O Renault Kadjar foi lançado na Europa há cerca de ano e meio. Porém, em Portugal, esse lançamento foi congelado, face à absurda legislação que condena um veículo pesando menos de 1,5 toneladas (o mesmo que qualquer berlina do segmento C, onde o Kadjar se insere) a ser taxado como classe 2 nas portagens só por ter mais de 1,10m de altura à vertical do primeiro eixo ao solo. Mas agora a Renault conseguiu produzir uma variante exclusiva para Portugal, que, com Via Verde, é classe 1 nas portagens.
Há males que vêm por bem. Aproveitando-se de uma excepção à lei criada para favorecer os monovolumes produzidos em Portugal na AutoEuropa, o Decreto-Lei n.º 39/2005, que reza que “os veículos de passageiros e mistos… com dois eixos, peso bruto superior a 2300kg e inferior ou igual a 3500kg, com lotação igual ou superior a cinco lugares e uma altura, medida à vertical do primeiro eixo do veículo, igual ou superior a 1,1m e inferior a 1,3m, desde que não apresentem tracção às quatro rodas permanente ou inserível”, com Via Verde, pagam classe 1 nas portagens, a Renault Tech, uma divisão da Renault Sport Cars, criou uma versão específica para Portugal do Kadjar com tracção dianteira que, na realidade, é melhor que a que se vende no resto da Europa.
Como? Adaptando a estrutura autoportante reforçada e um eixo traseiro multibraços oriundos das versões 4x4, com afinação específica para esta variante 4x2. Assim, com um acréscimo de apenas 46kg face ao 4x2 normal, o Kadjar “português” tem um peso bruto de 2305kg. Para além de ficar abrangido pelo D-L n.º 39/2005, há outras vantagens: maior capacidade de carga e, graças às modificações, melhoria das qualidades dinâmicas com menor rolamento da carroçaria, melhor equilíbrio em curva, direcção mais reactiva e conforto acrescido.
Aberto o caminho para a comercialização do Kadjar em Portugal, a Renault decidiu lançá-lo com apenas uma motorização, o conhecido 1.5 dCi a gasóleo de 110cv, e dois níveis de equipamento: XMOD, com mais aptidões para fora de estrada, e Exclusive, mais vocacionado para o asfalto e dotado de maior requinte.
O Exclusive custa 31.600€, mas é o XMOD, apesar de mais barato (29.710€), o que oferece mais, por trazer algo que o topo de gama não dispõe: selector Grip Control com três modos de condução, Estrada, Fora de Estrada e Expert (para condições extremas) e pneus específicos M+S (Lama+Terra) que permitem circular no asfalto ou fora dele.
Foi, precisamente, um Renault Kadjar XMOD o veículo que conduzimos. Ponto prévio: comum a toda a gama, os 1125mm de altura do capot ao solo não se devem no essencial a uma questão estética mas, como em outros SUV recentes, isso tem como objectivo uma maior protecção dos peões em caso de embate (daí a actual lei portuguesa, além de absurda, ser de uma estupidez abissal). Esse foi um dos factores que levaram o Euro NCAP, a entidade que avalia a segurança dos veículos lançados na Europa, a atribuir ao Kadjar em 2015 74% na protecção de peões. Somando a isto, 89% na protecção dos ocupantes adultos, 81% nas crianças e 71% nos dispositivos auxiliares de segurança, o SUV da Renault obteve o máximo de 5 estrelas.
Além de seguro, o Renault Kadjar está bem equipado nos dois níveis de equipamento, no que toca ao conforto e vida a bordo. A lista de opcionais é reduzida com preços acessíveis. Mesmo no nível de entrada, XMOD, o Kadjar oferece ecrã táctil de 7’’ com sistema de infoentretenimento R-Link 2 que inclui navegação e conexão Bluetooth, reconhecimento dos sinais de trânsito, travão electrónico, auxílio ao arranque em subida, aviso de saída involuntária de faixa, cruise control, jantes de 17’’ com pneus aptos para asfalto e terra, luzes de dia LED, sensores de chuva e de luminosidade, vidros traseiros escurecidos, etc., etc.
Com tudo isto, causa espanto este SUV não incluir de série uns simples sensores de estacionamento. É certo que, em opção, os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros custam apenas 160€ (incluindo câmara de visão traseira, 360€), mas, com tantos luxos técnicos, num veículo com estas dimensões eles não virem incluídos de base é algo que escapa ao nosso entender.
Para além de um visual atraente, reforçado pela assinatura LED das luzes de dia, o Renault Kadjar no nível XMOD é um SUV verdadeiro – dispondo de Grip Control (controlo de tracção) com modos de condução seleccionáveis através de um botão situado não consola central e de pneus específicos, é mais que uma berlina com maior altura ao solo, sendo capaz de incursões fora de estrada em terrenos de média/baixa dificuldade. Isto é, pode fazer mais do que subir passeios.
Mas não só, além de convidar à aventura também incentiva à economia de consumos, em especial no modo de condução Eco, com o ramo que apresenta mais ou menos folhas no visor do velocímetro consoante o tipo de condução e o painel Eco 2 no ecrã táctil central, onde se apresenta uma avaliação da eficiência na gestão da poupança de combustível.
Há um bom casamento entre motor, caixa de transmissões manual de seis velocidades e o veículo. O Kadjar não é um desportivo, mas reage bem nas recuperações, acelerações e ultrapassagens e, em particular no modo Eco 2 (o que utilizámos preferencialmente), é bastante económico — em 200km de um percurso variado, obtivemos uma boa média de 5,0 l/100km. O posto de condução é bom, com visibilidade, e este SUV revela-se muito equilibrado, o que se nota em curva, com pouco balanceio da carroçaria (a que não serão estranhas as afinações e suspensões exclusivas desta variante).
O interior, onde se nota cuidado nos materiais usados e nos acabamentos, é espaçoso para os cinco ocupantes e a mala, com fundo duplo e 527 litros, é ampla. Sob a mala, no veículo que conduzimos, alojava-se uma roda sobresselente de emergência, um opcional muito recomendável, em particular para um veículo com aptidões para circular fora de estrada, valendo bem os 70€ que custa.
Serve para mais que subir passeios
A grande maioria dos actuais SUV/crossovers são berlinas com maior altura ao solo, servindo para pouco mais que subir passeios. O Kadjar, na versão XMOD, dispõe de Grip Control, sistema de tracção com 3 modos (Estrada, Fora de Estrada e Expert) seleccionados através de um botão na consola central. Além disso vem equipado com pneus Mud+Snow (Lama+Neve) e o veículo que conduzimos trazia uma roda sobresselente de emergência (opção, 70€). Assim, apesar de só ter tracção dianteira, está preparado para algumas incursões fora de estrada.
Ensina a poupar
Este SUV também incentiva a economia de consumos. No modo Eco, no visor do computador de bordo há um ramo com folhas que aparecem ou desaparecem consoante se conduza ou não de forma racional. Além disso, no ecrã central aparece um painel de condução económica (eco 2) que avalia a aceleração, a mudança de velocidade e a condução por antecipação, com estrelas e uma percentagem de 0 a 100 (de condução péssima a ideal).
Uma opção indispensável
Este veículo vem bem equipado, pese embora o absurdo de não ter sensores de estacionamento de série (opção por 160€). Muito recomendável é também o pneu sobresselente de emergência (70€). Mas o que é indispensável é o dispositivo de Via Verde, sem o qual o Kadjar é taxado como classe 2 nas portagens.