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O “novo” Douro em seis variações

Por Pedro Garcias

O Douro dos vinhos tranquilos nasceu há menos de três décadas e, depois de um período inicial muito focado nos vinhos tintos encorpados e concentrados, a aposta passa agora por tintos mais leves e finos e por brancos inovadores ou baseados na tradição. Uma viagem ao “novo” Douro através de seis vinhos diferentes.

O maior erro que se pode cometer numa radiografia do Portugal vinícola é considerar os vinhos do Douro todos muitos iguais. Há um perfil que resulta da tradição (preferência por vinhos de lote, aposta em castas com longa história e adaptação local) e da natureza mediterrânica da região (baixa precipitação e temperaturas altas no Verão que fazem concentrar mais a fruta). Mas basta fazer uma pequena viagem pela região ou subir apenas a um dos seus miradouros para perceber que, com uma tal sucessão de montanhas e vales e alguns planaltos pelo meio, não há forma de fazer vinhos chapa 5.

O Douro é demasiado grande e diverso para produzir vinhos padronizados, de percepção imediata. Um tinto da zona da Régua é muito diferente de um tinto da zona de Foz Côa, mesmo que seja feito com castas iguais. Um branco das zonas altas de Alijó, Vila Real, Murça ou Mêda, por exemplo, é completamente distinto de um branco de uma vinha junto ao rio. Até nos vinhos do Porto são evidentes essas diferenças sub-regionais e orográficas.

Mas é verdade que os tintos do Douro, até pela sua curta história, ainda estão presos a uma certa imagem de vinhos potentes, densos, alcoólicos e quase mastigáveis. Foi este tipo de vinhos, muito apreciado pela crítica nacional e internacional (ainda hoje), que colocou o Douro no radar e deu origem a um verdadeiro “boom” de vinhos e de novos produtores na região. Em menos de três décadas, o panorama vitivinícola duriense ficou irreconhecível, para melhor. Trinta anos na história do vinho é um sopro, mas o Douro avançou mais neste curto espaço de tempo do que muitas regiões em séculos.

Depois de uma primeira revolução nos tintos, o Douro vive agora uma segunda revolução nos brancos. Quem pensava que o Douro podia fazer tudo menos grandes brancos enganou-se. A região não tem história nos brancos tranquilos, mas já fazia vinhos brancos fortificados há séculos. Como nos tintos, foi só passar da aguardentação para a fermentação completa e tirar partido das inúmeras castas já existentes (e da riqueza e diversidade das vinhas velhas). A modernização das vinhas, numa primeira fase feita a pensar apenas no vinho do Porto, deu uma ajuda; e o arcaísmo vitícola, representado pelas vinhas velhas, deu outra, deixando de ser um fardo para se converter num importante trunfo competitivo.

Porém, e por mais paradoxal que possa parecer, o Douro começa a sofrer com o seu sucesso. Como o colono perante a terra prometida, a região deslumbrou-se e andou depressa de mais. Plantou vinha em excesso, foi somando excedentes nos vinhos tranquilos e começou a baixar os preços, entrando em concorrência directa com regiões muito mais produtivas. Hoje, é possível comprar vinhos no Douro a menos de dois euros.   

Mesmo assim, e apesar de a região estar cada vez mais concentrada em torno de meia dúzia de grandes companhias e de o grosso dos produtores viver em condições difíceis, face aos baixos preços a que são obrigados a vender as uvas (devido ao excesso de oferta e à quase cartelização dos preços imposta pelos grupos mais poderosos), o Douro continua a fervilhar e a atrair novos investidores e protagonistas.  Quase todas as semanas chegam ao mercado novas marcas e novos vinhos. Melhor ainda: há um grupo de enólogos inconformados que não pára de experimentar e de criar vinhos diferentes. Alguns desses enólogos já estiveram na linha da frente da conversão do Douro aos vinhos tranquilos. Uns vão pela via da simplificação, voltando ao tradicional e à intervenção mínima na adega; outros procuram resgatar castas em desuso ou quasa extintas, como a Samarrinho ou a Touriga Fêmea; outros, ainda, tentam trazer para o Douro variedades com provas dadas noutras regiões, como é o caso do Alvarinho ou do Moscatel Ottonel.

