Fugas - monumentos

Miguel Manso

Parque e Palácio de Monserrate

Por Alexandra Prado Coelho ,

Enquanto D. Fernando II comprava mais terrenos e aumentava a sua propriedade da Pena, não muito longe dali, um milionário inglês, Francis Cook, fazia mais ou menos a mesma coisa na zona de Monserrate. O primeiro palácio desta propriedade, uma mansão neogótica, tinha já sido construído por um outro comerciante inglês, Gerard de Visme, no século XVIII.

Mais tarde, o escritor britânico William Beckford subarrendou o palácio mas na época da visita de Lord Byron a Portugal, em 1809, este estava já em ruínas, o que não impediu que, elogiado pelo poeta, se tornasse local de peregrinação para muitos visitantes estrangeiros. Cook foi um deles e encantou-se de tal forma que acabou por, em 1863, comprar a propriedade onde, com o arquitecto James Knowles, construiu um excêntrico palácio de influências medievais e orientais e um parque igualmente exótico.

Haveria uma saudável competição entre o rei e Cook para comprar terras e exibir os respectivos parques com espécies mais raras e extraordinárias (que entretanto se foram espalhando de forma espontânea pelo resto da serra, modificando a paisagem). Mas neste campeonato Cook tinha uma vantagem, explica Nuno Oliveira: “O clima e as características dos solos são distintas das da Pena, que tem um clima mais agreste, húmido e frio. Se esta consegue albergar conjuntos diversificados de colecções, Monserrate fá-lo de uma forma ainda mais exuberante, sobretudo com as plantas dos trópicos. E aí é mais marcada a diferença entre os vários ambientes: o Jardim do México, o roseiral, o Vale dos Fetos, o relvado em frente ao palácio.”

Os fetos, por exemplo, vêm da Nova Zelândia e da Austrália, “caríssimos à época”, e até a água é trabalhada para criar efeitos de som, correndo por cascatas que terminam em lagos de nenúfares antes de chegarmos, inesperadamente, ao árido “México”.

Quanto ao palácio, explica o director da Pena e Monserrate, Nunes Pereira, “Cook traz para Sintra um romantismo anterior, o mais velho deles todos, o inglês, onde tudo começou”. Como não tem necessidade da evocação da história portuguesa porque não tem qualquer função de Estado, “constrói uma ilha de romantismo britânico, fazendo uma síntese de referências revivalistas da Inglaterra, com um gótico marcado pela influência veneziana e referências à Índia ou ao Alhambra de Granada”.

Hoje, o palácio — que esteve também em muito mau estado mas está já totalmente recuperado — não tem mobília, embora haja em quase todas as salas fotografias que mostram como era no tempo dos Cook. Mas o exotismo da decoração nas paredes, tectos e chão, os painéis indianos de alabastro de Deli, a graciosa Sala de Música, os azulejos hispano-árabes, as colunas de mármores rosa, o jogo de profundidade do corredor que o atravessa ligando as três torres — tudo isso, mesmo com os espaços vazios de mobiliário, é suficiente para encantar os visitantes, que chegam com os olhos cheios dos lagos ornamentais, dos bambus e camélias, dos caminhos perfumados pelas glicínias e o jasmim, das cascatas artificiais e das criaturas mitológicas que os recebem à entrada do jardim.

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