Enquanto a A1 é invadida por modelos cuja idade em alguns casos ultrapassa a dos seus condutores, seguimos a bordo de um muito britânico Range Rover Sport novinho em folha. Seria de julgar que tranquilamente deixaríamos a maioria dos carros para trás. Mas muitos destes exemplares não são apenas clássicos. São carros com veia desportiva e potência suficientes para se fazerem valer ao lado de outros acabados de sair da forma. Não é à toa que haja quem dispense uma visita à adega da Quinta da Alorna, onde nos é feita uma visita guiada por quase todo o processo vitivinícola, com direito a prova no final, e siga para um kartódromo, onde as acelerações são garantidas.
É o caso de António Dionísio que, oriundo de Castelo Branco, não chega a ir a Lisboa: “Todos os anos faço o mesmo: vou ter directamente ao kartódromo”, conta, ao mesmo tempo que na sua mesa ainda se discutem tempos, nomeadamente o feito por si ao volante de um Lotus Elan de 1967. É que a prova organizada pelo ACP requer “ciência”. “Não basta fazer o melhor tempo; é preciso a cada volta fazer melhor tempo que na anterior e para isso é preciso fazer muito bem as continhas antes da primeira volta”, explica António Dionísio. O truque é simples: “Deixar margem para poder melhorar”, resume.
Todos os anos, António faz a mesma coisa. Aproveita o dia para tirar um dos seus carros da garagem (ainda nos diz que tem vários, mas opta por não dizer quantos nem quais: “Hoje em dia parece mal”, desabafa) e segue sozinho de Castelo Branco ao ponto de encontro dos que chegam de Lisboa. “É acima de tudo uma maneira de encontrar amigos.” António não é caso único. Há ainda quem, desde a primeira edição, chegue do Porto ou de Évora, refere Luís Cunha.
Enquanto os modelos com mais vontade de brincar ficam pelo kartódromo, os restantes, após a paragem na Quinta da Alorna, seguem em caravana quase compacta. É Janeiro e o “fantasma do Inverno passado” teima em marcar presença com uma ou outra nuvem negra, lembrando o dilúvio de há um ano. Mas as previsões optimistas vão ganhando cada vez mais fulgor à medida que guiamos rumo à Quinta do Falcão, em São Pedro de Tomar.
Pelas estradas ribatejanas, uma espécie de carreirinho de relíquias passa por campos de cultivo submersos, mas também por outras zonas que denunciam um Inverno brando, em que salta à vista o verde enfeitado de largas manchas floridas. Com o sol a conseguir furar entre as nuvens, não fosse o frio e até arriscaríamos a dizer que parecia um dia de Primavera.
Aqui e ali, há um tractor que encosta para o seu condutor admirar os carros que passam ou gentes que das janelas das suas casas olham espantadas para estas viaturas que parecem, de uma maneira ou de outra, saídas de um qualquer filme (inglês, claro!). Até no posto de abastecimento, onde a mulher na caixa de pagamento não resiste à curiosidade e vai perguntando, cliente a cliente, que carro é aquele, de que ano...
Até que se chega à meta. E os grupos turístico e desportivo voltam a reunir-se para trocar histórias e momentos. De hoje e de há onze anos. Do tempo terrível que esteve no ano anterior (“houve alturas em que achei que já não ia sair dali”, diz alguém em conversa ao nosso lado) e de quão bem-recebidos foram no ano passado na Quinta do Falcão — “chovia torrencialmente, faltou a luz... e mesmo assim foram incansáveis: desdobraram-se!” e, por essa razão, explica Luís Cunha, foi decidido repetir o local de chegada e almoço, ao contrário do que sucedeu em anos anteriores.