Fugas - motores

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O Beetle é uma espécie de máquina do tempo

Por Luís Francisco

Quem conduziu o Carocha original, pode ansiar por uma experiência mais intensa. O Beetle geração 2012 é um carro competente e muito bonito, mas com comportamento demasiado similar ao de outros carros. Sobram, como extra de sedução, alguns pormenores e as linhas.

Para os que gostam de recordar que a silhueta do Porsche 911 é apenas a de um Beetle achatada, a nova versão do histórico carro da Volkswagen aproxima-se ainda mais desse olhar. O Beetle 2012 é mais comprido, mais largo e mais baixo do que o seu antecessor, criando uma linha mais apelativa e moderna. Ainda assim, este será sempre um modelo-tributo. E isso cria uma relação diferente com os seus potenciais compradores.

Porquê pagar mais por um Beetle do que pelo Golf com motorização correspondente? A pergunta dificilmente pode ser respondida em registo racional: o Golf é muito mais carro em todos os sentidos. Excepto nesse misto de carácter vagamente desportivo e aura revivalista que recupera para o Beetle o estatuto de culto. Sabendo disso, fácil seria ao construtor alemão capitalizar essa vertente de paixão e limitar o Carocha a um nicho de mercado. Mas não.

Sendo um carro especial, e com algumas idiossincrasias incontornáveis, o Beetle moderno assumiu nesta segunda vida uma vocação mais universalista do que outros "renascidos" - como o Mini ou o Fiat 500. E esta geração acentua ainda mais essa preocupação de oferecer um produto cujo apelo vá muito além do seu visual revivalista. A missão foi cumprida, embora pagando o seu preço.

O primeiro, claro, é o custo. Olhando apenas para os preços, não há razão para preferir o Beetle em detrimento de outros modelos de potência similar, melhores consumos e mais espaço a bordo. O que esses não têm é este pedigree... E talvez essa virtude seja também o maior problema: quando nos sentamos ao volante, estamos à espera de uma experiência diferente, de uma viagem no tempo. Então para quem, no passado, conduziu um Carocha, a ilusão é quase incontornável. E, no entanto, este é um carro normal.

Se estávamos à espera de sentir o habitáculo adornar nas curvas, azar. Se queríamos sentir mais as vibrações do motor, tiremos daí a ideia. Se procuramos uma espécie de ligação directa à estrada, mais vale ir bater a outra porta. O Beetle curva bem, filtra as irregularidades do piso, disfarça o ruído. Não é brilhante em qualquer destes itens, mas não envergonha. Ou seja, é um carro normal.

Bolas! Dava jeito que não o fosse... era mais fácil escrever sobre o tema. Mas, ainda assim, desengane-se quem já esteja a imaginar um produto branco, indistinto, sem características próprias. O Beetle tem a sua personalidade. É é feita de detalhes, não de uma certidão de nascimento especial. A suspensão, por exemplo, é um bocadinho mais dura do que a do Golf e o comportamento menos dinâmico do que o do Polo - forçar o eixo traseiro a deslizar não é tarefa fácil. A direcção é bastante equilibrada; a insonorização competente, embora abaixo do que se pratica na marca.

Nesse pormenor, o de se ouvir o ruído do motor, o carro alimenta um pouco a saudade. Mas este é um motor moderno, potente para a sua cilindrada e com um "rugido" muito engraçado. A mesma filosofia parece ter sido aplicada aos materiais interiores, que não têm a mesma qualidade que encontramos no Polo ou no Golf, mas acabam por resultar, em função de opções estéticas agradáveis. Como a receita já funcionava bem no pequenino Up!, é caso para dizer que há na Volkswagen departamentos de design a trabalhar muito bem.

A dúvida que fica, depois de testar a motorização de entrada na gama, é perceber até que ponto o passado do Beetle terá de ser (ainda) mais "descaracterizado" para acolher maior potência. Com 105cv sobre o eixo dianteiro, sentimos bem a força do motor, controlamos de forma sóbria os andamentos e as trajectórias, viajamos com níveis de conforto aceitáveis. Nada disto é superlativo. Mas é, apesar de tudo, gerador de algumas memórias deliciosas. Aumentando a potência, será preciso agarrá-la de forma ainda mais ostensiva, o que obriga a afinar os compromissos mecânicos.

