Fugas - Motores

Nuno Ferreira Santos

Berlina familiar e económica

Por João Palma

Nestes tempos de racionalização de custos, as marcas procuram criar carros que sejam vendáveis em todos os mercados. É o caso do C-Elysée, uma económica berlina tricorpo de linhas clássicas que é o primeiro modelo global da Citroën.

As carroçarias de três volumes não colhem as preferências dos portugueses, que gostam mais de carrinhas ou de hatchback, mas, em tempos de crise, este Citroën C-Elysée é uma opção a considerar: uma berlina espaçosa, económica e com preços acessíveis que começam nos 14.808€ da versão com motor a gasolina 1.2 VTi de 72cv e nível de equipamento Seduction. O modelo que a Fugas conduziu, com o motor 1.6 HDi de 92cv e nível de equipamento Exclusive, é o mais caro da gama, custando 19.308€.

O C-Elysée é o primeiro modelo global da Citroën e destinava-se inicialmente aos mercados emergentes, mas foi decidido comercializá-lo também na Europa. É um carro totalmente novo que utiliza a plataforma ampliada do C3 e é produzido em Vigo, tal como o seu irmão Peugeot 301, que não é vendido em Portugal. É uma proposta honesta, sem luxos, para famílias que pretendam um meio de transporte espaçoso, fiável, a um custo razoável.

Por fora, o C-Elysée, sem ser feio, tem linhas sóbrias e algo conservadoras – está muito longe do arrojo estético de um DS3 (mas também são modelos de concepção e filosofia totalmente opostas). Curiosamente, ao contrário de muitos outros carros, o espaço atrás está mais bem aproveitado que à frente, onde nomeadamente pode haver dificuldade em arranjar uma boa posição de condução. A qualidade dos materiais não será a melhor, por razões de redução de custos, mas houve um certo cuidado nos acabamentos: o ponto menos conseguido será a tampa da mala, sem forro e com aspecto frágil – ao fechar produz um ruído de lata a bater.

Em Portugal, o C-Elysée é disponibilizado com duas motorizações: um novo motor VTi 1.2 a gasolina com 72cv e o conhecido e fiável bloco 1.6 HDi a gasóleo do grupo PSA na variante de 92cv. Embora haja uma diferença de 3500€ no preço entre as versões a gasolina e a gasóleo (no nível Seduction), o maior investimento inicial é compensado pelo maior valor residual do veículo a gasóleo e pela superioridade das performances oferecidas pelo 1.6 HDi.

Associado a uma caixa manual de cinco velocidades, este motor a gasóleo revela-se adequado para deslocar o C-Elysée, proporcionando um comportamento agradável: mesmo em subida não se nota grande quebra de potência, não requerendo muito trabalho de caixa. As recuperações são boas para um carro destas características e responde com razoável prontidão ao pisar do acelerador, pelo que transmite uma sensação de segurança na condução.

Na boa tradição francesa, a suspensão é confortável sem ser demasiado mole, e o comportamento do veículo é muito estável e equilibrado (para o que também contribui uma distância de 2,65 metros entre eixos), pelo que só em situações extremas o veículo adorna em curva. No entanto, em especial em auto-estrada, seria bem-vinda uma sexta velocidade, mas aceita-se que, por razões económicas, a Citroën tenha optado por uma caixa de cinco relações para este modelo.

A marca anuncia um consumo médio de 4,1 l/100km para o C-Elysée com motor a gasóleo e na prática o desvio não foi excessivo em relação aos valores oficiais. Mesmo sem dispor de sistema Start & Stop, de paragem e arranque automáticos do motor, obtivemos uma média real de 5,1 l/100km num percurso misto que incluiu alguma condução urbana em pára-arranca.

Dentro da filosofia low-cost que norteou a concepção deste modelo global, em termos de equipamento, mesmo no nível mais elevado, o C-Elysée quase se limita ao essencial. Por exemplo: dispõe de controlo de estabilidade, mas só tem airbags frontais e laterais à frente, não tendo airbags de cortina que protejam os passageiros dos bancos de trás. E de acordo com os mesmos princípios, para o bem ou para o mal, não oferece equipamento extra – é tudo de série, não há opções. Se, por um lado, não é possível dispor, nem como extra, de coisas como os sensores de chuva e de luminosidade ou de aviso de colocação de cinto para os passageiros (só para o condutor), por outro não há enganos: quem adquire um C-Elysée tem uma noção exacta do que compra e o seu custo real.

