: Sim
Travão de estac. eléctrico: Sim
Função Start/Stop: Sim
Computador de bordo: Sim
Jantes em liga leve: Sim, de 21’’
Alarme: Não
Ecrã táctil de 8’’: Sim
Navegação por GPS: Sim, inclui navegação off-road
Head-up display: Não
Sensores de luz e de chuva: Sim
Sensores estacionamento: Sim
Câmaras Surround: Opção (673€)
Aviso alteração da faixa: Não
Faróis de nevoeiro: Sim
Luzes de dia: Sim em LED
Faróis bixénon: Sim
Assistente luzes de máximos: Sim
Tecto Panorâmico: Opção (1851€)