Barómetro
+ Visual, filosofia, travões, direcção, comportamento, consumos, qualidade geral
- Limitações desportivas, comando dos “piscas”, caixa automática algo lenta, insonorização
Não são carros para toda a gente e ainda menos para todas as ocasiões. Só têm dois lugares, gostam de andar sem capota, quase sempre marimbam-se para os consumos e, regra geral, não perdem uma oportunidade para lembrarem ao condutor que andar devagar não é uma opção. Sim, os roadsters são um sonho, o brinquedo cobiçado por todos os que gostam de automóveis, o símbolo máximo de como um carro do quotidiano pode inflamar paixões.
Mas. E um grande “mas” – costumam ser caros, pouco dados a economias de combustível, temperamentais e muito restritivos no leque de utilizações. Não há volta a dar. Estes carros são brinquedos para privilegiados e, se é verdade que algumas marcas têm feito honrosas tentativas para democratizar o conceito, quando chegamos ao nível premium não vale a pena ter ilusões.
Ainda assim, e essa é a primeira boa notícia, a nova geração do SLK consegue apresentar-se com preços interessantes. A versão 1.8 com caixa automática é 600 euros mais barata do que o início de gama do BWM Z4 (o 2.3) e só é batida pelo primeiro Audi TT de caixa automática (Roadster 2.0 TFSI S tronic de 211cv) em 370 euros. Mais barato uns bons 5000 euros, o clássico Alfa Romeo Spyder 2.0 JTD de caixa manual, não é, propriamente, deste campeonato...
São, ainda assim, mais de 50.000 euros – fora extras; e a viatura testada tinha outros 16.000 em opções – a dar por um carro com um espectro de utilização bastante limitado. Que, até por isso, costuma centrar-se muito na figura do condutor. O puro gozo de conduzir um “bicho” destes costuma ser a motivação principal de quem pode dar-se um presente destes (e há sempre uma componente exibicionista, não vale a pena escondê-lo...).
Curiosamente, e mesmo tendo em conta que esta é a motorização menos exuberante da gama, o SLK 200 CGI destaca-se da concorrência por ser um carro bastante civilizado. Será uma desvantagem para quem procura, quase exclusivamente, emoções fortes. Mas não pode deixar de constituir uma bela novidade para todos os que não têm paciência para passar a vida a tentar evitar que os cavalos tomem o freio nos dentes. Ao contrário de um Z4, por exemplo, o SLK pode conduzir-se como um carro “normal”.
E também gasta pouco. Ao longo de mais de 400 quilómetros e sujeito a um variado leque de utilizações – que incluiu alguns arranques mais vertiginosos e duas ou três situações prolongadas de pára-arranca –, o consumo rondou os 9,5 litros aos 100 km. Para mais, o carro vem equipado com a função Start/Stop, que desliga o motor quando o veículo está parado (volta a ligá-lo se levantarmos o pé do travão ou virarmos o volante e, coisa pouco vista, volta a desligar-se imediatamente a seguir se repusermos as condições iniciais).
Estas virtudes de civilidade são, no entanto, a face da moeda que está do lado oposto às limitações desportivas do modelo nesta motorização. O SLK de caixa automática não é um carro nervoso: as relações são longas e às vezes a transmissão parece reagir com um pequeno atraso que não é expectável num desportivo. Nestas alturas, vale a pena optar pelo comando sequencial ou pelas patilhas no volante.
É claro que esta ditadura da suavidade só se nota quando adoptamos comportamentos e andamentos mais desportivos – existe uma função de condução específica para estes momentos. Nesta filosofia mais radical, lá se vai o conforto mas, digam o que disserem, acelerar a fundo e sentir o eixo traseiro a fincar-se no asfalto continua a ser das sensações mais “sufocantes” da vida ao volante. Mesmo com “apenas” 184cv...
Por fora, a evolução estética é notável. Antigamente, os SLK eram apenas uma espécie de Mercedes em escala mais reduzida. Tudo bem, principalmente para quem sempre olhou com algumas reservas para o volume da generalidade dos modelos da marca. Mas isso começava a ser pouco face à concorrência. Este SLK é bem mais agressivo visualmente, com pormenores que denunciam a sua vocação desportiva. E, claro, uma linha elegantíssima, ainda mais espantosa quando se baixa a capota.
Em termos de qualidade geral, de requinte e equipamento, estamos num Mercedes e pronto. A atmosfera interior é impecável; os materiais de muito bom nível. Os dois lugares disponíveis (que obrigam a alguma ginástica para entrar se a capota estiver colocada) são muito envolventes e se há alguma coisa na vida a bordo que parece aquém do que seria expectável é a insonorização, com ou sem cobertura.
