Fugas - Vinhos

Douro Wine Tourism

Douro Wine Tourism

O Douro, o enoturismo e o futuro da região

Por Rui Falcão

Antes de mais, uma declaração de interesses, pois não será certamente irrelevante para os leitores que a maioria dos textos das aplicações, website, guia e manual de boas práticas que serão comentados e enumerados nesta crónica tenham sido escritos por mim. Sei que a circunstância não me tolda a apreciação mas não ficaria bem com a minha consciência se não vos informasse desta particularidade.

Queixamo-nos com frequência de viver uma situação económica débil, queixamo-nos da apatia dos decisores, queixamo-nos da falta de oportunidades, queixamo-nos da falta de visão e iniciativa de todos os poderes, sejam eles o poder central, regional ou local. Queixamo-nos de forma mais ou menos generalizada… e frequentemente com alguma razão, com fundamentos para assumir tamanha frustração. Infelizmente, porém, nem sempre sabemos corresponder quando surgem as oportunidades, quando somos confrontados com a vontade alheia de criar algo, quando somos desafiados a participar em algo que se propõe mudar os modelos vigentes. Somos frequentemente vencidos pela inércia, pela falta de estímulo para a mudança, pela dificuldade em sair do nosso espaço de conforto.

No Douro, a viticultura continua a ser cumprida de forma inteiramente manual, vítima de uma orografia acidentada que não permite qualquer modelo de mecanização e de uma produtividade diminuta tendo em conta a pobreza extrema dos solos. Os custos associados ao plantio de uma vinha nova são colossais, os trabalhos na vinha são sempre caros e demorados, provocando custos laborais pesados de uma mão-de-obra nem sempre fácil de obter. A somar a estas dificuldades, a terra encontra-se tão profundamente fragmentada que com frequência a rentabilidade das explorações é inviabilizada pela exiguidade das vinhas, terra que em muitas ocasiões é conservada mais por saudável teimosia, empenho pessoal e tradição familiar que por uma decisão assumidamente racional.

Por isso, e pela dependência que o Douro tem da vinha, é tempo de diversificar e de reformar parte do modelo económico da região investindo naquela que poderá ser uma fonte de receita interessante e complementar da região — o turismo de qualidade associado à paisagem vinhateira, à herança cultural e à gastronomia da região. Pelas muitas singularidades da produção de vinhos no Douro e do Vinho do Porto, particularmente os lagares, a pisa a pé e as vindimas manuais, pela complementaridade da oferta, mas sobretudo pela beleza e monumentalidade da paisagem, física e humana, o Douro reúne todas os requisitos para se transformar num dos destinos prioritários do turismo de qualidade associado ao vinho. O enoturismo reúne todas as condições para se apresentar como um dos instrumentos privilegiados para o desenvolvimento rural e regional do Douro.

Não será seguramente a panaceia universal para todos os males da região mas o turismo vínico poderá vir a afirmar-se como uma oportunidade rara para a criação de emprego, para a injecção de expectativas renovadas e novos rendimentos na economia local. O enoturismo permite este ajustamento de oferta alternativa para a economia local ao valorizar activos únicos da região, desde o património arquitectónico às vinhas, desde a gastronomia até aquilo que é mais importante na região, o vinho. Permite igualmente dilatar a rentabilidade e visibilidade das marcas dinamizando a criação de emprego local, despertando a população para as tarefas do empreendedorismo e coordenação de recursos tirando partido do uso das tecnologias de informação e comunicação, adoptando-os como instrumentos de promoção da região.

Foi esta realidade e constatação que fundamentou a iniciativa promovida pela Beira Douro - Associação de Desenvolvimento do Vale do Douro, em cooperação com a Associação do Douro Histórico e o Douro Superior - Associação de Desenvolvimento, de criar um conjunto de instrumentos que ajudasse não só a promover o enoturismo na região, facilitando informação e ferramentas úteis ao turista, como ainda que ajudasse a definir as bases para uma oferta racional, metódica e sustentável para os prestadores de serviço, definindo um manual de boas práticas a ser fornecido a quem acolhe turistas na região. As recomendações indicadas no manual de boas práticas assentam na experiência de outras regiões vinícolas com uma oferta de enoturismo alargada, consolidada e de reconhecido sucesso. A região norte-americana de Napa Valley conseguiu, por exemplo, arrecadar 1,4 mil milhões de dólares (um pouco mais de um milhão de euros) exclusivamente com a actividade enoturística durante o ano fiscal de 2012, grandeza que revela a importância que o enoturismo pode adquirir para produtores e para a economia local das regiões vinícolas que conseguem tirar partido deste nicho de mercado

Para além de um manual de boas práticas dirigido aos prestadores de serviço, explicando os erros mais comuns e apontando os caminhos mais adequados para o desenvolvimento do enoturismo no vale do Douro, o projecto de fomento regional e sem qualquer fim lucrativo dedicou-se ainda ao desenvolvimento de um conjunto de ferramentas para o visitante que tornassem a sua viagem numa jornada mais informada e prazenteira. Foi assim desenhado um website (www.dourowinetourism.com/) com informações relevantes sobre o Douro, informação que poderá ser acedida de qualquer parte do mundo e que permite a programação atempada da viagem, convenientemente editada em inglês e espanhol, para além do português materno.

Foi editado em complemento um guia tradicional, em formato papel, concebido para ser distribuído pelos postos de turismo local aos turistas passantes, também eles publicados em português, espanhol e inglês. Talvez ainda mais interessantes, porque verdadeiramente inovadores e superiormente úteis, sejam as aplicações móveis para tablet e smartphone desenvolvidas para iOS e Android que podem ser descarregadas gratuitamente das lojas de aplicações dos dois sistemas operativos (Douro Wine Tourism). Aplicações que, para além de suportarem toda a informação relevante já presente no guia, permitem ainda a georreferenciação indicando, por exemplo, quais as quintas ou atracções mais próximas do local onde o turista se encontra naquele momento permitindo contactar directamente os proprietários, reservar e planear a visita em tempo real. Uma outra forma de demonstrar que o Douro não está parado e que o turismo do vinho pode ser uma actividade de futuro na região. Assim o queiram os agentes económicos da região…

--%>