A terceira geração do Renault Twingo e a segunda do smart forfour, ambos produzidos na fábrica eslovena de Novo Mesto da Renault e partilhando 65% dos componentes, apresentam uma notável melhoria em relação aos modelos que substituem. Sendo ambos atractivos, com as diferenças mais marcantes no visual, optar por um ou por outro é mais uma questão de gosto. A Fugas conduziu a versão topo de gama do Twingo, Sport, com o motor 0.9 tricilíndrico de 90cv e um preço-base de 14.450€.
Foi um casamento feliz, o da Renault com a Daimler, do qual resultaram dois filhos, os novos smart e Twingo. Os pequenos citadinos estão cada vez mais requintados, com características, uso de materiais e acabamentos que os aproximam dos veículos considerados premium, em especial nas versões topo de gama, como foi o caso do Twingo que conduzimos. E se entre algumas gerações de outros modelos se pode notar alguma evolução na continuidade, este Twingo III faz um corte radical com o passado.
Este é um carro moderno, tanto nos aspectos positivos como nos negativos. Nesta vertente, há que mencionar a inclusão de um muito questionável kit de reparação de pneus, agora infelizmente na moda, em vez de um pneu sobresselente normal ou uma roda de emergência. Outra “modernice retro” é a ausência de conta-rotações, que, sendo dispensável num veículo com caixa automática, é um muito útil auxiliar de condução num carro com caixa manual, não sendo substituível pelo indicador de mudança de velocidade como certos fabricantes alegam. Outra opção questionável é a da tampa da mala só se abrir com o comando, não existindo uma fechadura manual. Se falhar (por exemplo, por esgotamento da pilha), só se pode aceder à mala pelo interior do carro, rebatendo os bancos traseiros numa operação algo complicada.
É claro, porém, que os pontos positivos superam em muito os negativos, fazendo deste Twingo um carro muito melhor que o da anterior geração. Comece-se pelo motor, turbo de injecção multiponto da nova geração de propulsores tricilíndricos. Acoplado a uma bem escalonada e elástica caixa manual de cinco velocidades, com 898cc, debita 90cv e tem o binário máximo de 135Nm logo às 2500 rpm. Isto quer dizer que tem potência disponível logo a baixas rotações e não vai abaixo com facilidade. É verdade que é algo ruidoso, em especial no arranque e nas relações mais baixas, e que o consumo real é bastante superior ao anunciado aos 4,3 l/100km anunciados pela marca: cerca de 6,5 l/100km mesmo com o sistema Start/Stop de paragem e arranque automáticos do motor e um modo Eco economizador da condução. Em contrapartida, é vivo, enérgico, com boas performances em recuperações e ultrapassagens, o que, associado a uma direcção directa, faz com que se despache muito bem não só em cidade mas também em estrada.
Outros factores que proporcionam maior guiabilidade e estabilidade são a tracção traseira e a colocação do motor também atrás, sob a mala. Isso permite um maior espaço para os dois passageiros atrás (por ausência de túnel de transmissão), uma melhor distribuição de peso, com consequente aumento da estabilidade e um bom comportamento em curva, para o que também contribui a excepcional brecagem deste veículo.
As cinco portas possibilitam um fácil acesso ao habitáculo para os quatro ocupantes. Na versão Sport que conduzimos, os bancos em pele e tecido com dois tons, uma pala protectora dos raios solares forrada a couro sobre o velocímetro/computador de bordo, as cercaduras vermelhas na consola central e nas saídas de ventilação, bem como as inserções a vermelho no volante (agradável ao tacto) e a tampa, também a vermelho, de uma caixa amovível colocada à frente da alavanca das mudanças — tudo isto contribui para um visual interior moderno e elegante, em consonância com o design exterior.
Exceptuando a ausência de conta-rotações, a instrumentação tem um design atractivo e é de fácil leitura com um computador de bordo bastante completo. O veículo que conduzimos dispunha do sistema de infoentretenimento básico R&GO, com suporte para smartphone, através do qual se pode ter navegação por GPS ou acesso a rádio via Internet. Em opção, existe um pack, Techno, que, por 1000€, inclui um ecrã táctil de 7’’, o sistema R-Link de infoentretenimento e navegação, câmara de visão traseira e sensores de estacionamento traseiros.
Pormenores
Pescadinha de rabo na boca
Até faz impressão. Com uma direcção precisa, leve e directa, o facto de o motor se localizar na traseira do carro permite que as rodas girem quase 90º: o diâmetro de viragem é de 8,6m entre passeios ou 9,09m entre paredes e isso faz com que, mesmo numa via relativamente estreita, o Twingo faça inversão de marcha numa só manobra — uma verdadeira pescadinha de rabo na boca. Melhor só o “primo” microcitadino smart fortwo, mas, tirando este, nenhum outro veículo tem uma brecagem comparável ao Twingo e ao seu “irmão” smart forfour.
Modernices revivalistas
Há certas falhas de equipamento que podem ser intrigantes. Em meados do século passado, o conta-rotações só existia nos desportivos. Depois, pela sua utilidade, a sua inclusão no equipamento de série foi-se alargando até abranger os mais modestos veículos. Agora parece que se está a assistir a uma regressão. Primeiro foi o Citroën C Cactus, agora é o Twingo: ambos não têm conta-rotações, só indicador de mudança de velocidade. O conta-rotações é um útil auxiliar de condução que não é substituível pelo indicador de mudança de velocidade. O conta-rotações é dispensável num veículo com caixa automática, mas nunca num de caixa manual.