Estes vinhos diferentes, brancos e tintos fora da caixa, desfazem, por si só, a ideia de que o Douro é todo igual. E têm um grande mérito: permitem abrir novos caminhos e novas oportunidades à região. No mundo dos vinhos, as modas passam muito depressa e é preciso estar sempre a inovar, nem que seja pela tradição, até porque, no essencial, já foi tudo inventado.

Gouvyas Âmbar 2010

O duriense Luís Soares Duarte (não confundir com Luís Duarte, enólogo no Alentejo) nunca esteve ligado a nenhuma casa grande do Douro e é por isso que, fora do círculo da enologia e da crítica especializada, pouca gente o conhece. Mas é, sem dúvida, um dos melhores enólogos da região e do país. Exímio provador e eterno romântico, Luís Soares Duarte está ligado desde há muitos anos aos vinhos Seara d`Ordens e Quinta do Infantado, presta consultoria a mais alguns produtores e faz os seus próprios vinhos. Chegou a estar envolvido num projecto ambicioso na sua aldeia, Poiares (Régua), com um grupo de investidores nacionais e estrangeiros, e que lhe permitiu construir a adega dos seus sonhos. Mas o investimento correu mal e Luís teve que abandonar o projecto e começar tudo de novo.

Tudo não. Por causa da crise, Luís Soares Duarte e João Roseira, da Quinta do Infantado, tinham deixado a hibernar a empresa que detêm em conjunto, a Bago de Touriga, produtora dos vinhos Gouvyas e Montevalle, e agora decidiram reactivá-la. Os dois foram acumulando stocks de várias colheitas e vão relançar vinhos com quase dez anos de estágio e lançar algumas novidades. O regresso da Bago de Touriga é uma das melhores notícias deste fim de ano. Quem acompanhou o nascimento desta empresa, em 1996, sabe que é um dos mais originais projectos do Douro. Não eram vinhos muitos fáceis em novos, tinham algo de rústico até, mas quem os provar agora vai ficar boquiaberto.

O Gouvyas 1996, por exemplo, feito com uvas de Vilarouco, na zona da São da Pesqueira, ainda está vivíssimo. Em prova cega, passava por um grande Bordéus. O Gouvyas OP 2000, lote feito num jantar de “Douro Boys” (há década e meia, a expressão era utilizada para a nova geração de enólogos do Douro que se juntava em jantares para provarem as novidades uns dos outros; só depois ficou vinculada a um grupo formal de cinco produtores) com o sommelier francês Olivier Poussier é ainda mais extraordinário, mostrando uma garra tânica e uma frescura surpreendentes.

Um grande tinto em qualquer lugar do mundo, tal como os Gouvyas 2000 (na linha do OP), 2001, 2003 e Gouvyas Vinhas Velhas 2005.  O Gouvyas Vinhas Velhas 2006 (35 euros) e Gouvyas 2007 (20 euros) são os únicos que estão à venda e, sobretudo o segundo, um colosso, ainda estão em fase de crescimento. Até o Montevalle Reserva 2006, de um ano de grande produção no Douro e que está a ser vendido a 14 euros, é um tinto magnífico.

Neste Natal, vão chegar ao mercado três novidades: os monovarietais Gouvyas Moscatel Galego Seco, Gouvyas Tinta Francisca e Gouvyas Touriga Fêmea (filha do Mourisco e da Touriga Nacional), todos de 2015. Três vinhos distintos e cheios de carácter. Mas os vinhos que melhor testemunham a criatividade e o génio de Luís Soares, um amante de vinhos com tempo, são os formidáveis Gouvyas brancos (foram agora postos à venda garrafas mangnum e double magnum de Gouvyas 2003 e 2004, a 55 e 115 euros cada, respectivamente), em especial o novo Gouvyas Âmbar 2010, um branco tranquilo feito à semelhança de um Porto seco.

