Diversão só não rima com o nome deste Lexus CT 200h. Porque com tudo o resto a palavra parece encaixar que nem uma luva. Quer pelas suas linhas, ao mesmo tempo fluidas e dinâmicas, quer pelo seu comportamento, que tão depressa se transforma de um mero meio de transporte muito económico num pequeno atrevido que parece abraçar a estrada.
A forma como se comporta depende, claro, do que se pretende dele: na cidade, se activado o modo eléctrico, é de um silêncio impenetrável (aliás, no arranque é sempre silencioso) e muito comedido nos consumos. É certo que o modo puramente eléctrico não nos levará de casa ao trabalho. Mas num pára-arranca pode ser um amigo precioso, evitando gastos desnecessários.
Mas, mesmo que se deixe o modo eléctrico de lado (até porque não funciona a partir de determinada velocidade), há sempre a possibilidade de se manter a funcionalidade Eco activa, em que o carro vai fazendo uma gestão inteligente dos recursos, alimentando-se da energia tanto do motor de combustão como das baterias, as quais são recarregadas sempre que se desacelera ou trava. Para conseguir acelerar um pouco mais, sem que seja necessário um comportamento dinâmico, o modo Normal cumpre perfeitamente o objectivo. Mas, para curva e contracurva, o modo Sport, que transforma no visor o indicador Charge/Eco/Power num enérgico conta-rotações, faz com que a viagem seja tudo menos enfadonha. Isto sem que se sinta que a qualquer altura o carro irá fugir ao nosso controlo.
No caso do Lexus CT 200h, houve um trabalho de aperfeiçoamento da CVT controlada electronicamente que gere as motorizações no sentido de aproximar cada vez mais a velocidade à rotação observada. Ou seja, ainda se ouve a aceleração antes de se ter movimento real — mas o intervalo entre esses dois momentos é quase obsoleto, não sendo de todo um entrave à escolha deste veículo.
Outra mudança neste facelift passou pela revisão do chassis: o carro mostra-se com uma rigidez inteligente, que confere estabilidade e, mesmo em estradas em menos bom estado, é de sublinhar a ausência de ruídos e vibrações. Claro que, sendo um carro novo, o que seria de estranhar era se nos chegassem demasiados barulhinhos. Mas a marca afirma que, mesmo após uma relevante rodagem, é de esperar o mesmo silêncio. Tudo graças ao acréscimo de pontos de soldadura e à utilização de material de isolamento mais espesso em vários pontos.
Mas, como frisou na apresentação deste facelift Chika Kako, a primeira mulher a ocupar a posição de engenheira-chefe da Lexus International, os parâmetros do executivo compacto híbrido foram revistos de forma a tornar também o “design mais arrojado e os interiores mais refinados”. E isso é ainda mais evidente com o pacote de equipamento F Sport: além da nova grelha, dos faróis de nevoeiro, das ópticas em LED em seta ou de uma antena mais aerodinâmica (tipo tubarão), foi trabalhado um aileron com entradas de ar recortadas duplas que, além do visual, melhora a aerodinâmica e a a estabilidade.
No interior, o refinamento é visível logo no volante, em pele perfurada com três raios e emblema F Sport, e prossegue com a inclusão de um ecrã policromado de sete polegadas. Pela consola, porém, a distribuição dos botõezinhos nem sempre é a mais compreensível e é necessário um olhar atento até a sua utilização se tornar intuitiva. O mesmo acontece com o comando rotativo, bem localizado na divisória central, que permite gerir os vários sistemas. Por tudo isto, é um pouco desconsolador ver que ao fim de umas centenas de quilómetros sentimos dores nas costas. Para trajectos curtos, o conforto dos bancos é razoável, mas para longas viagens podem ser duros.
A cereja no topo está nos consumos. Constata-se que a Lexus não está assim tão errada no seu caminho em contraciclo: enquanto a maioria das marcas vai desenvolvendo motores diesel de baixa cilindrada, a marca premium da Toyota mantém o rumo assumido desde 2005 de apostar na tecnologia híbrida associada à gasolina, de forma a manter os consumos baixos e as emissões residuais. Certo é que, mesmo com o pé mais pesado e tirando proveito do modo Sport, registámos uma média de 6 l/100 Km. Não são os 4,1l/100 Km avançados pela marca, mas é um consumo animador — é certo que com um pé mais leve se conseguem valores mais baixos. Além do mais, há que fazer contas não só ao consumo como à manutenção. Caso da bateria, de hidretos metálicos de níquel, desenhada para durar tanto como o carro.
Menos simpático é o preço. É certo que o compacto se vende desde 28.900 euros, com um nível de equipamento muito razoável. Mas a versão ensaiada, F Sport com sistema de navegação, já custa quase mais seis mil euros.
Relações infinitas
A transmissão é automática? E o número de relações? Pois bem, neste carro a transmissão não é nem manual nem automática, mas pode-se dizer que é uma transmissão com uma história de peso, não tivesse a sua base sido inventada por Leonardo Da Vinci. A Transmissão de Variação Contínua (CVT, na sigla original) funciona com um sistema de duas polias e parece ter uma quantidade infinita de relações de marcha. Isto torna a aceleração mais suave, sem poços nem solavancos entre engrenagens, além de reduzir o consumo. O contra: o desfasamento entre a rotação e a velocidade. No entanto, com o 200h o trabalho de aperfeiçoamento da CVT é notório: a velocidade está cada vez mais próxima da rotação observada.
Mais requintado
Se na anterior versão do modelo o requinte já dava cartas, tornando o Lexus CT 200h num pequeno mimo, com o último facelift o carro conquistou mais um degrau para se posicionar como uma opção entre os pequenos compactos de luxo. No interior, destaque para a inclusão do pequeno volante do IS, de toque agradável e facilmente adaptável a qualquer par de mãos. Na aplicação dos comandos no volante, a Lexus foi comedida — eles estão lá, mas não se tornam botõezinhos invasores com pouca utilidade.
Espírito desportivo
Mais que um comportamento desportivo, a versão F Sport do CT 200h tem uma aparência condizente com esse espírito. Por fora, é visível a grelha fusiforme com design acentuado, a grelha dianteira tipo colmeia ou o spoiler de tejadilho com entradas de ar recortadas duplas que melhora a aerodinâmica e potencia a estabilidade. No interior, destacam-se o volante, em pele perfurada com três raios e emblema F Sport, o forro do tejadilho em preto e as inserções do tablier em prateado. Assim que se selecciona o modo Sport, o carro parece agarrar mais a estrada e o indicador Charge/Eco/Power é substituído por um conta-rotações.
Bem arrumado
Defeito: não inclui pneu suplente, tendo a marca optado pelo já tantas vezes criticado kit de reparação de pneus. Vantagens: sob o tapete da mala esconde-se um compartimento, ideal para a arrumação de pequenos objectos que não só ficam fora do alcance de olhares gulosos como acabam por ficar confinados a um pequeno espaço não dançando para um lado e para o outro quando se anda em curvas. O espaço total, de 275 litros, não sendo brilhante, é o suficiente para ir ao supermercado fazer compras para o mês ou mesmo para umas férias. Algo possível devido ao facto de as baterias se esconderem na separação central dos lugares dianteiros.
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Compacto, poupado e divertido