Quando se puxa a coluna da direcção para cima, há duas conclusões rápidas a tirar: em primeiro lugar, por mais que se tente subi-la, ela nunca chega a uma configuração sequer perto da tradicional; em segundo lugar, na sua posição mais elevada, o volante tapa quase na totalidade o painel onde se situam o conta-rotações e o velocímetro. Ou seja, mesmo subindo o banco um bom bocado, rapidamente concluímos que o melhor é habituarmo-nos a conduzir com o volante muito baixo.
A Peugeot diz que é um truque para não desviar tanto os olhos da estrada. Talvez resulte. Mas é um preço demasiado alto a pagar pela vantagem minimal nos tempos de reacção visual. Até porque, mais ainda do que as questões ligadas à ergonomia, este primeiro contacto pode deixar-nos a pensar que vamos conduzir algo que, decididamente, este 208 não é: um carro com vocação desportiva.
Diga-se que o desenho exterior, muito bem conseguido, também faz a sua parte para vender esta ilusão. O 208, sucessor do 207, rompe com a regra do "crescimento contínuo" que se impõe na indústria automóvel e é mesmo mais pequeno por fora do que o modelo que o antecede. Mais pequeno e mais bonito, por ser incrivelmente compacto. Parece uma pequena tartaruga "acelera", arredondada e robusta.
E é a pensar em tudo isto que nos sentamos ao volante. São só 92cv, mas, com este peso, será que a Peugeot voltou a surpreender-nos com um daqueles pequenos desportivos que têm feito muita da fama da marca do leão? Desilusão. Ou melhor, para sermos justos, será antes de falar em perder as ilusões (o que não é a mesma coisa). Com estas dimensões e os argumentos mecânicos de que dispõe, sim, o Peugeot 208 1.6 e-HDi é um carrinho despachado, mas não tem argumentos desportivos.
A suspensão até se mostra durinha q.b., prenunciando um bom desempenho em curva, mas depressa percebemos que essas limitações de conforto acontecem principalmente em pisos degradados, o que também tira alguma vontade de procurar trechos sinuosos onde não possamos ter a certeza de encontrar um bom tapete de asfalto. Só que isso ainda é o menos. Onde a aura desportiva sai de cena é mesmo na embraiagem lenta e na direcção um pouco menos comunicativa do que seria de esperar. A caixa também é curta e o motor hesita a baixa rotação.
Ou seja, se os fãs da Peugeot andarem à procura de um carrinho divertido para acelerar, podem começar a procurar noutro lado. A começar pelo leque de propostas da própria marca, que nesse terreno em particular não se deixa intimidar por ninguém. Piscando o olho a uma clientela mais jovem do que a do 207, o novo leãozinho parece menos universalista do que o modelo a que sucede, mas que, por enquanto, ainda não substitui.
O ambiente a bordo é agradável, graças aos materiais de bom nível e aos acabamentos sem falhas; o nível de equipamento não envergonha; a sensação geral de conforto não sofre em excesso com a susceptibilidade da suspensão a maus pisos, até porque os bancos são agradáveis. Parece a descrição de um pequeno carro de família. E até pode ser, desde que ninguém pense em transportar três adultos atrás...
Para quem se senta ao volante, é bom contar com um ecrã táctil de manuseamento intuitivo e um quadro de instrumentos legível e ergonómico. Mas as limitações de visibilidade são grandes a 3/4, tanto para a frente como para trás, por causa do desenho dos pilares. E é também a estética que obriga a que se só se possam abrir os vidros traseiros até dois terços da janela.
Com preços que alinham por cima com os da concorrência, a Peugeot corre o risco de, num tempo em que cada cêntimo conta, assustar alguns potenciais compradores. Mas vale a pensa assinalar que os consumos são baixos. E que o equipamento opcional sai muito em conta.
BARÓMETRO
+
Visual exterior, qualidade geral, conforto, instrumentação, motor económico, espaço e ergonomia
-
Embraiagem lenta, espaço em largura atrás, posição de condução duvidosa, visibilidade, preço
ZOOM
Habituação
É mesmo uma questão de hábito, mas quem não gosta dificilmente estará pelos ajustes. Se pertence ao grupo dos que gostam de conduzir com os braços esticados e não mede 1,90m, a disposição do volante e da coluna de direcção neste carro nunca será a ideal. Estranha-se e não se entranha. O volante, em particular, é pequeno e ligeiramente cortado, para não chocar com os joelhos. Colocado na sua posição mais alta, tapa metade do painel de mostradores. Ficam muitas dúvidas sobre esta opção de design, alegadamente escudada em critérios de segurança (painel de instrumentos colocado mais alto, menor desvio dos olhos da estrada).
