Fugas - Motores

José Sarmento Matos

Uma (r)evolução alimentada a diesel

Por Carla B. Ribeiro

Depois de ter renascido numa nova geração, a 9.ª, que a marca designou como uma “evolução revolucionária”, o Civic cumpriu a insurreição com um bloco diesel de baixa cilindrada novinho em folha que vai somando adjectivos.

Era o que lhe faltava para (re)conquistar a Europa: uma motorização a gasóleo de baixa cilindrada, que não fosse alvo de uma catadupa de castigos em forma de impostos e taxas. E a marca nipónica não assumiu a missão de ânimo leve. Primeiro, apresentou um revisto bloco diesel de 1.6, mais leve e com níveis de fricção comparáveis aos motores a gasolina. Depois, escolheu a Europa para a sua construção: na sua fábrica em Swindon, Reino Unido.

Mas terá a Honda conseguido um motor que de facto revolucione o mercado europeu? Não se poderá falar ao certo numa revolução. Mas numa evolução, com certeza. E para o perceber basta accionar a ignição e verificar a ausência de ruído conseguida através de uma melhoria de todas as partes rotativas do motor. E não só. Os interiores deste 1.6 foram retocados de forma a reduzir os barulhos no habitáculo, mas também os que chegam do exterior através da inclusão do Sistema Activo de Cancelamento de Ruído. Este funciona sempre que o carro está a trabalhar e, para a gama de frequências abaixo dos 100 hertz, oferece uma redução na ordem dos dez decibéis.

Com o conforto auditivo garantido — diz a marca que um carro mais silencioso dá a sensação de maior segurança a alta velocidade, reduzindo o cansaço do condutor —, depois é só deixá-lo ganhar balanço. E nem é preciso muito. A potência de 120cv é sabiamente gerida para optimizar consumos (sobretudo com função Econ accionada) ou desempenhos (desligando o botão verde). Resumindo, não sendo nenhum “ás” na aceleração (vai dos 0 aos 100 em 10,5s), atinge uma velocidade máxima de 207km/h.

Mas, e apesar do binário de 300 Nm se mostrar disponível às 2000rpm, não é preciso infringir nenhuma lei para tirar proveito dos seus atributos. Até porque é à velocidade regulamentada que se consegue perceber a sua melhor qualidade: a da economia.

A Honda avança com um interessante número de consumo extra-urbano, de 3,5 l/100km, e não é difícil conseguir andar perto desta marca: registámos 3,9 litros com o ar condicionado a combater o calor exterior. Já pela cidade, em que o carro beneficia muito de um eficiente sistema de paragem e arranque do motor automáticos, os nossos registos ficaram um pouco mais distantes dos 4,1 l/100km assinalados na tabela oficial. Ainda assim, os 5,5 l/100km conseguidos não chegam para desanimar a carteira.

A ajudar na gestão deste bloco, uma caixa de seis relações intuitiva quanto baste (e sete quilos mais leve do que o sistema de transmissão oferecido no i-DTEC 2.2 litros), cujo manuseamento é sempre ajudado pelo indicador de mudança de velocidade (ou então basta olhar para as cores que se vão iluminando no ecrã em frente aos nossos olhos — é seguir para o pormenor).

Mas a optimização, quer de consumos, quer de emissões, não é resultado apenas da eficácia do motor. A contribuir para os números apurados está o design da carroçaria que se baseia no conceito de eficiência aerodinâmica dominada pelo spoiler traseiro. E, “além do design de baixa resistência ao ar, o Civic também utiliza uma plataforma inferior a todo o comprimento, de pára-choques a pára-choques, com bordos salientes de forma a gerir o fluxo de ar sob o carro”. A somar a isso, o mesmo sistema de grelha em persiana (apresentado também com o diesel de 2.2 e que permite optimizar o arrefecimento do motor e reduzir o arrastamento) e ajustes na suspensão dianteira, com um aumento na estabilidade lateral em 24%.

Nos interiores, mantêm-se os parâmetros de conforto e funcionalidade apresentados na nova geração, com um desenho descomplicado do tablier. Mais complicado continua a ser ver para trás devido ao vidro traseiro cortado a meio pelo aileron — facto que na versão de equipamento Sport, por exemplo, é minimizado pela inclusão de câmara de assistência ao estacionamento traseiro.

Com um ponto conquistado entre os (actualmente) apetecíveis motores diesel de baixa cilindrada, falta ainda conquistar outro filão: o das carrinhas. Mas não deverá faltar muito. A nova Civic Tourer foi revelada este ano em Genebra e a sua versão final deverá estrear-se em Setembro, no Salão de Frankfurt, para chegar às estradas no início de 2014.

 

Poupado e enérgico

Composto por uma cabeça em alumínio acoplada a um bloco de topo aberto também em alumínio, este bloco de 1.6 litros é apresentado pela Honda como o mais leve na sua classe e, em relação ao bloco de 2.2 litros que também pode habitar o Civic, pesa menos 47kg. Este emagrecimento foi conseguido com o redesenho individual de todos os seus componentes. Por exemplo, a espessura das paredes dos cilindros foi reduzida em 1mm, os pistões e bielas usadas são de baixo peso e foram introduzidas curtas e finas saias de pistão. Apesar de toda esta preocupação com as emissões e consumos, a Honda não desarma no desempenho: “a pedra-de-toque da nossa filosofia Earth Dreams Technology é balançar eficiência ambiental com a performance dinâmica que se espera de um Honda.”

