Fugas - Motores

Daniel Rocha

SUV aventureiro ao gosto urbano

Por Carla B. Ribeiro

A versão mais robusta do utilitário 208 renasceu sobre uma capa cada vez mais próxima de um SUV, revelando boas capacidades para enfrentar terrenos difíceis. Ainda assim, continua a ser um veículo que se distingue pelo seu sentido prático e pela facilidade com que se conduz.

Vamos lá tirar o elefante do meio da sala: se alguém quer um SUV à séria, o melhor será ter em conta outras opções e olhar para outros segmentos acima. É que, para início de conversa, o Peugeot 2008 pode ser muito versátil — e é, como explicamos mais à frente — mas dispensa a tracção integral. O facto poderá até ser minimizado pela existência de um controlo de tracção electrónica, o Grip Control, facilmente gerido pelo condutor, e que chega de série no nível ultra-equipado GT Line (nos restantes está disponível como opção desde que a potência do propulsor seja superior a 100cv).

Este sistema revela-se extremamente eficaz nas mais variadas condições, potenciando a aderência e adaptando a tracção às condições de cada piso, além de tirar proveito de um binário máximo de 205 Nm a partir das 1750rpm. Experimentámos em areia e a subir empedrado e em ambas as situações, de dificuldade média-baixa, não houve um instante em que sentíssemos a falta de tracção. Além disso, com o nível de equipamento GT Line, como era o caso, o 2008 chega de série com pneus M+S (Mud+Snow, i.e., Lama e Neve). No entanto, em dias soalheiros, não houve oportunidade para testar a aderência destes pneumáticos.

Ainda assim, e apesar de um comportamento impecável em muitas situações duvidosas, permanece no limbo dos utilitários com uma forte componente urbana. Mais ainda na versão ensaiada, equipada com um bloco tricilíndrico de 110cv cuja gestão passa por uma caixa automática de seis velocidades — a EAT6.

E isso é mau? Nada! Na cidade, a transmissão automática, embora esteja longe de poder competir com outras mais desenvoltas, cumpre mais do que satisfatoriamente o que lhe é pedido, tornando a condução no pára-arranca muito confortável. E em estrada aberta o conforto é potenciado pelo facto de nem sequer pensarmos na caixa. O maior pecado que lhe encontrámos foi o facto de às vezes demorar demasiado tempo a passar para uma mudança mais alta, subindo assim a uma rotação a partir da qual se sente o motor a beber de forma sôfrega.

Claro, poderemos defender acerrimamente que com uma transmissão manual seria mais fácil extrair todas as potencialidades do motor, além de os consumos saírem provavelmente beneficiados. A média oficial da Peugeot aponta para os 4,8 l/100km em circuito misto, mas com a caixa em modo automático não conseguimos fixar um valor abaixo dos sete. Passando a transmissão para modo manual consegue-se facilmente poupar entre um a dois litros por cada cem quilómetros.

Mas, convenhamos, o Peugeot 2008, sobretudo nesta versão a gasolina, mais adequada para quem faz sobretudo percursos curtos, é essencialmente um veículo que, não obstante as suas evidentes características desportivas (e até aventureiras), será procurado por quem privilegia o sentido prático. E há poucas coisas tão práticas quanto apenas ter de acelerar e travar quando se enfrenta o caos do quotidiano; e a atenção, ao mesmo tempo que se conduz, é muitas vezes absorvida pelas mil e uma coisas que nos ocupam o pensamento.

Há outras razões pelas quais o 2008 tem uma clientela própria. A começar pelo design que, neste restyling, foi trabalhado no sentido de conferir ao carro um ar mais próximo dos todo-o-terreno: grelha vertical a conferir uma frente mais proeminente e, diz a marca, mais “sólida”; cavas das rodas ainda mais vincadas; protecções laterais; e uma nova assinatura luminosa que, nos farolins traseiros, em LED 3D, assumem a forma de garras. 

E, na nova versão de equipamento GT Line, tem outros mimos que esteticamente são agradáveis à vista. Caso das jantes de 17’’ diamantadas e revestidas a preto brilhante e das decorações a preto, como o friso da grelha dianteira, o contorno dos faróis de nevoeiro, as capas dos retrovisores e as barras do tejadilho. A grelha, por exemplo, destaca-se das restantes versões logo pela letra a vermelho do “Peugeot” inscrito no seu topo.