 

FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 1560cc
Potência: 92cv às 4000 rpm
Binário: 230 Nm às 1750 rpm
Cilindros: 4 cilindros em linha
Válvulas: 2 por cilindro
Alimentação: Injecção directa por conduta comum, turbo
Combustível: Gasóleo
Tracção: Dianteira
Caixa: Manual de 5 velocidades
Suspensão: Tipo McPherson, molas helicoidais, barra estabilizadora, à frente; barra de torção, molas helicoidais, atrás
Direcção: Pinhão e cremalheira com assistência eléctrica
Travões: Discos ventilados 266mm à frente; tambor 203mm atrás

Dimensões

Comprimento: 4427mm
Largura: 1715mm
Altura: 1466 mm
Peso: 1170 kg
Pneus: 195/55 R16
Capac. depósito: 60 litros
Capac. mala: 506 litros

Prestações*

Velocidade máxima: 180 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 12,4s
Consumo misto: 4,1 litros/100 km
Emissões de CO2: 108 g/km
Preço: 19.308€ (viatura ensaiada, 19.668€)
* Dados do construtor

 

EQUIPAMENTO

Segurança

ABS: Sim, com distribuição electrónica de travagem
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim, à frente
Airbags de cortina: Não
Airbag de joelhos para o condutor: Não
Programa electrónico de estabilidade (ESP): Sim
Aviso de colocação dos cintos de segurança: Sim
Sistema de fixação Isofix para cadeiras de crianças atrás: Sim
Assistência ao arranque em subida: Não
Função Start/Stop: Não
Indicador de pressão dos pneus: Não
Travão de estacionamento eléctrico: Não

Vida a bordo

Vidros eléctricos: Sim
Retrovisores com regulação eléctrica: Não (opção, 150€)
Vidros escurecidos: Sim
Pintura metalizada: Opção, 360€)
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Travão de estacionamento automático: Não
Ar condicionado manual: Sim
Abertura interior do depósito: Sim
Abertura da mala do interior: Sim, também com o comando à distância
Bancos do condutor ajustável em altura: Sim
Jantes de liga leve: Sim, 16’’
Rádio CD com MP3: Sim
Porta USB: Sim
Conexão Bluetooth: Sim
Sistema de Navegação: Não
Comandos no volante: Sim
Volante regulável em altura: Sim
Volante regulável em profundidade: Não
Computador de bordo: Sim
Alarme: Não
Bancos eléctricos: Não
Bancos dianteiros aquecidos: Não
Estofos em pele: Não
Tecto panorâmico: Não
Programador/regulador de velocidade: Sim
Sensores de chuva e luminosidade: Não
Sensores de estacionamento traseiros: Sim
Indicador da pressão dos pneus: Não
Luzes diurnas: Sim
Faróis de nevoeiro dianteiros: Sim
Faróis bixénon: Não

 

BARÓMETRO

+ Relação preço/equipamento, consumos, espaço interior

- Posição de condução; acesso à bagageira; falta de compartimentos abertos no habitáculo

 

PORMENORES

Ficar com “a criança” ao colo…
O interior é espaçoso e acomoda sem problemas cinco ocupantes, nomeadamente atrás. Porém, o volante só é regulável em altura e o banco do condutor, também regulável em altura, não baixa o suficiente, pelo que se torna difícil a quem tenha 1,80m ou mais arranjar uma posição de condução 100% confortável, ficando com o volante literalmente ao colo. Além disso, a disposição dos bancos da frente, próximos um do outro, bem como a colocação da alavanca das mudanças, fazem com que o cotovelo do condutor bata com frequência no pendura quando pretende mudar de velocidade.

É um carro familiar?
O C-Elysée é um carro de características familiares, pelo que há pormenores que, sendo importantes noutro tipo de carro, aqui são essenciais. É o caso da falta de espaços abertos no habitáculo deste carro. Na consola não há um compartimento para colocar carteira, telemóvel ou outro tipo de objectos e as bolsas das portas são pequenas e estreitas. Acresce que, havendo crianças, há sempre coisas que é preciso ter à mão (lenços de papel, pequenos brinquedos, copos, etc., etc.). Será que quem desenhou o interior deste veículo se esqueceu que ele é um carro para transportar famílias?

É grande, mas…
A bagageira, com 506 litros, é ampla e de contornos regulares. O problema é a configuração da abertura e o bordo ser alto, o que dificulta a colocação ou retirada de volumes como caixotes de cartão. Por outro lado, a inexistência de pontos de fixação faz com que, por exemplo, sacos de supermercado fiquem a “dançar” no interior e tendam a deslizar até às costas dos bancos traseiros. Pontos positivos são a possibilidade de rebatimento dos bancos traseiros, o que aumenta o espaço disponível para transportar volumes, e a existência de um pneu sobresselente sob o fundo da mala, em vez de um “moderno” kit de “reparação” de pneus.

 

Sem custos escondidos(foto ecrã no tablier)

Muitas marcas de automóveis praticam uma política de anunciar um preço x para os seus modelos, mas depois, no momento da compra, o cliente descobre que, para além das rodas, motor, banco e um volante, quase tudo o resto é pago à parte, pelo que o custo final de aquisição é x+y (sendo y um valor nada desprezível). Argumentam as marcas que assim o cliente pode personalizar o seu carro, mas, na verdade, muitas vezes essa é uma estratégia para mascarar o preço real do carro. No C-Elysée não há enganos – pouco ou muito, todo o equipamento é de série e a única opção é a pintura metalizada.

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