Fugas - Motores

Bruno Lisita

Um familiar que se propõe a combater a preferência lusa dos diesel

Por Carla B. Ribeiro

Continua a exibir as mesmas características para agradar às famílias, mas agora surge com um bloco a gasolina de três cilindros que pretende ser uma alternativa à tendência diesel dos portugueses.

Tradicionalmente, quantos mais cilindros tiver um carro menor será a vibração sentida pelos ocupantes do veículo. No entanto, nos últimos anos, com o refinamento da construção dos blocos assim como o recurso a diferentes materiais, o cenário mudou e este C4 Picasso tricilíndrico é prova disso mesmo.

Compacto e de baixo peso, o bloco a gasolina  e-THP 130, acoplado a uma caixa manual de seis velocidades, trouxe uma redução de consumos e emissões face a motores como o 1.4 VTi de 120 cv. Com os três cilindros, a Citroën conseguiu restringir as emissões de CO2 aos 110 g/km (o quatro cilindros registava 143 g/km). Além disso, tirando proveito de um turbocompressor de elevada performance, este propulsor consegue atingir uma boa relação entre a potência e o binário, mesmo a baixos regimes. O torque máximo de 230 Nm está disponível a partir das 1750rpm, mas antes desta rotação já se consegue um bom desempenho do motor.

Além disso, com apenas três cilindros e quatro válvulas por cilindro, o C4 Picasso 1.2 consegue ter um nível de ruído muito inferior ao esperado. Já o trabalho feito ao nível da redução de vibrações, muito por conta de uma mais bem conseguida insonorização do habitáculo, atinge o ponto de quase nos esquecermos que sob o capot “falta” um cilindro.   Ao nível das prestações, os 130cv de potência revelam-se mais que suficientes para arrastarem os 1355kg deste carro, havendo apenas a registar alguma demora nas recuperações, o que poderá ser menos atraente na altura de uma ultrapassagem mais apertada. Ainda assim, a aceleração dos 0 aos 100 km/h em 10,1 segundos não foge daquilo a que se está habituado neste género de veículos, registando oficialmente uma velocidade máxima de 201 km/h.

Já quando chega a hora de abastecer, este propulsor não é o mais modesto. A marca avança com uma média de consumo de cinco litros por cada cem quilómetros, mas, mesmo tendo cuidado com o peso exercido no acelerador, andámos longe de conseguir tal marca. Ainda assim, tendo em conta o valor da viatura, assim como o custo das manutenções, o bloco tricilíndrico poderá ser uma alternativa a considerar ao diesel — é que, mesmo sabendo de antemão que o consumo do diesel será mais barato, depois de contas feitas chega-se depressa à conclusão que será necessário fazer perto de 100.000 quilómetros para que o 1.6 BlueHDi comece a fazer sentido.

Até porque, quer seja servido a diesel quer seja proposto a gasolina, as características do Picasso estão lá todas: espaço abundante à frente, sendo extremamente luminoso — algo que advém do facto de haver muitas superfícies em vidro. O vidro dianteiro pode estar todo “aberto”, com a possibilidade de recolher duplamente as palas, deixando entrar a luz, assim como o tecto panorâmico, que é “saboreado” sobretudo por quem viaja no banco traseiro. Mas o C4 Picasso não vive apenas da sensação de que é grande. Ele é mesmo enorme em espaço no habitáculo. À frente, não há nada que impeça movimentos quer ao condutor quer ao navegador. Já nos lugares traseiros não há um banco, mas três. Cada qual configurável independentemente: mais para a frente; mais para trás; recolhido... Isto significa que há possibilidade de acomodar não apenas três passageiros com todo o conforto, mas três cadeirinhas, algo pouco comum mesmo entre os familiares.

A (inteligente) utilização de espaço volta a ser testemunhada na bagageira que, com uma capacidade que pode ir dos 537 aos 630 litros (depende da configuração dos bancos traseiros), é capaz de acomodar sem dificuldades a bagagem dos cinco ocupantes. Mais ainda quando apresenta uma configuração regular, com formas rectilíneas, que facilitam a distribuição das malas e malinhas. Também pelo habitáculo há vários buraquinhos que permitem diferentes tipos de utilização: desde arrumar o telemóvel bem escondido enquanto carrega a bateria num compartimento aveludado até acomodar uma garrafa de água nas arrumações laterais das portas.