As uvas, provenientes de Carrazeda de Ansiães e de Muxagata, fermentaram com película e engaço durante 12 dias em cuba e estagiaram durante cerca de dois anos em barricas de muito uso. O vinho foi engarrafado apenas em garrafas magnuns (45 euros) e double magnum (100 euros ). Não há nada igual no Douro. É um vinho seco e austero, ancião no estilo, com muito tanino e uma frescura natural deliciosa. Um branco de encher a boca,  que está em constante mutação no copo e que nos faz meditar sobre a bondade da tendência actual dos brancos de estágio curto e muito centrados na exuberância aromática.

Niepoort Turris 2012

Dirk Niepoort é o maior criador de vinhos do Douro e, provavelmente, do país. No Douro, já merecia uma estátua, tal tem sido o seu contributo para o desenvolvimento e o reconhecimento dos vinhos durienses no país e no mundo. Dirk anda sempre à frente, sabe perceber e antecipar tendências e pensa pela própria cabeça. Nem sempre é consensual, pelo menos perante alguma crítica, que não recebeu bem – por não ter entendido bem – algumas das suas criações, de estilo muito diferente ao que impôs na sua fase criativa inicial.

Como muita gente, Dirk também começou por fazer vinhos do Douro potentes e concentrados, mas também foi dos primeiros da região a seguir por outros caminhos e a fazer vinhos menos marcados pela madeira, menos opacos e encorpados e mais digestivos. O lançamento do Charme, no início da década passada, foi a pedra de toque e, ainda hoje, há quem olhe para este fantástico vinho, de estilo muito borgonhês, com algum desdém. Mas Dirk não cedeu e em 2012 fez um vinho ainda mais original e distinto, o Turris (115 euros).

É um tinto de uma vinha com mais de 130 anos, meio caótica, e que envelheceu 15 meses em pipas de mil litros com mais de 60 anos trazidas do Mosel, na Alemanha. Ao contrário do Charme, que é feito em lagares de granito, o Turris fermentou em cuba de inox com 25 por cento de engaço e o vinho ficou a macerar levemente após a fermentação durante cinco semanas.

É um vinho de grande profundidade e comprimento, com uma expressão mineral muito pura e fresca, surpreendentemente sedoso mas ao mesmo tempo cheio de garra. Parece saído de uma vinha-jardim coberta de orvalho, tal é o frescor da fruta e o viço das notas florais. Um Douro único, até mesmo em termos de imagem. Cada garrafa tem um rótulo diferente, desenhado directamente no papel pelo artista plástico João Noutel, cuja obra, na forma como explora “alguns paradoxos e contradições humanas, como o desejo, a tensão, a felicidade”, tem no Turris, lê-se na site da Niepoort, “uma criação análoga e representativa de arrojo e optimismo, elegância e sobriedade, numa perfeita ligação do presenta com o passado”.

Muxagat Os Xistos Altos Rabigato 2013

Mateus Nicolau de Almeida teve um bom mestre: o pai, João Nicolau de Almeida, um dos grandes obreiros da revolução operada nos vinhos tranquilos do Douro nas últimas três décadas. Mas Mateus nunca se remeteu ao conforto paterno e, com a criação do projecto Muxagat, no início da década passada, cedo mostrou ser um dos mais irreverantes enólogos da nova geração. Apostou em vinhos tintos menos alcoólicos e mais elegantes, criou um monocasta de Tinta Barroca (uma casta tradicional do vinho do Porto mas pouco utilizada em vinhos tranquilos) e elevou a casta Rabigato a um patamar nunca visto com a produção do vinho Xistos Altos, um dos melhores brancos do Douro e do país.

As uvas provêm de vinhas situadas a cerca de 500 metros de altitude na zona de Muxagata e Meda, no Douro Superior, e, depois de passarem dez horas em câmara frigorífica, são esmagadas directamente para uma prensa vertical e prensadas suavemente. O mosto é decantado numa cuba de cimento subterrânea e no dia seguinte é trasfegado para um tonel oval de carvalho francês de 2 mil litros e para uma cuba de cimento de 600 litros, onde fermenta com leveduras indígenas e onde estagia durante vinte meses.