Pelo interior, quase tudo se mantém, inclusive o i-Cockpit: boa posição de condução, em torno de um pequeno volante que a torna extremamente fácil e prazenteira, painel de instrumentos em posição elevada, uma larga consola central e um ecrã táctil. O 2008 mantém ainda o travão de estacionamento tipo “avião” cuja existência poderá ser a razão por lhe faltar um encosto para o braço do qual sentimos falta.

Com o nível GT Line há vários detalhes de “maquilhagem” que tornam o habitáculo bem acolhedor: abertura das portas com soleiras em inox, pedaleira em alumínio e tapetes com pormenores vermelhos, painel de instrumentos superior contornado a LED vermelhos, costuras vermelhas nos bancos, nos apoios de braços das portas, no fole, nos punhos da alavanca de mudanças e do travão de mão e no volante.

Os bancos conferem um bom apoio, quer a quem segue aos comandos, quer aos restantes ocupantes, sendo forrados a pele (o melhor em dias mais quentes é deixar o carro à sombra…) de boa qualidade. Não estando entre os carros mais espaçosos do seu subsegmento, dois adultos encontram um excelente conforto no banco traseiro (o terceiro, já se sabe, tem de ir um pouco mais apertado ao meio).

Já a mala apresenta uma capacidade razoável, de 338 litros (1194, com os bancos rebatidos), impressionando mais pelo facto de apresentar um bom aproveitamento do espaço do que pelo seu tamanho. Já os restantes espaços de arrumação, embora limitados, conseguem guardar o mais essencial e há soluções interessantes, como por exemplo para poisar moedas sem que estas voem numa qualquer curva.

No habitáculo não faltam ainda tecnologias para colocar o 2008 na dianteira, incluindo Mirror Screen, compatível com o MirrorLink ou Apple Carplay, o que permite duplicar no ecrã táctil todos os conteúdos do smartphone do condutor. As tecnologias invadem também o capítulo da segurança e do conforto para quem segue aos comandos: o cruise control, por exemplo, é fácil de usar e torna as jornadas mais tranquilas.

O Peugeot 2008 constitui uma boa solução para quem tem a cidade como o seu habitat natural mas gosta de se sentir à vontade para sair do asfalto. Na primeira circula como peixe na água e na segunda, embora não esteja entre os mais divertidos, dificilmente nos deixará numa situação complicada.

Sob controlo

O Grip Control, conjugado com uma altura ao solo de 16cm e com pneus Mud&Snow Goodyear Vector 4Seasons, permite ao condutor seleccionar cinco modos de condução: Standard, Neve (até 50 km/h), Todo-Terreno (até 80 km/h), Areia (até aos 120 km/h) e ESP Off que desliga o controlo electrónico de estabilidade assim como o sistema de Grip Control.

De dentes afiados

As principais alterações deste facelift concentram-se na frente, onde o aspecto afunilado do capot até à grelha, que era cortada longitudinalmente por duas lâminas, foi substituído por uma presença mais quadrada. A grelha destaca-se agora pelas lâminas verticais.

Simples de usar

Com transmissão automática, o 1.2 de 110cv é mais lento dos 0 aos 100 km/h, assim como em velocidade de ponta, e apresenta consumos superiores, segundo a marca, de 0,4 litros face ao mesmo propulsor gerido por uma caixa manual. Ainda assim é uma boa aposta: a EAT6 transforma o acto de conduzir num simples acelerar/travar, muito útil sobretudo em cidade.

FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 1199cc
Potência: 110cv @ 5500rpm
Binário: 205 Nm @1750rpm
Cilindros: 3, em linha
Válvulas: 12
Alimentação: Gasolina, injecção directa. Turbo. Intercooler
Tracção: Dianteira
Caixa: Automática, 6 vel. (EAT6)
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica
Diâmetro de viragem: 10,4m entre passeios
Travões: Discos ventilados à frente; discos, atrás

Dimensões

Comprimento: 4159mm
Largura: 1739mm
Altura: 1570mm
Distância entre eixos: 2537mm
Peso: 1165kg
Pneus: 205/50 R17
Capac. depósito: 50 litros
Capac. mala: 338 litros

Prestações

Veloc. máx.: 188 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 10,3s
Cons. misto: 4,8 l/100 km
Emissões CO2: 110 g/km
Nível de emissões: Euro 6

Preço

24.520€. Viatura ensaiada, 25.960€, com os opcionais de cor Vermelho Ultimate (400€), tecto panorâmico (450€) e Pack Tech Connect GT Line, com navegação, câmara de visão traseira e Peugeot Connect Box (490€)

--%>