Depois do renascimento do Giulietta por altura do centenário da Alfa Romeo, há um ano, o modelo que quer voltar a marcar uma posição no segmento dos compactos familiares, ao mesmo tempo que faz uma perninha entre os mais atraentes coupés ao disfarçar sabiamente os manípulos das portas traseiras, chega com um motor 2.0 JTDm de 140cv. Dispõe de sistema Start&Stop de série e anuncia-se como estando "no topo da classe" em "performance, binário e aceleração", ao mesmo tempo que apresenta baixas emissões de CO2: 119 g/km.
A nova motorização, com um preço de venda ao público a partir de 30.900 euros (mais cerca de cinco mil euros do que a versão 1.6 JTDm-2 de 105cv), é gerida por uma caixa de seis velocidades. Em regime Normal (o carro possibilita ainda uma condução desportiva em modo Dynamic ou, mais segura, em condições meteorológicas extremas com All Weather), a mecânica comporta-se de forma a obter os mais baixos consumos e emissões possíveis, ao que o cada vez mais popular Start&Stop dá uma ajudinha - embora no caso deste Giulietta perturbe algumas vezes, ao mostrar-se hipersensível a qualquer paragem desengatada e mostrando-se demasiado demorado no respectivo reinício. Ou seja, sempre que o carro é imobilizado e desengatado o motor desliga-se, reiniciando-se pela pressão na embraiagem ou pelo deslizamento do veículo. Isto, desde que o ar condicionado esteja desligado ou, depois de andar tempo suficiente, a funcionar no mínimo; caso contrário, o sistema fica indisponível pela exigência de energia.
Talvez, por tudo isto, embora os 140cv revelem prontamente a sua força (a marca reivindica um binário máximo de 350 Nm às 1750 rotações por minuto), nota-se algum atraso na engrenagem de velocidades, o que, em aceleração, cria um vazio desconfortável entre o engate de uma primeira e segunda, por exemplo. Embora, sublinhe-se, compense logo de imediato na relação pretendida.
O mesmo não se observa quando em modo Dynamic, que embora saia mais caro (basta dar uma espreitadela aos consumos instantâneos com que o ecrã frontal nos vai chocando; a conjunção de ambos os regimes mostrou um consumo de 8 l/100 km; a marca anuncia um consumo de 5,6 l/100 km na cidade, mas em modo Normal), é uma tentação assim que se sai do circuito urbano: o motor solta-se e torna-se evidente que, não obstante a sua missão familiar, o que estes 140cv querem é rédea solta.
Tanto a direcção - que revela um elevado nível de precisão - como os travões se adaptam facilmente a quaisquer dos regimes: mais leves e confortáveis no modo Normal; mais pesados e rápidos em modo Dynamic. Excepto o pedal de acelerador, que se mostra muito mais sensível, e até nervoso, neste modo; desaconselhado portanto ao pára-arranca citadino. Mas em estrada ou auto-estrada, não há motivos para deixar o condutor nervoso: a estabilidade é garantida quer pela suspensão, quer pelos seus bem distribuídos 1320 quilos. Por tudo isto, o Giulietta permite aventuras conscientes, mesmo que em curvas acentuadas e acompanhadas pelo trovar do motor que, em qualquer dos tipos de condução, não prima pelo silêncio.
Familiar...q.b.
Ainda sem sequer enfiar a chave na ignição, decidimos fazer a prova dos nove: terá este Giulietta lugar no segmento dos familiares compactos como faz crer? Volvidos alguns esforços e uma certa ginástica, e embora, vendo o carro do exterior, parecesse no mínimo improvável, cumpriu-se a tarefa de encaixar três cadeirinhas no assento traseiro - não sobrou muito espaço para pernas e pés dos petizes, mas o carro serve a sua função familiar. E, uma vez lá dentro, a alegria está garantida: as preferências dos pequenos passageiros vão logo para as luzinhas de aviso de cinto de segurança a catrapiscarem e para a posição conquistada no interior do habitáculo, em linha com as janelas e permitindo vistas desafogadas mesmo para os mais baixinhos
O único inconveniente é que quem se senta no meio não tem grande alternativa se não pular por cima das cadeirinhas vizinhas. Além disso, quem segue no lugar do acompanhante da frente corre o risco de ficar com os joelhos entalados na barra abaixo do porta-luvas caso os lugares traseiros sigam ocupados. Teste efectuado, conclui-se que a vertente familiar do carro tem como limite máximo uma família de quatro
Familiar e/ou desportivo, uma coisa é certa: por onde circule este Alfa Romeo, como comprovámos, não passa despercebido e é alvo constante de olhares gulosos e indiscretos, o que só vem salientar, mais uma vez, a sedução colectiva da marca e, particularmente, deste modelo, não em vão baptizado tão romanticamente. Deixando para trás o inspirador Shakespeare e os seus dramas, é carro para garantir finais felizes a muitos Romeus e Julietas.