Além de espaçoso, o habitáculo promete conforto, notando-se alguma preocupação com os materiais usados, sobretudo ao longo do tablier e na união do pilar A, junto ao vidro pára-brisas. E, com toda a parafernália tecnológica, o C4 consegue manter alguma sobriedade pela consola, dominada por dois ecrãs: um bem no centro, no qual se podem ler todo o tipo de informações, e outro, mais pequeno e mais próximo de ser manuseado, no qual se podem configurar as várias funções: climatização, media, navegação. Além deste ecrã táctil, a maioria das funcionalidades pode ser comandada a partir do volante.

Já no capítulo da segurança, o C4 Picasso confirma a sua natureza familiar, oferecendo um conjunto de sistemas que o colocam entre os mais seguros de acordo com o Euro NCAP: cinco estrelas, com 86% na protecção de ocupantes adultos, 88% nas crianças, 68% nos peões e 81% nos dispositivos auxiliares de segurança. Para tal contribuiu o facto de incluir aviso de mudança de faixa de rodagem, que alerta o condutor através da vibração do cinto de segurança, cintos de segurança activos, aviso de ângulo morto, de monitorização de pressão nos pneus ou funcionamento automático dos faróis. Além destes, é de destacar um radar colocado na frente do veículo que, entre os 70 e os 150 km/h, permite manter uma distância segura em relação aos carros precedentes (é o condutor que escolhe o tempo de distância entre os 0,5 e os três segundos), fazer a regulação activa de velocidade ou emitir um alerta no caso de risco de colisão.

Sóbrio e fácil de usar
O C4 Picasso nunca foi um carro que ostentasse mais do que o que oferecia, mas nesta nova versão está mais sóbrio e todo o tablier foi limpo de botões “parasitas”. Isso foi conseguido com a inclusão de dois ecrãs distintos. Um quase panorâmico, incrustado no topo do tablier, cuja função é informativa, e outro, táctil, no centro da consola a partir do qual se podem gerir várias funções do veículo: climatização, media, navegação. Além deste ecrã táctil, a maioria das funcionalidades pode ser comandada a partir do volante e sem tirar os olhos da estrada.

Arejado e de vistas largas
O pára-brisas panorâmico faz parte do “ADN” do C4 Picasso que, tanto pela sua forma, como pela sua extensão, sobretudo quando se recolhem as palas, o pára-brisas forma uma espécie de janelão sobre tudo o que rodeia os ocupantes. Esta particularidade é sobretudo vivida pelos ocupantes da frente. Mas, como em quase tudo neste carro, os passageiros traseiros não foram esquecidos. Para estes, um tecto panorâmico, de fácil abertura, transforma todo o tejadilho num ecrã com vista para o mundo real, ideal para dias em que o sol anda envergonhado.

Silêncio a 3 cilindros
É uma pena que o papel ainda não emita som. Se emitisse, ouvir-se-ia um baixo burburinho longe daquilo a que durante anos foi sinónimo de três cilindros. De tal maneira que quase nos arriscaríamos a considerar este bloco a gasolina e-THP 130 silencioso. A percepção é ainda maior quando estamos dentro do habitáculo, pelo qual foi feito um muito bom trabalho ao nível da insonorização. Acoplado a uma caixa manual de seis velocidades, este tricilíndrico trouxe uma redução de consumos e emissões face a motores como o velhinho 1.4 VTi de 120 cv.

Olhar rasgado
Se o interior é luminoso, o exterior pode ser descrito como muito bem iluminado. Mais: com a fina linha de LED a rematar a extremidade do capot, como se de uma sobrancelha se tratasse, o C4 Picasso consegue facilmente reconhecer-se nas estradas, tirando partido de uma identidade luminosa bem definida. Na traseira, sobressaem os faróis traseiros com efeito 3D.

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