Fugas - motores

Nuno Ferreira Santos

Peugeot 508 2.0 HDi Allure: O milagre de ser bom, bonito e barato

Por Luís Francisco

No mundo das berlinas familiares, há as alemãs e as outras. Melhor: havia. Com o lançamento do 508, que substitui o 407 e também? (muito provavelmente) o 607, a Peugeot encara de frente a concorrência mais selecta. O que nos surpreendeu é que os franceses desafiam os alemães na qualidade e arrasam todos no preço

Há sempre uma atmosfera especial quando um novo modelo sai para a luz do dia. Se o modelo em questão se assume como topo de gama, aí a expectativa fica ainda maior. Muitas vezes, o grande desafio dos construtores é não defraudarem as ilusões do mercado. Para a Peugeot, este problema estava um pouco esbatido, porque o 407 nunca foi um carro brilhante e o 607 pareceu sempre algo esotérico. Mas o construtor francês não facilitou: este é um dos grandes carros lançados nos últimos tempos.

A Peugeot jogou forte. Para começar, apresenta as versões berlina e carrinha ao mesmo tempo, atacando o mercado com todas as armas de que podia dispor. Também no preço: mesmo não considerando as ofertas de lançamento (que são de calibre...), o 508 surge em Portugal com preços quase inacreditáveis. A concorrência que se cuide. Quem está mais perto ainda é a Opel, mas o Insígnia correspondente custa mais 1300 euros. É, aliás, o único que se aproxima.

A partir daqui, as diferenças são abissais. Para comprar um VW Passat são mais 4150 euros; um Audi A4 sobe a diferença para os 4500; são precisos mais 6500 para chegar ao Citroën C5; o Renault Laguna avança rumo aos 7250; o Volvo S60 "puxa" a fasquia até aos 8450 euros...

Parece bom de mais para ser verdade e a primeira reacção é desconfiar do que se esconde por trás do preço. Olhemos então para o carro e sentemo-nos ao volante, para perceber se há concessões ao nível da qualidade que justifiquem estes preços. A missão inicial é fácil: apesar de uma frente que não entusiasma por aí além, o 508 é um carro muito bonito, com uma silhueta elegante e fluida. E uma traseira verdadeiramente espectacular.

Lá dentro, os materiais são bons, a montagem não tem falhas óbvias, há bastante espaço e nota positiva para a ergonomia, se exceptuarmos alguns pormenores, como a dificuldade para encaixar o trinco dos cintos de segurança à frente. No capítulo da instrumentação, referência negativa para a excessiva proliferação de comandos nas versões mais equipadas (como era o caso da viatura de teste), o que, inclusive, rouba espaços para arrumos.

Mais uma vez, o desempenho tristonho do antecessor 407 funciona a favor do 508 no que respeita ao espaço interior. Não é avassalador, mas mostra-se francamente interessante atrás (não tanto à frente), com espaço para as pernas e em largura, e existe uma bagageira muito boa, que seria imbatível se a Peugeot tivesse optado por um pneu suplente de emergência ou um "kit" anti-furos. Não o fez, e ainda bem.

Será na mecânica? - interrogamo-nos, ainda convencidos de que a bela tem de ter um senão. Mas o que encontramos é um motor muito competente e poupado - parece notar-se algum "estrangulamento" a baixa rotação, o que pode ser um truque para baixar os consumos. Se não é, parece: as recuperações são muito boas em sexta e fracas em terceira.

A direcção é excelente, pesada q.b. e muito comunicativa. Os travões não dão parte de fracos. O comportamento é interessante, sem que isso prejudique o conforto. Aliás, este é um carro muito confortável, o que eleva a suspensão à categoria das melhores que por aí andam. O ponto menos conseguido é mesmo a caixa de velocidades, que até está bem escalonada e se mostra de trato suave, mas não é particularmente rápida e, por ser muito compacta, conduz com alguma frequência a erros de manuseamento (como reduzir de sexta para terceira).

Se não é nos materiais nem na mecânica, será no equipamento que a Peugeot fez economias? Mais uma vez, a resposta é: não. O 508 oferece tudo o que se espera e, nesta fase de lançamento, nem sequer é preciso pagar à parte extras como o sistema de navegação (que não impressionou por aí além, saliente-se) com ecrã de sete polegadas ou as jantes em liga leve de 18 polegadas.

É claro que não há carros perfeitos e, para lá das chatices ocasionais com a caixa de velocidades, também não vamos gostar da manobrabilidade (o raio de viragem é de 6,15m, um valor bastante fraco), apanharemos uma ou outra irritação com a teimosia das portas em não se segurarem em posições intermédias (o que é assassino nos modernos parques de estacionamento) e teremos de nos habituar aos problemas de visibilidade causados pela inclinação dos pilares dianteiros e pelo volume da bagageira (uma opção em falta é a câmara de estacionamento).

Mas se abrir as portas é uma chatice, vamos fechá-las. E escutar. O som cavo é um claro indicador de qualidade de construção. Estamos novamente cá fora e só há uma conclusão possível: a Peugeot alcançou o milagre dos três "B". Fez um carro bom, bonito e barato. Notável.