Simpático
Ao princípio parece um disparate de design: então a entrada para a bagageira não permite mais do que a passagem de uma pasta de executivo?! Então e um saco de desporto, por exemplo? Calma. Apesar da impressão inicial, a situação resolve-se de forma muito prática. Uma simples pega permite recolher a tampa do compartimento da capota, disponibilizando os generosos 335 litros da bagageira. A única dúvida é se esta peça terá a solidez necessária para resistir às nossas estradas...
Interessante
Podemos achar que não é prioritário ter um tecto transparente num descapotável. Mas isso seria esquecer que há muitos dias do ano em que o Sol faz gazeta. O SLK vem de série com um tecto metálico, mas a opção por um de vidro não é cara (540 euros) e faz uma grande diferença. Mas a maior novidade é o Magic Sky Control, um tecto equipado com polímeros que, regulados por um botão, permitem controlar a quantidade de luz que entra no habitáculo. Parece ficção científica e custa 2675 euros.
Dar nas vistas
A grelha dianteira, o pequeno aileron traseiro, as entradas de ar laterais. São sinais evidentes do carácter desportivo do modelo, mas marcam, também, um corte com o passado. Os SLK sempre foram bastante mais discretos. Com a filosofia visual agressiva da BMW a marcar pontos, os estilistas da Mercedes decidiram não se ficar e trouxeram para os modelos menos potentes alguns pormenores que só costumavam aparecer nos topos de gama. Resultou.
Complicação
Não há qualquer comando do lado direito do volante. E há dois do lado esquerdo. O de cima serve para o controlo de velocidade, o de baixo conjuga limpa-pára-brisas e indicadores de mudança de direcção. Primeiro problema: o que fica mais junto à mão quando esta segura o volante é o do controlo de velocidade e, por isso, demora um bom bocado até conseguirmos fazer um “pisca” em condições. Segundo problema: os controlos dos limpa-pára-brisas não são muito intuitivos.
FICHA TÉCNICA
Mecânica
Cilindrada: 1796cc
Potência: 184cv às 5250 rpm
Binário: 270 Nm entre as 1800 e as 4600 rpm
Cilindros: 4
Válvulas: 16
Alimentação: Injecção directa de gasolina, turbo
Tracção: Traseira
Caixa: Automática, de 7 velocidades, com função sequencial e patilhas no volante
Suspensão: Multilink, à frente; independente multilink, atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, assistida hidráulica
Travões: Discos ventilados à frente, discos atrás
Dimensões
Comprimento: 413,4 cm
Largura: 181,0 cm
Altura: 130,1 cm
Peso: 1470 kg
Pneus: 205/55 R16
Capac. depósito: 60 litros
Capac. mala: 335 litros
Prestações*
Velocidade máxima: 237 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 7,0s
Consumo misto: 6,1 litros/100 km
Emissões CO2: 142 g/km
Preço: 52.758 euros (viatura ensaiada: 66.156 euros)
* Dados do construtor
EQUIPAMENTO
Segurança
ABS: Sim
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim
Airbags cortina: Sim
Airbag joelhos para o condutor: Não
Controlo de tracção: Sim
Controlo de estabilidade: Sim
Assistência ao arranque em subidas: Sim
Sistema de alerta de cansaço do condutor: Sim
Vida a bordo
Vidros eléctricos: Sim
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Direcção assistida: Sim
Retrovisores eléctricos: Sim (aquecidos)
Ar condicionado: Sim (automático, em opção: 930€)
Abertura depósito interior: Não
Abertura mala do interior: Sim
Jantes especiais: Sim
Pedais desportivos: Sim
Travão de estacionamento eléctrico: Sim
Rádio CD: Sim (com MP3, USB, Bluetooth)
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em profundidade: Sim
Computador de bordo: Sim
Alarme: Opção
Tecto panorâmico: Opção (540 ou 2675€)
Bancos desportivos: Sim
Bancos dianteiros eléctricos: Opção (pack Memórias: 1680€)
Bancos aquecidos: Opção (430€)
Estofos em pele: Opção
Navegação por GPS: Opção (com vídeo, ecrã de 17,8 cm, carregador de DVD, etc: 3870€)
Regulador de velocidade: Sim
Sensores de chuva: Opção (145€)
Sensores de luminosidade: Sim
Sensores de parqueamento: Não
Sistema de estacionamento activo: Opção (980€)
Indicador de pressão dos pneus: Sim
Faróis bi-xénon: Opção (com iluminação variável, LED diurnos, sistema de lavagem de faróis: 1600€)