Fugas - Motores

  • Rui Farinha/NFactos
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ADN africano para aventureiros e sonhadores

Por Alberto Pires

A Yamaha renovou um dos seus modelos mais carismáticos, tornando-a mais fácil e eficaz, sem perder nenhuma das qualidades que a colocaram no grupo das devoradoras de quilómetros.

Ténéré, o mítico nome da região centro sul do deserto do Sara por onde passava o rali Paris Dakar, está intimamente ligado à Yamaha, que por várias vezes venceu a prova. Trinta e um anos depois do lançamento da primeira versão, a Yamaha, com esta Super Ténéré 1200, recupera o espírito aventureiro que esteve na origem da criação do primeiro modelo.

A evolução podia ter ido noutra direcção, mais estradista, mas a marca resolveu aprofundar o conceito e torná-la mais eficaz sempre que as condições do terreno se tornam difíceis. O motor foi modificado por forma a proporcionar uma entrega de potência mais suave, tendo sido aumentadas as condutas de admissão e escape e revistos os pistões e segmentos. As árvores de cames são novas e o sistema de escape tem um novo formato. Os mapas de gestão electrónica foram também modificados, tendo-se criado uma maior separação. Na posição T (town) a entrega é mais suave e fluida, enquanto na posição S (sport) o comportamento é mais agressivo.

A ciclística também mereceu cuidados. A preocupação com a redução do peso, um pouco por todo o lado, permitiu ganhar quatro quilos, mas a maior diferença está nas suspensões com afinação electrónica, facilmente ajustável a partir dos comandos, mesmo em andamento.

As diferenças estéticas não são muito grandes mas nota-se uma maior agressividade, sobretudo na definição da dianteira. A versão que experimentámos, com o kitWorldcrosser, é a mais radical, montando várias protecções em carbono e alumínio, e incluía também mais algumas opções do catálogo de acessórios, nomeadamente uma ponteira de escape em carbono da Akrapovic, faróis de nevoeiro e pneus Metzeler Karoo.

O primeiro contacto não é fácil. Nota-se o peso ao movimentá-la e é necessária alguma flexibilidade para conseguir passar com a perna por cima das malas. A posição de condução, no entanto, revela-se natural e o banco, cuja altura é regulável, quando está na posição mais baixa permite que consigamos ter os dois pés em contacto com o solo. O arranque é suave, a caixa é precisa e o accionamento ligeiro, notando-se que o bicilíndrico foi pensado para conviver com os baixos regimes. Em sexta velocidade, a 60 km/h, o motor gira às 2000 rpm, e podemos esquecer as restantes relações se não estivermos com pressa. No modo T o motor é homogéneo e a aceleração é envolvente, sem grandes flutuações na subida de rotação. Para maior animação basta passar para o modo S, justificando-se se pretendermos um comportamento mais enérgico. Nesta configuração faz sentido saber qual o efeito de controlo de tracção que pretendemos, já que os pneus Metzeler Karoo são excelentes para mau piso mas em asfalto mostram as suas limitações em curva, se não tivermos cuidado a rodar o punho. A intervenção do controlo de tracção revela-se útil e mesmo na posição mais cautelosa não retira prazer na condução. Excelente também o ABS, capaz de gerir com grande suavidade os desequilíbrios, mesmo quando exageramos na travagem propositadamente.

A protecção aerodinâmica é muito boa. O vidro tem quatro posições de inclinação, mas não sentimos necessidade de o alterar, as protecções das mãos desviam bem o ar e as pernas estão também escondidas atrás do depósito. Os espelhos cumprem bem a sua missão, vibram pouco e a área disponível cobre bem a retaguarda. O raio de viragem é excelente, sendo necessários menos de cinco metros para inverter o sentido, o que se revela útil porque quando a velocidade é muito baixa o peso faz-se sentir. Ao longo do teste, e sem ter cuidado com o consumo, registámos 6,2 litros de média. Para quem quiser baixar este valor, basta que tenha atenção à indicação no painel de instrumentos à inscrição eco. Quando está acessa, significa que se está a fazer uma condução económica. A Yamaha fez um bom trabalho com esta Super Ténéré. Os aventureiros podem rumar a África, os sonhadores passear com ela pela cidade.

Legível e completo
O painel digital está dividido em dois quadrantes, o maior destinado sobretudo às informações relacionadas com a utilização no momento e o mais pequeno como unidade de controlo e selecção das inúmeras funções e afinações electrónicas.

Cabe tudo
Quem vai para o mar avia-se em terra. As duas malas laterais de 32 litros e o top case com 30 litros, em alumínio anodizado, disponibilizam uma enorme capacidade de carga e arrumação. A precaução e a experiência em ambientes agrestes agradecem esta possibilidade.

Afinação electrónica
O ajuste electrónico do funcionamento das suspensões permite escolher a melhor opção em função do peso que se transporta e das condições de estrada, tudo isto a partir dos comandos e em movimento. No total, para a frente e traseira, são 84 as combinações de afinação possíveis.

Omnipresente
O bicilíndrico paralelo permite todo o tipo de utilizações, podendo ser enérgico em altas ou suave e envolvente em baixas. Fica ao critério do condutor definir o seu temperamento e carácter, bastando para isso escolher o mapa de gestão electrónica e o nível de controlo de tracção pretendido.

FICHA TÉCNICA

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