Por outras palavras, se este Beetle já está longe do seu antepassado, qualquer versão mais potente (nomeadamente a de 200cv) poderá vir a tornar o carro ainda mais parecido com todos os outros, em nome dos parâmetros de segurança. Se isso acontecer para criar padrões de excelência em termos dinâmicos (como sucede com o Mini), então será de saudar. Caso contrário, ficaremos limitados a apreciar o ícone visual. Ainda assim, vale a pena.


BARÓMETRO

+ Visual, motor, caixa de velocidades, lugares dianteiros, preocupação universalista

- Preço, lugares traseiros, revivalismo muito controlado, comportamento demasiado "moderno"


Notável

A atenção posta no desenho dos interiores faz com que a utilização de materiais menos interessante não penalize o conjunto. Mas é na criação de espaços para arrumos que a VW marcou mais pontos: eles são vários, de boas dimensões e acessibilidade fácil, com acabamentos interessantes na maioria dos casos. Existem mesmo dois porta-luvas. Nenhum deles tem é iluminação. Aliás, faltam luzes a bordo. E, já agora, os cintos de segurança ficam um bocadinho fora de mão quando temos de os puxar por cima do ombro.

Saudades
A pega lateral de couro não é apenas uma poderosa vitamina da memória, por nos levar imediatamente até aos Carocha de antigamente. Mostra-se muito prática para quem quer sair dos lugares traseiros, por fornecer um bom ponto de apoio e de fácil utilização. A sua presença, no entanto, tem um efeito "perverso": deixa-nos a pensar se seria assim tão difícil ter acesso a mais alguns pormenores que fizessem a ponte com o passado do modelo...

Limitados
Em largura, cabem dois. Em altura, há que evitar gente de estatura acima de 1,70m. Em profundidade, convém encaixar bem os joelhos. Os lugares traseiros do Beetle não são um exemplo de espaço e funcionalidade. Cumprem a sua função básica, que é estarem lá, mas depois começam os problemas. Até uma criança na sua cadeira pode ver-se com as pernas "apertadas" se quem viaja à frente recuar muito o seu banco. O acesso é bastante razoável.

Cinzento
O comportamento do Beetle não é bom nem mau. É eficaz, sim; é rotineiro, também. Sem precisar de provar o que quer que seja a esse nível, a VW podia ter aproveitado esta oportunidade para criar um conceito diferente, inovador, que pudesse estabelecer um arco virtuoso entre o passado e o futuro. Mas não. Conduzir o Beetle é um pouco como conduzir outro VW qualquer. É bom. Mas não faz a diferença. Que pena.


FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 1197cc
Potência: 105cv às 5000 rpm
Binário: 175 Nm entre as 1550 e as 4100rpm
Cilindros: 4
Válvulas: 8
Alimentação: injecção directa de gasolina, turbo
Tracção: dianteira
Caixa: manual de 6 velocidades
Suspensão: Tipo McPherson, à frente; eixo rígido, atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica variável,
Travões: Discos ventilados à frente, discos atrás
Dimensões
Comprimento: 427,8 cm
Largura: 180,8 cm
Altura: 148,6 cm
Peso: 1349 kg
Pneus: 215/55 R17
Capac. depósito: 55 litros
Capac. mala: 310 litros

Prestações*

Velocidade máxima: 180 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 10,9 s
Consumo misto: 5,9 litros/100 km
Emissões CO2: 137 g/km
* Dados do construtor

Preço: 22.450€.


EQUIPAMENTO

Segurança

ABS: Sim
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Não
Airbags de cortina: Sim (cabeça/tórax, à frente)
Controlo de tracção: Sim
Controlo de estabilidade: Sim
Ajuda ao arranque em subida: Sim
Vida a bordo
Arranque sem chave: Opção (325€)
Vidros eléctricos: Sim (à frente)
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Direcção assistida: Sim
Retrovisores eléctricos: Sim
Ar condicionado: Sim
Abertura depósito interior: Não
Abertura mala do interior: Não
Bancos traseiros rebatíveis: Sim
Jantes especiais: Sim
Rádio CD: Sim (com MP3)
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em profundidade: Sim
Computador de bordo: Sim
Alarme: Opção (190€)
Bancos dianteiros eléctricos: Não
Bancos dianteiros aquecidos: Não
Estofos em pele: Opção (2467€)
Tecto de abrir panorâmico: Opção (1136€)
Porta-luvas refrigerado: Não
Navegação por GPS: Opção (788€)
Regulador de velocidade: Sim
Sensores de chuva: Sim
Sensores de luminosidade: Não
Sensores de estacionamento: Sim (à frente e atrás)
Indicador de pressão dos pneus: Sim
Faróis xénon: Opção (700€)

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