Fugas - Motores

Quilómetros e quilómetros de prazer

Por Alberto Pires

A Triumph decidiu reforçar a sua aposta do segmento de grande turismo e fê-lo com decisão. A procura da excelência é visível em todos os detalhes, assumindo-se como candidata a referência da classe.

Era uma lacuna importante na gama actual da Triumph: a ausência de um modelo capaz de competir no segmento mais elitista das motos de grande turismo. É um nicho de mercado exigente, tecnologicamente muito avançado e onde as marcas colocam todo o seu saber, indo ao encontro de uma clientela madura, conservadora e que sabe o que quer. Com a Trophy 1200, a Triumph sabe que vai ser comparada com o que de melhor se faz, e preparou-se para isso.

Exteriormente é imponente, sem ser pesada. As linhas fluem e inserem-se dentro do que se espera, podendo-se até considerar compacta e elegante. É a que tem a maior superfície frontal e isso costuma ser sinónimo de protecção aerodinâmica, uma das características mais apreciadas no segmento.

O primeiro contacto não deixa de ser intimidante. Mas depressa mostra que foi estudada para ser usufruída em todos os ambientes. O banco não é alto e permite colocar os dois pés no chão simultaneamente, as mãos tombam com naturalidade nos comandos e o seu accionamento exige apenas a força de que estamos à espera de exercer. A sensação de qualidade geral é muito elevada, desde a pintura até ao toque e funcionamento dos periféricos, e é aqui que se encontram as dificuldades.

O painel de instrumentos é claro e legível mas são tantas as funcionalidades e os sistemas possíveis de personalizar que, num primeiro momento, procuramos apenas conhecer os fundamentais e deixamos os restantes para outra oportunidade. Assim que ligamos o motor ficamos a conhecer outros dos pontos fortes desta Trophy. O tricilíndrico de 1215cc é impressionante, revelando-se um portento de suavidade e energia. Levámo-lo ao extremo inferior, engrenando a sexta velocidade, tentando ver até que rotação é que desce e retoma sem hesitações, e conseguimos rodar abaixo das 2000rpm, recuperando como se tivesse transmissão automática. A subida de rotação é decidida e encorpada, mas seria mais confortável se fosse mais silencioso, já que é notório o ruído de funcionamento proveniente do seu interior.

Em ambiente citadino a suavidade do motor é complementada com a surpreendente ligeireza da ciclística, não tardando a que arrisquemos a serpentear pelo trânsito sempre que a oportunidade o justifica. A caixa de velocidades é precisa e suficientemente leve de accionar, não se tornando cansativa. Curiosamente, é neste meio que mais se faz sentir o ABS e o controlo de tracção, entrando em funcionamento de forma perceptível nas mudanças de piso e no empedrado. Em ambos os casos agradecemos a intervenção, sendo mais subtil em aceleração que na travagem.

Em estrada, entramos rapidamente em modo turístico, quase não trocando de velocidade e aproveitando o omnipresente binário assim que se ultrapassam as 2500rpm. A alta velocidade o conjunto oferece boa protecção, mostra-se estável e não obriga a estar em alerta total, sendo suficientemente ágil para lidar com as diferentes situações que vão surgindo. O vidro dianteiro regulável em altura permite personalizar a posição em função dos gostos individuais e isola o ambiente o suficiente para se ouvir o som proveniente do equipamento de áudio, se for essa a disposição.

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