Fugas - Motores

Rui Gaudêncio

Um cão que ladra e também morde

Por João Palma

Entre o puro-sangue desportivo OPC e as outras versões do Corsa há um fosso enorme no que toca a concepção, potência e performances. Os outros são racionais meios de transporte, o Opel Corsa OPC é um feroz devorador do asfalto.

Há carros que parecem desportivos e depois é só fumaça, outros têm um visual anódino e mordem que se fartam. O Corsa OPC, a versão desportiva da quinta geração do utilitário da Opel, ladra e morde. Ao contrário de outras marcas generalistas, que têm uma versão intermédia entre os seus carros “normais” e os desportivos, há um abismo entre o OPC, dotado de um motor 1.6 sobrealimentado turbo a gasolina com 207cv capaz de atingir os 230 km/h e os outros modelos da gama Corsa.

Abaixo deste pequeno desportivo, o único Corsa com potência superior a 100cv é o 1.0 tricilíndrico turbo de 115cv, interessante e com bons desempenhos, mas longe de se poder considerar um desportivo. Em termos de performances e mecânica, o novo Corsa OPC, preparado pelo Opel Performance Center (OPC) e apresentado pela primeira vez em Março, no último Salão de Genebra, supera a anterior geração de 2007 e é similar à versão especial Corsa OPC Nürburgring Edition de 2011.

Com base no Corsa “normal”, no exterior o OPC distingue-se pelas duas grandes entradas de ar à frente (no sítio onde os outros Corsa têm os faróis de nevoeiro), um capot (com outra entrada de ar sob este) e pára-choques específicos, spoiler traseiro, dois escapes integrados no difusor aerodinâmico traseiro e jantes de 17’’.

O veículo que conduzimos trazia o Pack Performance OPC (opção, 2400€): travões Brembo com discos dianteiros ventilados de 330mm (de série 308mm), diferencial autoblocante mecânico, jantes de 18’’ e pneus Michelin Super Sport 215/40 R18. Outro opcional era a pintura metalizada exclusiva Azul Azure (500€). De série são os faróis de xénon com luzes de cruzamento, mas uma opção a considerar é o Pack Driver Assist (650€), com câmara Opel Eye de reconhecimento dos sinais de trânsito e aviso de saída de faixa, comutação automática de luzes e indicador da distância para o veículo da frente.

No interior, destaque para os bancos aquecidos desportivos Recaro em pele e tecido, os pedais em alumínio perfurado, volante desportivo, instrumentação e embaladeiras com identificação OPC. O equipamento do carro é muito completo e, ao contrário de veículos semelhantes de marcas premium, a lista de opcionais é reduzida e o preço final não é engordado por opções que acabam por ser elementos indispensáveis para o conforto e vida a bordo. Apenas dois reparos: os sensores de estacionamento não são de série (300€ a 500€), o que se justificaria num veículo com o preço e nível de equipamento deste, e o Corsa OPC traz um pouco recomendável kit de “reparação” de pneus, não havendo a opção de roda sobressalente.

Depois de enumerar o que este pequeno desportivo tem, vamos ao que ele faz. Ponto um: ao contrário de certos superdesportivos que só têm dois lugares e espaço para uma pequena pasta na mala, o Corsa OPC alia prazer de condução a funcionalidade — só tem três portas mas o acesso ao interior é relativamente fácil e o habitáculo é igual ao do Corsa de cinco portas, isto é, dos carros mais espaçosos do seu segmento, cabendo lá dentro cinco pessoas e tendo muito desafogo para quatro pessoas grandes. A bagageira, com 285 a 1090 litros, não sendo das maiores, tem uma capacidade muito aceitável. Em suma, sendo um desportivo, pode ser utilizado no dia-a-dia como um qualquer utilitário.

Já no que se refere ao seu comportamento, a suspensão específica deste carro (mais baixa 10mm face aos outros Corsa), que adopta uma tecnologia de amortecimento de frequência selectiva (FSD), é firme como convém a um desportivo, mas só com o piso em muito mau estado é que se pode revelar um pouco incómoda. Em auto-estrada e em recta, a resposta viva às manobras do volante e ao pisar do acelerador torna fáceis as recuperações e ultrapassagens e, com binário máximo logo às 1900 rpm, o Corsa OPC está à altura do que se espera — para este dinâmico carrinho não há subidas, é sempre a descer e a acelerar.

Onde ele, porém, se destaca é em sinuosas estradas de montanha com um comportamento brilhante em curva (o diferencial autoblocante também ajuda…), não se desviando um milímetro do rumo traçado — conduz-se tão facilmente como um carrinho de feira. A caixa manual, de seis velocidades, tem relações curtas e é muito precisa; tanto o controlo de estabilidade (com modo Competição) como o de tracção podem ser desligados para uma condução (ainda) mais desportiva.

É claro que se pode fazer uma condução económica com este pequeno desportivo (apesar de não dispor de Start/Stop, sistema de paragem e arranque automáticos do motor). Mas é puro desperdício. Para isso, opte-se por outras versões do Corsa.

A baixa velocidade não se ouve o agradável ronco do motor e não é possível desfrutar do prazer de condução que o Corsa pode proporcionar. Por isso, não podendo usufruir em auto-estrada de tudo o que este carro pode oferecer sem risco de contribuir para os cofres do Estado, “vingámo-nos” em sinuosas estradas de montanha. Apesar disso, em perto de 400km de um percurso variado e sem preocupações de economia, obtivemos uma média de 8,3 l/100km, muito razoável se atendermos às características deste pequeno desportivo.

FICHA TÉCNICA*

Motor: 1598cc, 4 cil., 16 válv.
Potência: 207cv às 5800 rpm
Binário: 245 Nm (280 Nm com overboost) às 1900-5800 rpm
Transmissão: Manual, 6 velocidades
Veloc. máxima: 230 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 6,8s
Consumo médio: 7,5 l/100km
Combustível: Gasolina
Emissões de CO2: 174 g/km
Norma de emissões: Euro 6
Preço: 24.990€ (veículo ensaiado, 28.190€)

*Dados do construtor

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