Bonito e funcional
Ao visual exterior, corresponde um design interior que junta estilo e jovialidade a funcionalidade. Bolsas espaçosas nas portas, um útil suporte para telemóvel no veículo que conduzimos. Uma caixa amovível à frente da alavanca das mudanças com tampa vermelho (que também serve para colocar pequenos objectos: carteira, chaves, etc.) a condizer com as inserções na mesma cor no volante e tablier. Uma bonita pala em couro para proteger o velocímetro e o computador de bordo da incidência directa do sol. Para além do rebatimento dos bancos traseiros, também o do banco do pendura para possibilitar o transporte de objectos de maiores dimensões. Os pedais em alumínio perfurado, os bancos, envolventes à frente e espaçosos para duas pessoas atrás, em tecido e pele com acabamentos a branco e vermelho. Enfim, um exemplo de conjugação de design com funcionalidade. Apenas um senão: o portão traseiro só se abre com o telecomando, não dispondo de fecho ou botão para accionamento manual (em caso de falha do comando, só se pode aceder à mala rebatendo os bancos traseiros).
Os olhos não vêem tudo
A versão Sport, topo de gama, é a mais cara do Twingo. Por isso, sendo este veículo um citadino por excelência justificava-se a inclusão de sensores de estacionamento traseiro no equipamento de série. O carro é pequeno, facílimo de manobrar e arruma-se muito bem em pequenos espaços, mas é sabido que, em especial nas manobras de marcha-atrás, podem ocorrer pequenos toques em obstáculos que não se vêem. A única hipótese é a aquisição do pack Techno, que por 1000€, inclui o R-Link, sistema multimédia e de navegação com ecrã táctil, e sensores de estacionamento traseiro com câmara de marcha-atrás.
Ficha Técnica
Mecânica
Cilindrada: 898cc
Potência: 90cv às 5500 rpm
Binário: 135 Nm às 2500 rpm
Cilindros: 3
Válvulas: 12
Alimentação: Gasolina, com sistema de injecção multiponto turbo
Tracção: Traseira
Caixa: Manual de 5 velocidades
Suspensão: à frente, tipo McPherson, molas helicoidais e barra estabilizadora; atrás, eixo rígido de Dion, molas helicoidais.
Direcção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica
Diâmetro de viragem: 8,6 metros entre passeios, 9,09 entre paredes
Travões: Discos ventilados 258mm à frente; tambores atrás
Dimensões
Comprimento: 3595mm
Largura: 1646mm
Altura: 1554mm
Distância entre eixos: 2492mm
Peso: 943kg
Pneus: 185/50 R16 à frente, 205/45 R16 atrás (kit de reparação de pneus)
Capac. depósito: 35 litros
Capac. mala: 188 litros (980 litros com os bancos traseiros rebatidos)
Prestações
Veloc. máx.: 165 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 10,8s
Cons. misto: 4,3 litros/100 km
Emissões CO2: 99g/km
Nível de emissões: Euro 6
Preço:14.450€ (Viatura ensaiada, 14.810€) * Dados do construtor
EQUIPAMENTO
Segurança
ABS: Sim
Controlo electrónico de estabilidade: Sim
Controlo de tracção: Sim, com auxílio à travagem de emergência
Airbags dianteiros: Sim
Airbags laterais: Sim, à frente
Airbags de cortina: Não
Airbag de joelhos para o condutor: Não
Auxílio arranque em subida: Sim
Aviso de mudança involuntária de faixa de rodagem: Sim
Aviso da pressão dos pneus: Sim
Sistema de fixação Isofix para cadeiras de crianças: Sim
Aviso de colocação do cinto de segurança: Sim
Vida a bordo
Vidros eléctricos: Sim, à frente (atrás, manuais com abertura a compasso)
Vidros escurecidos: Sim, atrás e óculo traseiro
Fecho central: Sim
Comando à distância: Sim
Acesso de mãos livres e arranque por botão: Não
Direcção assistida: Sim, com assistência variável
Espelhos retrovisores com regulação eléctrica: Sim
Volante regulável: Sim, em altura
Volante multifunções: Sim
Volante e alavanca de velocidades em pele: Sim
Comandos de rádio e telefone no volante: Sim
Rádio/CD com MP3: Sim
Bluetooth e USB: Sim
Ar condicionado: Sim, automático (opção, pack Clim Auto, 360€)
Bancos dianteiros ajustáveis em altura: Sim, do condutor
Bancos traseiros rebatíveis: Sim, individualmente
Estofos e bancos em pele e tecido: Sim
Reg./limitador de veloc.: Sim
Travão de estac. eléctrico: Não
Função Start/Stop: Sim
Computador de bordo: Sim
Jantes em liga leve: Sim, 16’’
Alarme: Não
Navegação por GPS: Sim, através de um smartphone com o sistema R&GO ou por opção incluída no pack Techno, 1000€, através da função R-Link do ecrã táctil
Sensores de luz e chuva: Sim, opção pack Clim Auto
Sensores de estac. dianteiros e traseiros: Não (pack Techno opcional inclui sensores de estacionamento traseiros)
Câmara de visão traseira: Não (opção incluída no pack Techno)
Faróis de nevoeiro: Sim
Luzes de dia: Sim, em LED
Faróis de xénon: Não
Tecto panorâmico: Não