Barómetro

+ Preço, visual, suspensão, direcção, espaço, qualidade geral

- Manobrabilidade, alguns pormenores de ergonomia, visibilidade, caixa melhorável, falta de espaços para arrumos

Chatice

Nas versões mais equipadas, a profusão de comandos "canibaliza" o espaço para arrumos. Os locais para colocar pequenos objectos são poucos, tão poucos que o único sítio prático que sobra para colocar a chave (desnecessária para pôr o carro a trabalhar) é mesmo o cinzeiro... As bolsas nas portas são pequenas, o compartimento na consola central idem (e um bocadinho recuado demais para ser confortável). Houve aqui um deficiente trabalho de planificação.

Progresso

O sistema não é revolucionário (já existe na Renault e na BMW, por exemplo), mas estreia-se nos modelos da Peugeot. A "central de controlo" na consola - beneficiando do espaço disponibilizado pela opção por um travão de estacionamento eléctrico e com o comando do lado esquerdo do volante - é muito prática e intuitiva. Computador de bordo, navegação, rádio, telefone, tudo à distância de um toque. Memorizando a posição relativa de cada botão, e graças à existência de um comando redondo que serve para seleccionar opções no ecrã, é possível operar todo este conjunto sem tirar os olhos da estrada.

Excelente

A sensação de conforto a bordo do 508 é qualquer coisa de notável. As irregularidades do piso perdem relevo, não há balanços exagerados e, por causa da boa insonorização, há alturas em que até parece não estarmos em movimento. Conseguir tudo isto sem beliscar o tradicional bom desempenho dinâmico da marca é uma proeza assinalável. Um dos pontos fortes deste modelo.

De saudar

Se o cliente optar por jantes de 18 polegadas (em vez das de série, que são de 17), o pneu suplente será de emergência. Mas na configuração normal temos a boa notícia de encontrar, no fundo da bagageira, um pneu a sério, igual aos outros. Uma roda destas dimensões ocupa muito espaço, mas as generosas dimensões da bagageira (que está equipada com argolas, ganchos e cintas para pequenos volumes) possibilitam esta "loucura". Que é cada vez mais rara (até por razões economicistas) nos tempos actuais e, por isso, se saúda.

FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 1997cc
Potência: 140cv às 4000 rpm
Binário: 320 Nm às 2000 rpm
Cilindros: quatro
Válvulas: 16
Alimentação: turbodiesel de injecção directa por conduta comum
Tracção: dianteira
Caixa: manual, de seis velocidades
Suspensão: Pseudo McPherson, à frente; multibraços, atrás
Direcção: Pinhões e cremalheira, com assistência variável
Travões: discos ventilados à frente, discos atrás

Dimensões

Comprimento: 479,2 cm
Largura: 185,3 cm
Altura: 145,6
Peso: 1430 kg
Pneus: 215/55 R17
Capac. depósito: 72 litros
Capac. mala: 515 litros

Prestações

Veloc. máxima: 210 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 9,8s
Consumo misto: 4,8 litros/100 km
Emissões CO2: 125 g/km

Preço: 35.050 euros (gama começa nos 27.750 euros)

EQUIPAMENTO

Segurança

ABS: Sim
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim (à frente)
Airbags cortina: Sim (à frente e atrás)
Airbag joelho para o condutor: Não
Controlo de tracção: Sim
Controlo de estabilidade (ESP): Sim
Ajuda ao arranque em subidas: Sim
Sistema "lane assist": Não

Vida a bordo

Vidros eléctricos: Sim
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Direcção assistida: Sim
Travão de estacionamento eléctrico: Sim
Arranque sem chave: Sim "Head-up display": Opção (390 euros, com rádio mais evoluído)
Indicador de mudança de velocidade: Sim
Retrovisores eléctricos: Sim (rebatíveis e aquecidos)
Ar condicionado: Sim (automático de duas zonas; em opção, com quatro zonas e cortinas nos três vidros traseiros: 350 euros)
Tecto de abrir panorâmico: Não
Abertura do depósito no interior: Sim
Jantes especiais: Sim
Rádio CD e MP3: Sim
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em profundidade: Sim
Volante em couro: Sim
Computador de bordo: Sim
Bancos dianteiros eléctricos e aquecidos: Opção (450 euros; em pele, 900 euros)
Regulação do comprimento dos bancos dianteiros: Opção (200 euros)
Porta-luvas refrigerado: Sim
Navegação por GPS: Sim (oferta de lançamento)
Regulador de velocidade: Sim (e limitador)
Sensores de chuva: Sim
Sensores de luminosidade: Sim
Sensores de estacionamento: Sim (atrás; em opção, também à frente e medidor de espaço de estacionamento: 290 euros)
Indicador da pressão dos pneus: Não
Faróis de nevoeiro: Sim
Faróis bi-xénon: Opção (950 euros, com assistente de máximos e lava-faróis)
Pneu suplente igual aos outros: Sim

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