Chata
Talvez falte uma sexta velocidade, talvez as preocupações de economia tenham levado a melhor. A verdade é que a caixa de velocidades do 208 é um bocadinho a dar para o chato... Mostra-se lenta (por causa da embraiagem) e essa fraqueza, aliada à falta de pujança do motor a baixa rotação, mata à nascença quaisquer pretensões de fazer uma condução mais agressiva. Ganha-se nos consumos, claro, mas um carro com este visual exterior e claramente apontado a um público jovem só teria a ganhar com um carácter mais vivaço.
Poupança
No fundo da bagageira está o compartimento destinado a albergar o pneu suplente. Mas não há quinta roda a bordo. Em vez disso, o inefável kit de reparação de furos, promessa de grandes aborrecimentos em caso de rasgão ou rebentamento... Durante algum tempo, as marcas ainda tentaram argumentar sobre a bondade da opção por não colocar pneu suplente nos seus modelos. Mas a verdade é tão óbvia que já não merece contestação: isto é uma forma de reduzir nas despesas. À custa do consumidor, claro, que até pode ter pneu suplente, desde que o pague à parte.
Limitado
O bom acesso na versão de cinco portas, graças ao amplo ângulo de abertura das portas e ao desenho das molduras, é o primeiro sinal positivo quando analisamos a habitabilidade dos lugares traseiros. O espaço para os joelhos cresceu em relação ao 207, o que se saúda, e não há problemas especiais com a altura disponível. Mas a largura continua a ser deficitária se pensarmos em sentar três pessoas atrás. Duas, por outro lado, viajarão bastante confortáveis, em assentos envolventes e de bom toque.
FICHA TÉCNICA
Mecânica
Cilindrada: 1560cc
Potência: 92cv às 4000 rpm
Binário: 230 Nm às 1750 rpm
Cilindros: 4 em linha
Válvulas: 8
Alimentação: turbodiesel de injecção directa por conduta comum
Tracção: Dianteira
Caixa: Manual de 5 velocidades
Suspensão: Tipo pseudo McPherson, à frente; travessa deformável, atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica variável
Travões: Discos ventilados à frente, discos atrás
Dimensões
Comprimento: 396,2 cm
Largura: 173,9 cm
Altura: 146,0 cm
Distância entre eixos: 253,8 cm
Peso: 1080 kg
Pneus: 195/55 R16
Capac. depósito: 50 litros
Capac. mala: 311 litros
Prestações*
Velocidade máxima: 185 km/h
Aceleração 0/100 km/h: 10,9s
Consumo misto: 3,8 litros/100 km
Emissões CO2: 98 g/km
* Dados do construtor
Preço: 20.750€ (viatura ensaiada: 21.425€)
EQUIPAMENTO
Segurança
ABS: Sim
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim
Airbags cortina: Sim
Controlo de tracção: Não
Controlo de estabilidade: Sim
Vida a bordo
Vidros eléctricos: Sim
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Direcção assistida: Sim
Retrovisores eléctricos: Sim (retrácteis)
Ar condicionado: Sim (automático, de duas vias)
Abertura depósito interior: Não
Abertura mala do interior: Não
Bancos traseiros rebatíveis: Sim
Jantes especiais: Sim
Rádio CD: Sim (com USB e Bluetooth)
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em profundidade: Sim
Computador de bordo: Sim
Alarme: Opção (250€)
Tecto panorâmico: Opção (405€)
Bancos dianteiros eléctricos: Não
Bancos dianteiros aquecidos: Não
Estofos em pele: Opção (em pack: 800€)
Navegação por GPS: Sim
Regulador de velocidade: Sim
Sensores de chuva no limpa pára-brisas: Sim
Sensores de luminosidade nos faróis: Sim
Sensores de parqueamento: Opção (120€, preço promocional)
Indicador de pressão dos pneus: Não
Faróis xénon: Não