Fugas - Motores

A derrapar pela neve… em quatro rodas

Por João Palma

Sölden, nos Alpes austríacos, é uma estância encantadora, cercada por montanhas brancas e com um menu de actividades recheado de propostas. Viramos, por isso, costas às óbvias pistas e aceitamos outro desafio: testar a capacidade de condução em circuitos gelados.

Sölden esbanja charme. Ao longe, parece um presépio, cortado a meio pela torrente revolta do rio Inn, composto por casinhas em madeira, com telhados brancos de neve no Inverno e varandas floridas na Primavera e Verão. Ainda é cedo, mas pela pequena localidade, a 1400m de altitude, avistam-se esquiadores de todas as idades que, preparados para enfrentar mais um dia nas pistas, reconhecidas pela qualidade das suas neves, dirigem-se a um dos vários transportes que os levarão mais alto.

Para nós, porém, a aventura é outra e o meio de lá chegar promete emoções a rodos. É aos comandos de um desenvolto série 3 Mque nos fazemos à sinuosa estrada de montanha que nos levará ao nosso destino: o circuito de treino de condução em neve que se espraia entre os 2600 e os 2800m, o que faz com que este seja o local de treino, assegura a BMW, de condução de Inverno a maior altitude em todo o mundo.

Arrancamos com a sensação de se estar a conduzir por um cenário de contos de fadas, com o denso arvoredo a marcar a paisagem até aos 2000m. Depois deste ponto, atravessamos uma espécie de deserto branco. Até que, por fim, o esforço é recompensado com a visão dos vários circuitos que a BMW preparou para um Snow Intensive Training (Curso Intensivo de Neve, numa tradução literal) e que incluem pistas de slalom, trilhos com subidas e decidas íngremes, curvas apertadas e até um troço cronometrado para, no final, os “campeões” exibirem a sua perícia.

Chegamos a convite e numa viagem programada especificamente para jornalistas. Mas nenhum dos instrutores parece ter sido avisado. Por isso, somos recebidos como qualquer um que se inscreva nos muitos e variados cursos de condução organizados pela marca bávara. As duas sessões práticas são precedidas por duas aulas teóricas. A primeira, sobre sistemas de condução e funcionamento da tracção integral X-Drive; a segunda, a explicar as técnicas de condução sobre gelo ou neve, assim como em subidas e descidas íngremes em pisos de fraca aderência. Só depois de aprendidos os tópicos é que se passa à prática. E é nos circuitos e trilhos que se desenrola a parte verdadeiramente gira do curso: exercícios de condução, devidamente supervisionados e orientados.

Começamos com o cuidado de um aluno exemplar. Nem todos, porém, revelam vontade de se manter na linha. Literalmente. Alguns dos participantes, munidos de experiência de pilotagem desportiva, não resistem a algumas brincadeiras e acrobacias. Era o dado que faltava aos instrutores para perceberem que este não é um grupo como tantos outros e, depois de alguma preocupação com o que consideram ser “manobras excessivas”, acabam por soltar as rédeas. Com a ressalva: os veículos têm de ser devolvidos, como nos diria um dos instrutores, em “estado cosmético”.

É com o sentido nesta recomendação que, ao volante de dois aguerridos série 4 - primeiro, um M 428i; depois, um mais valente M 435i -, juntamos o útil da aprendizagem à pura diversão, usando o efeito de deslizamento na neve para descrever curvas. Aproveitamos para sentir as diferenças entre conduzir com o controlo de estabilidade ligado, só com o controlo de tracção (o mais aconselhado na neve) ou com todos os auxiliares de condução desligados.

Segue-se a experiência num X5 M, onde somos incitados a usar o travão de estacionamento para complementar o Hill Descent Control (o controlo de descida em terrenos muito inclinados). É naquele SUV que executamos travagens de emergência e usamos a posição neutra da caixa de velocidades (vulgo ponto morto) para aprender a deixar descair o carro de forma controlada numa subida íngreme. Ao longo de dois dias, passámos ainda por outros série 3 (incluindo um Gran Turismo) e 4 e testámos o comportamento na neve dos X3 e X6 (todos preparados pelo departamento M da construtora alemã que se dedica a imprimir desportividade a qualquer modelo). Mas há um que merece destaque: o M 135i, de longe o mais divertido e guiável de todos os veículos disponibilizados e aquele em que nos sentimos mais ousados.

É saltitando de carro em carro que vamos derrapando. E derrubando cones de demarcação de circuito. Há, até, os que protagonizam encontros imediatos com muros de neve. Por cada toque, o acordado é pagar uma cerveja aos instrutores. E foram tantos que, se eles nos exigissem o rigoroso cumprimento dos pagamentos, ficariam decerto muito etilizados.

