Fugas - Motores

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O “assassínio” de um carro

Por João Palma

Um SUV de sucesso na Europa com vendas marginais em Portugal. Porquê? Por ser caro? Por não ser seguro? Por não estar bem equipado? Nada disso: só por ter mais de 1,10m de altura do capot ao solo e assim ser classe 2 nas portagens.

Se o Mokka X fosse uma equipa de futebol, podia-se dizer que tinha sido derrotada por uma arbitragem escandalosa. Esta segunda geração do SUV compacto do segmento B da Opel, tal como a primeira, está à partida penalizada pela absurda e ultrapassada legislação portuguesa que classifica como classe 2 nas portagens todos os veículos que meçam mais de 1,10m de distância do topo do capot ao solo, sem levar em conta o peso e outras dimensões da viatura.

Uma norma tão aberrante que foi preciso abrir uma excepção para o anterior Smart, que em rigor seria classe 2, porque, não tendo capot, deveria ter sido medido a partir do tecto. Uma norma tão anormal que um veículo que pese 2 toneladas (com o consequente maior desgaste do asfalto), desde que cumpra os 1,10m da regra, é classe 1 e outro que pesa 1,4 toneladas é classe 2. Tão absurda que penaliza o facto de a maior altura ao solo do Mokka X ser para protecção acrescida dos peões em caso de embate.

É por isso que a primeira geração do Mokka, que é o terceiro modelo mais vendido da Opel na Europa (atrás do Corsa e do Astra), em Portugal está no sétimo lugar nas vendas.

E o SUV compacto da Opel não está sozinho. Há mais veículos (como o Kadjar da Renault) na mesma situação e estão na forja outros, com a crescente preferência pelos SUV e também pelas exigências do Euro NCAP (a entidade europeia que classifica os veículos em termos de segurança) no que toca à protecção dos peões. Este absurdo é reconhecido, mas a situação mantém-se por inércia das autoridades e por as entidades operadoras das redes viárias não quererem abdicar de um cêntimo dos seus ganhos derivados dos contratos com o Estado português.

O Mokka, nesta segunda geração, acrescentou à sua designação a letra X, com a qual a marca alemã passará a distinguir todos os seus futuros SUV. O veículo que conduzimos, com o nível de equipamento Innovation, trazia de série o sistema Opel OnStar de apoio permanente ao condutor e, em opção, iluminação inteligente e adaptativa com faróis LED (1000€) e o Opel Eye (500€, indicador de distância de segurança, alerta de colisão dianteira, reconhecimento de sinais de trânsito, aviso de saída faixa), dispositivos auxiliares de condução que já foram descritos em textos anteriores. Outra opção muito recomendável era a roda sobresselente de emergência de 16’’. Já as jantes de liga leve e pneus de 19’’, por 1000€, só têm um efeito estético e penalizam os consumos e emissões face às jantes de liga leve de série com 16’’.

O motor diesel 1.6 CDTI de 136cv, da nova geração de propulsores da Opel, acoplado a uma caixa manual de seis velocidades precisa e eficiente, proporciona uma condução fácil tanto em cidade como em estrada, com boa resposta ao pisar do acelerador a partir das 1500 rpm. O Mokka X com este propulsor é muito frugal nos consumos: em cerca de 300km de um percurso variado, com uma condução cuidada mas alguns congestionamentos de trânsito, obtivemos uma média de 5,2 l/100km.

Com 11,5 metros de diâmetro de viragem entre passeios, não é dos melhores em termos de brecagem, mas isso é compensado por uma boa visibilidade, pelos sensores de estacionamento à frente e atrás e pela câmara de visão traseira opcional. Junte-se a isso os já referidos Opel OnStar (um dos melhores sistemas de apoio ao condutor existentes no mercado), o sistema de infoentretenimento e navegação Intellilink, assim como os opcionais Opel Eye e a iluminação AFL+ com faróis LED, e temos um dos carros mais bem equipados em termos de segurança e conectividade do seu segmento.