Foi assim até à colheita de 2014. Em 2015, houve um volteface accionista e a empresa passou a ser dominada unicamente pelo empresário da Meda Eduardo. Mateus Nicolau Mateus saiu do projecto e a enologia dos vinhos Muxagat passou a ser assumida por Luís Seabra, ex-Niepoort. Custa 29 euros (na Garrafeira on-line da Tio Pepe)

Conceito Bastardo 2014

Apesar da sua juventude (33 anos), Rita Ferreira é uma enóloga com mundo, tendo passado já por Bordéus, Califórnia, Nova Zelândia e África do Sul. Mas o seu micro-cosmos é Cedovim, no Douro Superior, onde faz os vinhos Conceito e Contraste. Em 2007, quis produzir um vinho mais natural, com poucos sulfitos, e fez a experiência com Bastardo, na altura, uma casta com pouca relevância económica no seu negócio. A ideia era usar esta variedade apenas como cobaia. Se corresse mal, não seria o fim do mundo. A família já possuía dois hectares de Bastardo, plantados pelo avô, mas as uvas eram usadas para vinho do Porto.

Rita gostou tanto da experiência que passou a vinificar o próprio Bastardo, uma variedade de uva que origina vinhos abertos de cor e delgados, nos antípodas dos Douro clássicos, mais encorpados e concentrados. Equivalente ao Trousseau, do Jura (França), o Bastardo está presente no Douro desde os tempos pré-filoxéricos. Nas últimas décadas foi perdendo importância, sobrevivendo hoje quase só em vinhas velhas. Amadurece muito cedo e os seus vinhos tendem a ser muito alcoólicos (daí a casta ser utilizada no vinho do Porto) e, quando não o são, ficam algo rústicos.

Porém, quando  é domada, origina vinhos muito elegantes na boca e bastante frescos e impressivos no aroma, dominado pelas notas de cereja vermelha suculenta, como é o caso do Conceito Bastardo 2014 (18 euros).
Desde a sua primeira experiência, Rita fez Bastardo em todas as colheitas. O vinho é um sucesso e tem inspirado outros criadores. É verdade que não foi a primeira a produzir um tinto estreme de Bastardo. A Quinta do Côtto, quando este produtor era uma referência no Douro, terá sido o pioneiro e a Niepoort também faz, entre outros. Mas, se o Bastardo é hoje uma casta em crescendo no Douro, utilizada para vinhos mais finos e aptos a serem consumidos até um pouco mais frescos, como alguns brancos,  isso deve-se em boa parte ao trabalho e à insistência de Rita Ferreira.

Real Companhia Velha Séries Rufete 2010

Com o regresso do enólogo Jorge Moreira à casa onde se iniciou, a Real Companhia Velha deu início ao projecto Séries, no qual foi abrigando uma série de vinhos experimentais com castas portuguesas e estrangeiras. Uma das experiências mais originais envolveu a casta Samarrinho, uma variedade branca com presença regular nas vinhas velhas do Douro mas praticamente desconhecida. Depois de a replicar em vinha autónoma, a Real Companhia Velha avançou para a sua vinificação, obtendo um vinho diferente, de grante intensidade aromática e muito suave na boca. Com esta experiência, o Douro ganhou uma nova casta para a produção de brancos.

A Real estendeu o projecto também a algumas castas estrangeiras, como o Moscatel Ottonel, uma variedade com boa presença na Áustria, Suíça, Roménia e na região francesa da Alsácia. A empresa da família Silva Reis plantou dois hectares na zona de Granja, entre Alijó e Favaios, num planalto situado a cerca de 600 metros de altitude e onde se concentra a maior mancha de Moscatel Galego do Douro, a principal casta local. O Moscatel Ottonel adptou-se bem e mostrou ser mais resistente às doenças do que o Moscatel Galego e também mais fino e elegante, por ter uma acidez menos viperina (no entanto, quando é bem feito, o Moscatel Galego atinge um outro patamar).