 

Do verde ao azul

Está a verde? Então está tudo bem: emissões e consumos optimizados de forma a agradar ambiente e finanças. As cores que vão iluminando o sobrepainel, que se desenha em linha com a visão e onde se pode ir vigiando a velocidade a que se segue, são uma das mais-valias do Civic. Mais do que o pequeno indicador de mudança de velocidade. Depois do verde, em baixo consumo, há um azul-claro, em consumos mais elevados, e um azul-escuro, em números absurdos. Isto desde que o botão Econ esteja ligado (e que faz aparecer um pequeno símbolo verde junto ao mostrador do depósito), o que faz com que todo o funcionamento do carro se transforme: o controlo de injecção de combustível é accionado, o sistema de reinício automático torna-se mais sensível e até o ar condicionado se ajusta aos parâmetros desejáveis. Caso se opte por desligar o Econ, então o sobrepainel assume um azul aguerrido.

 

Brincadeiras de vidros

Pegar no comando, carregar no botão de abrir o carro e arrumar malas enquanto se deixam entrar as crianças. E depois questioná-las sobre quem andou a brincar com os botões dos vidros — “Eu não”; “Ele não foi”; “Eu também não”. Isto por duas ou três vezes: entrar no carro e observar que todas as janelas estão abertas. “Terei deixado as janelas abertas?” Não. Nem por isso. É que basta a distracção de carregar por mais tempo no botão do comando para abrir o carro. Não só abre portas, como janelas. As quatro, por igual. E se o fecho automático das janelas quando se tranca o carro parece uma excelente ideia (que, incompreensivelmente, parece ter entrado em desuso nos últimos anos), esta de abri-las poderá revelar-se um sério (e molhado) contratempo em alturas de chuva. Por isso, atenção aos toques no comando de abertura.

 

Cuidado com o joelho!

A nível estético é uma opção interessante: um tablier saído e que se encaixa nas portas. Também como forma de minimizar ruídos parasitas poderá funcionar, já que tudo fica estanque após o encerramento das mesmas. Mas para quem tem perna comprida as arestas vivas dos cantos do tablier podem tornar-se uma espécie de inimigo número um. Sobretudo a primeira vez em que se entra para a viatura — que, depois de bater num dos cantos, será difícil esquecer a experiência. Mas, mesmo prevenindo acidentes, o facto é que não é fácil entrar e sair sem raspar em algum lado.

 

Ficha técnica Honda Civic 1.6i- DTEC Sport

 

Mecânica

Cilindrada: 1597cc

Potência: 120cv às 4000 rpm

Binário: 300 Nm às 2000rpm

Cilindros: 4

Combustível: Gasóleo

Alimentação: Injecção directa por rampa comum. Turbo de geometria variável com Intercooler

Tracção: dianteira

Caixa: manual de 6 velocidades

Suspensão: Tipo McPherson, à frente; barra de torção, atrás

Direcção: Pinhão e cremalheira com assistência eléctrica EPS

Diâmetro de viragem: 11,82m

Travões: Discos ventilados à frente, discos sólidos atrás

Pneus: 225/45 R17

 

Dimensões

Comprimento: 4300mm

Largura: 1770mm

Altura: 1470mm

Peso: 1310-1428kg

Pneus: 225/45 R17

Capac. depósito: 50 litros

Capac. mala: 477 litros (1210 litros com bancos rebatidos)

 

Prestações*

Velocidade máxima: 207 km/h

Aceleração 0-100 km/h: 10,5s

Consumo misto: 3,7 litros/100 km

Emissões CO2: 94 g/km

* Dados do construtor

 

Preço: 25.100€

 

EQUIPAMENTO

Segurança

ABS: Sim

Distribuição Electrónica da Travagem (EBD): Sim

Assistência à Travagem (BA): Sim

Assistência à Estabilidade do Veículo (VSA): Sim

Assistência ao Arranque em Subida (HSA): Sim

Airbags dianteiros: Sim (com opção de desligar o do passageiro)

Airbags laterais: Sim (dianteiros)

Airbags de cortina: Sim (dianteira e traseira)

Airbags de cabeça: Sim (dianteiros)

Controlo de velocidade cruzeiro: Sim

Controlo de estabilidade: Sim

Ajuda ao arranque em subida: Sim

Fixadores Isofix: Sim

 

Vida a bordo

Arranque sem chave: Não

Vidros eléctricos: Sim (à frente e atrás)

Fecho central: Sim

Comando à distância: Sim

Direcção assistida: Sim

Retrovisores eléctricos: Sim

Retrovisores aquecidos: Sim

Ar condicionado: Sim

Rádio CD: Sim (com MP3)

Volante regulável em altura: Sim

Volante regulável em profundidade: Sim

Volante em pele: Sim

Comandos no volante: Sim

Computador de bordo: Sim

Bancos dianteiros eléctricos: Não

Bancos dianteiros aquecidos: Não

Estofos em pele: Não

Punho da alavanca de velocidades em pele: Sim

Navegação por GPS: Não

Regulador de velocidade: Sim

Sensores de chuva: Sim

Sensores de luminosidade: Sim

Sensores de estacionamento: Não

Câmara de apoio ao estacionamento traseiro: Sim

Bluetooth e USB/Aux: Sim

Faróis de halogéneo: Sim

Faróis de nevoeiro: Sim

Alarme: Sim

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