Uma apreciação de um carro (como uma crítica de cinema ou de um livro) envolve sempre alguma subjectividade. No caso do BMW M 135i xDrive, quem o experimentou gosta de carros pequenos e potentes, com espírito desportivo, mas que também sirvam para transportar famílias ou fazer as compras do mês no supermercado — uma descrição que assenta como uma luva no M135i xDrive. Por isso, tentando ser o mais objectivo possível, quem escreveu este texto não esconde as suas preferências.
Então, nessa óptica, este carro que conjuga pura diversão e prazer de condução com um lado funcional será perfeito? Não. Há sempre qualquer coisa a apontar. No caso deste desportivo, o preço e os consumos.
Quanto a consumos, obtivemos uma média de 10,6 l/100km, longe dos 7,8 l/100km anunciados pela marca. Mas também, num percurso misto de cerca de 300km, se em algumas ocasiões deslizámos pela auto-estrada no modo economizador Eco Pro a médias de 6-7 l/100km, o carro também enfrentou estradas de montanha sinuosas em modo Sport, tendo superado facilmente os desafios mas com penalização nos consumos.
Agora, num veículo com 320cv e um binário de 450 Nm, que acelera dos 0 aos 100 km/h em apenas 4,7s e que tem como velocidade máxima os 250 km/h (limitada electronicamente) não se podem esperar os consumos de um económico utilitário: as médias do M135 i xDrive não destoam, assim, das de veículos com características semelhantes. Até porque, mesmo na gama do série 1, há vários modelos com consumos reduzidos, com destaque para a média oficial de 3,8 l/100km do 116d Efficient Dynamics.
Já no que se refere ao preço, partindo de uma base de 60.700€ (razoável para o veículo em questão), o custo final do modelo que conduzimos escalava para os 70.200€. Para este acréscimo contribuíam “luxos” como os bancos rebatíveis assimetricamente (275€), desactivação do airbag do pendura (42€), sensores de estacionamento (791€) ou sensores de chuva e de luz (221€), só para mencionar alguns opcionais que são de série em veículos que custam muito menos que este desportivo. É a já conhecida política das marcas premium de salgarem o preço-base dos seus modelos com itens que deveriam ser de série.
No outro prato da balança pesam não só o prestígio da marca (para quem dê relevo ao status decorrente do emblema), mas, muito mais importante, a qualidade e asperformances oferecidas. E este desportivo, embora esteja classificado como M Performance, fica pouco (ou nada) atrás dos M puros no que diz respeito ao seu desempenho.
O motor tem um comportamento exemplar, atingindo o binário máximo logo às 1300 rotações. O mesmo se aplica à caixa automática desportiva de 8 relações. Com quatro modos de condução (Comfort, Eco Pro, Sport e Sport+), pode comportar-se como um manso gatinho ou como um tigre enraivecido. Basta premir um botão para as costas se colarem ao banco. Nos modos sport e Sport+, motor e direcção respondem de forma mais rápida e directa, a suspensão adaptável torna-se mais rígida e a transmissão faculta uma engrenagem mais rápida.
Com uma estabilidade exemplar, para o que contribui a suspensão adaptável M e a tracção integral xDrive, as curvas tornam-se em rectas e só em situações de condução extremas é que é preciso mexer mais o volante. E, com a potência e binário disponíveis, as subidas, por mais íngremes que sejam, convertem-se em descidas — é sempre a acelerar.
Em cidade, a boa brecagem e a direcção muito directa fazem com que este veículo de 4340mm de comprimento, 1765mm de largura e 1411mm de altura se desenvencilhe mesmo nas ruelas mais estreitas. Aliás, já tínhamos tido uma experiência de condução em neve e em gelo, em que este série 1 “envenenado” teve um comportamento mais ágil e equilibrado que todos os outros modelos que conduzimos na ocasião, incluindo uns X5 M e X6 M.
Com um visual exterior mais desportivo que os outros série 1, esses traços mantêm-se no interior, com a qualidade dos materiais e os acabamentos que são apanágio da BMW. A isto o M135i xDrive adiciona funcionalidade. Nos modos Comfort ou Eco Pro, os bancos envolventes e a suspensão proporcionam conforto em viagens longas, em que, podendo acomodar até cinco ocupantes, o ideal é deixar entrar apenas quatro. A mala de 360 litros (1200, com bancos rebatidos) arruma o necessário.
Com 91% na protecção de adultos, 83% na das crianças, 63% nos peões e 86% nos dispositivos auxiliares de segurança, o série 1 obteve o máximo de 5 estrelas nos testes Euro NCAP de 2012 e, face aos valores obtidos, conservaria as cinco estrelas pelos parâmetros de 2103.
FICHA TÉCNICA
Motor: 4 cil. em linha, 16v, 2979cc
Combustível: Gasolina
Potência: 320cv 5800-6000rpm
Binário: 450 Nm 1300-4500rpm
Transmissão: Automática de 8 relações
Tracção: Integral
Veloc. máx: 250 km/h (limitada electronicamente)
Aceleração 0/100 km/h: 4,7s
Consumo médio: 7,8 l/100 km
Emissões CO2: 182 g/km
Preço: 60.700€ (viatura ensaiada, 70.212€)
* Dados do construtor
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