Ainda assim, este grupo foi mais afortunado que o último, segundo nos contam. Num dos choques contra aquilo que parecia uma parede macia de neve, um dos participantes teve o azar de descobrir uma pedra escondida. Resultado: todos os airbags dispararam e o carro transformou-se, dizem-nos, numa árvore de Natal. Já nós passámos no teste: comportamento de grupo, excelente; problemas, zero.

Do gelo ao jacuzzi

Depois das emoções das pistas, o merecido descanso. É já com o fim do dia a despontar que regressamos a Sölden, fazendo a descida recorrendo ao motor como travão, para evitar queimar os discos (já sucedeu…).

À medida que nos aproximamos, luzes de mil brilhos enfeitam a imponência esmagadora das montanhas circundantes, cujos picos são coroados por neves eternas. Contamos com a memória de uma manhã de passeios para desenhar o resto: ruas emolduradas por lojinhas, tanto de souvenirs como de marcas de luxo, entre as quais não faltam as especializadas em equipamento para os desportos da neve.

Por isso,  é com algum encanto que, já com noite cerrada, vislumbramos da janela do quarto a floresta de coníferas enfeitadas de branco a perder de vista e a reflectirem as luzes nocturnas, ao mesmo tempo que o trovejar da corrente do rio que passa mesmo ao lado do hotel parece servir de banda sonora. E, mesmo com o calor do hotel – no caso o luxuoso Das Central, único alojamento de cinco estrelas na vila – a aliciar-nos, é impossível resistir à pureza do ar frio e seco, tão característico da alta montanha.

Até que chega a manhã e, depois de uma noite em que nem a altitude parece ter tido um efeito nefasto sobre o sono, ao correr as cortinas do quarto, é-se esmagado pela paisagem: um vale verde, pontilhado por casinhas baixas, cercado por montanhas brancas e tendo como pano de fundo um céu azul e um sol esplendoroso.

Mas sejamos justos: munidos de um par de esquis, com umas raquetas ou, como no nosso caso, de motorizações potentes, a experiência da neve nunca fica completa sem uma passagem pelo spa. Por isso, ainda antes de nos deixarmos tentar pelo sono, damos outro descanso ao corpo.

No caso, no Venezia Water World, o espaço de bem-estar do hotel que, entre os seus atributos, conta com dez saunas e banhos turcos diferentes, uma gruta gelada, solário e áreas de repouso. O tempo é escasso para desfrutar tudo o que o Venezia tem para oferecer. Por isso, depois de umas incursões pela sauna alpina e pelo banho turco com vapores aromatizados, ficamos pelo mimo absoluto: uma imersão no escaldante jacuzzi para descontrair. É que, na manhã seguinte, haveria mais emoção à espera: um troço cronometrado em recta, curva e slalom, onde os mais experientes haveriam de fazer a diferença.

___
A Fugas viajou a convite da BMW Portugal

Como ir
Há duas possibilidades. A primeira, fazer Lisboa-Innsbruck, via Frankfurt - são cerca de cinco horas de voo (os preços nesta época começam nos 400€), a que se deve acrescentar mais uma hora por estrada até Sölden. A segunda, voar de Lisboa para Munique desde 250€ (2h45) e enfrentar três horas de estrada. Os transfers dos aeroportos para Sölden estão a cargo da BMW.

Onde ficar
A experiência da BMW inclui duas noites no Das Central, mas o hotel oferece diversos pacotes, com preços variáveis, dependendo da época, sendo mais caros no Inverno. Uma estada de três noites, em regime de meia-pensão com transporte para as pistas de esqui e forfait, começa nos 546€ por pessoa em quarto duplo. Inclui três restaurantes, adega, sala para fumadores (com vista para a montanha) e acesso livre à Internet.
www.central-soelden.at

O que fazer
A BMW organiza cursos e experiências de condução em motos e carros durante o ano inteiro, abertos a qualquer pessoa, nas mais variadas condições de clima e terrenos, com uma duração que pode ir de um dia a duas semanas. Desde Arjeplog, na Suécia, a 60km do Círculo Polar Árctico, até à África do Sul, passando pela Áustria, Alemanha (incluindo a pista de Nürburgring), Suíça, Namíbia, Botswana, etc. O BMW Snow Intensive Training dura dois dias e decorre todos os anos, durante seis semanas, desde o início de Novembro até meados de Dezembro. A participação custa 1590€ (há outros cursos, desde 790€) e inclui seguro e duas noites em regime de pensão completa no Das Central. Inscrições na Internet em www.bmw-drivingexperience.com

À volta de Sölden, há vários trilhos para bicicleta ou caminhada, teleféricos e transporte para as várias pistas de esqui. Estas começam nos 3340m e totalizam 144km, com vários graus de dificuldade (azuis para os iniciantes, vermelhas ou pretas para os esquiadores mais experimentados). A saber: anualmente, em Outubro, a etapa de slalom de Sölden abre a Taça do Mundo de esqui.

--%>