Fugas - Motores

As cores de Joana Vasconcelos animam este calmo citadino

Por Carla B. Ribeiro

Primeiro assistimos à sua concepção. Depois atrevemo-nos a passeá-lo. E entre elogios e buzinadelas, concluímos que o iQ Urban Art by Joana Vasconcelos é um pequeno citadino muito tranquilo, mas apaixonante.

Não é uma ideia original. O conceito de usar carros como suportes para artistas já correu mundo, tendo a sua expressão maior na colecção da BMW, a Art Cars, que inclui modelos com a assinatura de Alexander Calder, Roy Lichtenstein ou Andy Warhol. Mas esta é a primeira vez que uma artista plástica portuguesa se associa a uma marca para criar uma obra de arte em movimento: trata-se do pequeno iQ da Toyota e quem o adoptou foi Joana Vasconcelos.

O repto foi lançado pela fabricante automóvel, no âmbito de um concurso em parceria com o semanário Expresso, em 2008, aquando do lançamento do iQ: quatro personalidades, Bárbara Guimarães, Joana Vasconcelos, José Luís Peixoto e Mário Laginha, foram convidadas a revestir um pequeno iQ. Cada uma dessas viaturas acabou por ser entregue a quatro premiados.

Na época, Bárbara Guimarães apontou as suas armas às linhas de design, chamando a sua criação de Chic in the City; José Luís Peixoto transformou o veículo num poema em forma de Carrossel; e Mário Laginha imprimiu as suas notas musicais no veículo a que chamou de Fuga. Já Joana Vasconcelos transportou para o iQ Urban Art a sua assinatura enquanto artista plástica: por um lado, revestiu o veículo com manchas de cor, rompendo com os designs mais tradicionalistas, por outro, manteve um traço muito luso. Não é à toa que foram escolhidos “o vermelho do Benfica, o azul do Porto e o verde do Sporting”. Tudo com o objectivo que fossem cores com que os portugueses se identificassem de imediato. Àquelas, Joana Vasconcelos imprimiu ainda o amarelo-torrado e o rosa escuro.

Tudo isso foi entre 2008 e 2009, mas depois de haver um iQ Urban Art by Joana Vasconcelos fez sentido, tanto à artista como à marca, que nascessem mais veículos sob o mesmo mote. Assim, foram criadas cinco versões em que varia sobretudo o jogo de cores, mantendo-se os padrões e o conceito: dar nas vistas e ao mesmo tempo, beneficiando de um conjunto de cores familiar, parecer camuflado.

Claro que, passear pela cidade em dias cinzentos, como foi o caso, com um carro que grita por cor não é propriamente andar camuflado. Bem pelo contrário. E, entre um veículo de alta cilindrada e de tamanhos respeitáveis e um carro onde dois é bom, quatro é de mais, todos os olhares fogem para o último. Claro que assim que adoptámos este carro ficamos marcados: “O que estavas a fazer ontem na estrada que vai para ali?”.

Não há nada que se faça que não haja alguém que dê por isso. E nem sempre pelo lado positivo: tão depressa arranca elogios como desperta invejas. Ou pelo menos assim parece. A verdade é que nunca ao volante de carro algum ouvimos tanta buzinadela. Assim que caía o verde, eis que o estridente som da buzina do carro de trás se ouvia. De tal maneira que ainda fomos verificando se estava tudo certinho. Estariam as portas bem fechadas? Ou seria um farolim com a lâmpada fundida? Mas, nada, nada. Tudo normal. Apenas o colorido poderia causar estranheza.

Já para quem ocupava os bancos a estranheza passava pelo espaço. Ou, no caso de quem se sentou atrás (pernitas pequenas, que de outra forma não seria possível), na falta dele. Neste caso, com os bancos traseiros montados, mala nem vê-la, embora a marca indique uma capacidade de 32 litros. Com os bancos rebatidos são 238 litros para acomodar bagagem.

Se é possível sentar duas pessoas adultas no banco traseiro? Nós diríamos que não. É que mesmo crianças pequenas obrigam a que o condutor quase se cole ao banco. Por isso, nada como usar este carro apenas para um, no máximo para dois. Nesse caso, há espaço de sobra para que ambos os ocupantes se sintam à vontade.

Mas é para o condutor que este carro parece trazer mais vantagens. Primeiro, é poupadinho, não sendo difícil conseguir médias em torno dos cinco litros mesmo em circuitos com trânsito intenso. Depois, é fácil de conduzir, com uma boa resposta da direcção e uma excelente brecagem. Atributos, enfim, que fazem do iQ um animal da cidade.

E nem poderia ser de outra forma. Equipado com o bloco 1.0 VVTi com 68cv, este carro de conceito artístico não é grande amante quer de estrada aberta quer de curvas e contracurvas. Mas sejamos justos: tanto num traçado como no outro tem um comportamento muito equilibrado.

Só que é entre o redilhado urbano que o iQ mais se mostra confortável. De condução tranquila e nenhum arrebate emocional, acelera dos 0 aos 100 km/h em 14,7 segundos, sendo que depois de embalado permite-se a uma velocidade constante, atingindo o máximo de 150 km/h. A caixa, manual de cinco velocidades, é de engrenagem suave e bem escalonada e, na altura de arrumar, cabe em qualquer cantinho para o qual nem olharíamos noutra situação ou com outro carro.

No caso do iQ Urban Art, o carro foi equipado o suficiente para o tornar apetecível: ar condicionado automático, entrada mãos livres, computador de bordo, controlo de estabilidade electrónico (ESP) com controlo de tracção, faróis de nevoeiro, jantes de liga leve de 15 polegadas, rádio com CD, sensores de chuva e luz, vidros e espelhos eléctricos. Note-se que os comandos do rádio, apenas disponíveis no volante, poderiam ser mais intuitivos.

Produzidos sob encomenda, e com preço fornecido sob consulta, cada carro com desenho de Joana Vasconcelos é pintado à mão, com um acabamento envernizado. As informações podem ser obtidas através da linha criada para o efeito: 808 248 248.

FICHA TÉCNICA

Mecânica

Cilindrada: 996cc

Potência: 68cv @ 6000rpm

Binário: 91 Nm @ 4800rpm

Cilindros: 3, em linha

Alimentação: Gasolina,sistema de injecção electrónico multiponto

Tracção: Dianteira, transversal

Caixa: Manual, cinco velocidades

Suspensão: independente tipo MacPherson, à frente; eixo de torção, atrás

Direcção: Eléctrica assistida

Travões: discos à frente; tambor atrás

Pneus: 175/65 R15

Dimensões

Comprimento: 2985mm

Largura: 1680mm

Altura: 1500mm

Dist. entre eixos: 2000mm

Peso: 845kg

Capac. do depósito: 32 litros

Prestações

Vel. máxima: 150 km/h

Ac. 0-100 km/h: 14,7 s

Consumo médio: 4,3 l/100km

Emissões CO2: 99 g/km

Preço Sob consulta

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