Mas o maior contributo da iniciativa Séries para os vinhos do Douro foi a criação de um monocasta de Rufete. O Rufete 2010 (12 euros) deu início, de resto, ao projecto. Esta casta tinta também faz parte do encepamento tradicional das vinhas velhas do Douro, mas nunca foi uma aposta na produção de vinhos tranquilos, pela sua delgadez. Mas foi esse pormenor e a frescura e a jovilidade e exotismo aromático do Rufete que inspiraram a equipa de enologia da Real Companhia Velha a fazer um vinho diferente, um verdadeiro tinto de Verão. Um vinho para um novo Douro feito a partir do velho Douro.

Poeira Branco 2014

Ao contrário de outras regiões portuguesas, o Douro tem-se mantido mais ou menos fechado (por opção dos produtores) à introdução de castas estranhas à região. A enorme diversidade e riqueza das castas tradicionais existentes tem sustentado o desenvolvimento e o tipicismo dos vinhos tintos e brancos do Douro. A principal excepção está ligada aos espumantes, cujo incremento tem motivado a plantação de vinhas de Chardonnay e Pinot Noir. Estas são as duas variedades estrangeiras com maior expressão no Douro.

O Sauvignon Blanc também chegou a ser uma opção, mas como é demasiado precoce tem vindo a perder adeptos. Em contrapartida, castas um pouco mais “verdes”, como o Petit Verdot e a Syrah, parecem mais viáveis. Por exemplo, a Quinta do Noval, uma das mais tradicionalistas no vinho do Porto, produz um monocasta de Syrah, o Labrador, que é um caso de sucesso.  

Nas variedades tintas nacionais, tem havido uma corrida ao Sousão (o Vinhão dos Vinhos Verdes) e, mais recentemente, ao Alicante Bouschet (Alentejo), mas nenhuma destas duas castas é estranha ao Douro. Há Alicante em algumas vinhas velhas, tal como Baga da Bairrada, por exemplo, que já entrou no lote do primeiro Barca Velha, de 1952; e o  Sousão chegou ao Douro, vinda de Ponte de Lima, no século XVIII, através da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que pretendia usar esta casta tintureira como alternativa à baga de sabugueiro, muito utilizada na altura no fabrico dos vinhos. Durante a filoxera, o Sousão foi, juntamente com o Mourisco Tinto e o Tinto Cão, a casta que mais resistiu à praga.

Mesmo assim, nunca ganhou expressão no Douro. Com o advento dos Douro DOC, a região voltou a olhar para o Sousão, mas, em vez de ter replicado vinhas a partir das poucas videiras velhas existentes, foi buscá-la de novo ao Minho, deitando fora quase dois séculos de história e de adpatação da casta.

Do Minho veio também o Alvarinho, uma casta com muito potencial no Douro, onde, sobretudo nas zonas mais baixas e quentes, há algum défice de acidez nos vinhos. É discutível que o Douro tenha muito a ganhar com a importação de variedades estranhas à região, por muito boas que elas sejam. De qualquer forma, as castas sempre viajaram por todo o lado e só se fixam num lugar se derem provas. A história do Alvarinho no Douro é muito recente, mas o caso do Poeira Branco, de Jorge Moreira, feito só com uvas de Alvarinho, provenientes da mesma vinha onde nascem os magníficos tintos desta marca (junto a Provesende, Sabrosa), pode ser inspirador. Lançado pela primeira vez em 2012, tem tido uma reacção muito entusiasta por parte da crítica nacional e internacional. A revista americana Wine Spectator considerou mesmo o Poeira 2014 (30 euros) como o melhor branco português desta colheita. Pode ser um exagero, mas o vinho é muito bom (embora, na nossa opinião, não tenha a expressão mineral e o mesmo nível do Alvarinho Parcela Única, de Anselmo Mendes, do Soalheiro Primeiras Vinhas ou do Regueiro Alvarinho Primitivo, por exemplo) e é, como disse um dia Jorge Moreira, “a prova de que mesmo nos locais de maior tradição vale a pena inovar e arriscar quando se acredita”.

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