Em 2012, o SUV da Opel obteve o máximo de 5 estrelas nos testes de segurança do EuroNCAP, o Mokka X ainda não foi submetido a testes e em 2016 a exigência aumentou, mas em contrapartida dispõe agora do Opel OnStar e do mais recente e aperfeiçoado sistema de iluminação AFL com faróis LED.

No interior, onde quatro pessoas viajam com desafogo (o quinto ocupante no lugar do meio atrás tem menos espaço), há melhoria nos materiais e acabamentos, com bancos ergonómicos e a instrumentação é de fácil leitura e accionamento (no essencial através do ecrã táctil central de 7’’).

O nível de equipamento Innovation da viatura que conduzimos é o de entrada, mas é muito completo, sendo comparável e até superando em alguns aspectos os níveis topos de gama de outros SUV compactos.

Em suma, excepto o facto de ser classe 2, este Mokka X pode enfrentar sem receios a muita concorrência de qualidade existente no seu segmento.

Milímetros fatais
Como é possível um SUV que pesa 1449kg, mede 4,27m de comprimento, 2m de largura e 1,66m de altura, não sendo maior ou mais pesado que os SUV compactos seus concorrentes, ser taxado como classe 2 nas portagens só por exceder alguns (poucos) milímetros a altura de 1,10m do capot ao solo (ainda por cima por razões de protecção a peões em caso de embate), quando há veículos muito maiores e pesando 2 toneladas que são classe 1?

Sem compromissos
Mesmo sendo penalizada em Portugal nas vendas do Mokka X, a Opel recusou-se a fazer adaptações de rebaixamento que comprometessem o equilíbrio e segurança do veículo, para que este passasse a ser classe 1. Do mesmo modo, sendo um SUV (embora de utilização principal em asfalto), equipou-o com pneu sobresselente de 16’’, uma opção muito recomendável por apenas 60€. Isto deveria ser a regra, mas os fabricantes de carros, para pouparem uns euros, tornaram moda a inclusão nos veículos de um kit de “reparação” de pneus.

Comodidade e segurança
O travão de estacionamento electrónico é muito cómodo em veículos com caixa automática. Até há carros que, sem intervenção do condutor, se travam bastando a caixa estar na posição P e destravam, ao passar de P a R ou D. Porém, em veículos com caixa manual, mesmo tendo auxílio ao arranque em subida como este Mokka X, o travão de mão confere comodidade e segurança acrescidas, impedindo que a viatura descaia, mesmo após os escassos segundos em que ela é retida após soltar o travão de pé.

Ficha Técnica*

Mecânica
Cilindrada: 1598cc
Potência: 136cv às 3500 rpm
Binário: 320 Nm às 2000rpm
Cilindros: 4 em linha
Válvulas: 16
Alimentação: Gasóleo, injecção directa por rampa comum. Turbo e intercooler
Tracção: Dianteira
Caixa: Manual com 6 velocidades
Sistema Start/Stop: Sim
Suspensão: Tipo MacPherson, molas helicoidais e barra estabilizadora à frente; eixo de torção e molas helicoidais atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica
Diâmetro de viragem: 11,5 metros entre passeios
Travões: Discos ventilados à frente; discos atrás

Dimensões
Comprimento: 4275mm
Largura: 1781mm
Altura: 1658mm
Distância entre eixos: 2555mm
Peso: 1449kg
Pneus: 225/45/ R19 92H (opção, 1000€; roda de emergência de 16’’, opção, 60€)
Capac. depósito: 52 litros
Capac. mala: 356 litros (1372 litros com bancos traseiros rebatidos)

Prestações
Veloc. máx.: 190 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 10,3s
Cons. misto: 4,3 l/100 km
Emissões CO2: 114 g/km
Nível de emissões: Euro 6

Preço
28.070€ (veículo ensaiado, 31.230€)

*Dados do construtor

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