Fugas - Motores

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O futuro ao virar da esquina

Por João Palma

Obter combustíveis através da fotossíntese de microorganismos ou do CO2 existente no ar? Amortecedores que aproveitam as irregularidades do piso para produzirem energia? Ficção científica? Não. O futuro está aí.

Foi uma viagem não à Lua mas à Terra aquela em que embarcaram, no Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial (INTA), em Madrid, os jornalistas participantes no seminário Audi future performance days. Além de conduzirem a quarta geração do Audi A7 h-tron a pilha de combustível e a versão híbrida plug-in diesel/eléctrica do Audi Q7, o e-tron 3.0 TDI quattro, com 58km de autonomia em modo 100% eléctrico, foram postos a par de todas as investigações e soluções da Audi para uma mobilidade sustentável.

Ao entrar nas instalações do INTA, no início de uma viagem ao futuro, os jornalistas foram confrontados com a visão deslumbrante do Audi e-tron quattro concept, apresentado no Salão de Frankfurt de 2015. Este protótipo já constitui cerca de 80% de um belíssimo e luxuoso SUV desportivo com entrada em produção estimada para 2018. Movido por três motores eléctricos, um no eixo dianteiro e dois no traseiro, cuja potência conjunta atinge mais 500cv (370 kW), tendo um binário superior a 800Nm. Atingindo os 210 km/h, acelera dos 0 aos 100 km/h em apenas 4,6s. Mais importante, porém, é a sua autonomia, mais de 500km, que pode ser acrescida de mais 400km em apenas 30 minutos num posto de carga rápida — isto é, um carro eléctrico que afasta quase totalmente a range anxiety, o receio de o veículo ficar parado no meio da estrada com a bateria descarregada. A cereja no topo do bolo é o design elegantíssimo e aerodinâmico com um Cd de 0.25. O luxuoso interior é um mostruário de tecnologia e conectividade. Um exemplo: os retrovisores são substituídos por câmaras com ecrãs no painel das portas.

Menos recente, mas mais longe na sua produção em série, é a quarta geração do Audi A7 h-tron quattro a pilha de combustível, que pudemos conduzir num curto percurso. Com uma autonomia de 540km, podendo ser reabastecido em cerca de três minutos, indo dos 0 aos 100 km/h em 7,4s e atingindo os 200 km/h, tem ainda dois obstáculos a superar: o armazenamento e a criação de uma rede de abastecimento de hidrogénio e a sua produção. É que actualmente cerca de 95% de todo o hidrogénio consumido é de origem fóssil — carvão, petróleo ou gás natural — e assim lá se vão todos os ganhos ambientais. É por isso que a Audi está a trabalhar em conjunto com outros parceiros não só para produzir hidrogénio, como electricidade, gás natural, gasóleo e gasolina através de energias renováveis.

É o caso da fábrica da Audi de produção do e-gas (metano sintético, equivalente ao gás natural de origem fóssil) através da energia eólica e biomassa, em cooperação com a Etogas e a Viemann, da produção de hidrogénio, e-diesel e e-gasolina através de vários métodos, como a fotossíntese de microorganismos, com a Joule, a Sunfire, a Global e a Bioenergy ou, quase no domínio da ficção científica, da extracção do CO2 do ar para produzir o Audi e-gas já usado no A3 Sportback g-tron.

E o alvo não é só o combustível: também o veículo, o processo de produção e a fábrica onde é produzido tendem a ser neutros em termos de emissões poluentes. O conceito original well-to-wheel (“do poço (de petróleo) à roda”) foi substituído pelo mais amplo de craddle to grave (“do berço à sepultura”).

Não há uma solução única, há sim a exploração de todas as possibilidades para criar, poupar e recuperar energia. Até as irregularidades do piso podem ser utilizadas: a Audi está a trabalhar nuns amortecedores que, em vez de êmbolos, usam rotores que convertem os impactos em energia eléctrica para os sistemas do carro.

Num outro ângulo, atendendo às necessidades cada vez maiores em termos de energia dos sistemas dos modernos veículos, a Audi está a trabalhar na criação de uma bateria de 48v para, em muitos casos, substituir as actuais de 12v: uma bateria de 48v não requer cablagem de alta voltagem, os cabos condutores são menores que o de uma bateria de 12v e disponibiliza o quádruplo de energia.

De regresso ao presente, ou melhor, ao futuro muito próximo, pudemos conduzir num percurso de cerca de 100km a versão híbrida plug-in diesel/eléctrica do Audi Q7, o e-tron 3.0 TDI quattro, que será lançado em Portugal na Primavera de 2016. A potência total combinada do motor a gasóleo 3.0 TDI de 258cv com o motor eléctrico de 126cv são 373cv e o binário 700 Nm. Para chegar dos 0 aos 100 km/h são necessários 6,0s e a velocidade máxima é 225 km/h. A média de consumos e emissões é, respectivamente, 1,7 l/100km e 46 g/km de CO2. Graças a um depósito de combustível de 75 litros, a que se somam os 58km em modo eléctrico, a autonomia total pode atingir os 1400km.

Sendo um híbrido plug-in, o Audi Q7 e-tron quattro recupera a energia cinética durante a travagem convertendo-a em electricidade. O condutor pode escolher entre quatro modos de condução: EV (eléctrico), Hybrid (a gestão do modo de condução é feita pelo sistema do carro), Battery Charge (carrega a bateria) Battery Hold (poupa a energia da bateria para utilização posterior).

A gestão da condução pode ser efectuada com base no sistema de navegação. Com um percurso introduzido no sistema, a condução é feita por antecipação, levando em linha de conta os sinais de trânsito, limites de velocidade e situações como engarrafamentos ou obras, para obter a rota ideal e a utilização mais racional dos diferentes modos de condução. Por exemplo: somos aconselhados a reduzir velocidade à aproximação de uma rotunda ainda antes de ela estar sinalizada ou visível.

O Audi Q7 e-tron quattro só está disponível na versão de cinco lugares — a bateria ocupa o espaço dos dois lugares adicionais, retirando ainda capacidade à mala. Ainda assim, o habitáculo é espaçoso para os cinco ocupantes e a mala tem um volume de 650 litros, que, com o rebatimento dos bancos traseiros, sobe até aos 1835 litros.

 

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