São vários os comentários que ouvimos quando andamos de scooter. Desde os saudosos “quando era miúdo tive uma” até aos curiosos “agora já não é preciso carta, pois não?”, dificilmente escapamos a uma apreciação. Há uma, no entanto, que persiste e está ligada à segurança, sendo na forma mais vulgar qualquer coisa do género “pois, mas o problema é que só tem duas rodas!”.
Esta realidade é transversal no motociclismo mas há segmentos de mercado mais afectados pela percepção do risco. A Yamaha, consciente desta realidade, decidiu enfrentá-la com igual objectividade e desenvolveu a Tricity, uma scooter com três rodas. O conceito não é novo, mas o seu sistema de funcionamento é distinto. Na realidade, temos na frente, ancorado num paralelograma em alumínio, dois trens dianteiros convencionais, duplicando-se desta forma as rodas, os travões e a capacidade de absorção.
O primeiro contacto mostra que estamos perante uma scooter ligeiramente diferente das restantes. O peso visual da zona dianteira é expressivo e, de alguma maneira, condiciona também a sensação aos seus comandos. A posição do guiador é mais alta que o vulgar, estamos sentados com o tronco direito e o espaço para a colocação das pernas está bem definido. Assim que começamos a andar sente-se, num primeiro momento, mais peso e inércia que nas scooters da mesma classe, mas é num instante que essa sensação é ultrapassada pelas características positivas próprias do sistema dianteiro que utiliza.
A capacidade de absorção das irregularidades é excelente, sendo que as rodas não comunicam entre si as dificuldades que sentem. Ou seja, uma pode passar por um enorme buraco que a outra encarrega-se de assegurar a estabilidade. Em curva, é quase inacreditável a aderência, suportando que se force com violência a inclinação que a frente não dá sinais de fraquejar.
Se a isso juntarmos a capacidade de travagem, muitos dos receios associados à utilização de uma moto começam a deixar de fazer sentido. Usando a manete esquerda, a travagem distribui-se de forma equilibrada pelas três rodas, estando a manete da direita destinada apenas às rodas dianteiras. O acréscimo de segurança advém do facto de podermos levar até ao extremo a travagem, que a frente mantém-se equilibrada. Por exemplo, ao travar com força suficiente para bloquear uma das rodas dianteiras em cima dos trilhos dos eléctricos, nota-se que a roda bloqueia e vai a deslizar, mas a do outro lado trava sem que no guiador se sinta qualquer desequilíbrio.
Os aspectos práticos, fundamentais neste género, também são dignos de registo. O estrado plano, com um gancho destacável no avental, oferece uma capacidade de carga apreciável, garantindo a posição das pernas a devida estabilidade do conjunto. Debaixo do banco há também um espaço suficiente para guardar um capacete integral. O conforto está também a um nível superior. A frente é suficientemente larga para proteger as pernas e o pequeno ecrã dianteiro desvia parte do vento, oferecendo uma protecção razoável mesmo numa via rápida. O banco traseiro está bem dimensionado e as pegas para o passageiro são práticas.
A aceleração é pronta, permitindo à Tricity desenvencilhar-se com facilidade nos semáforos, a velocidade máxima que atinge é suficiente para circular com segurança nas vias rápidas e consegue fazer consumos em redor dos três litros sem dificuldade. Em cidade, como a largura das rodas dianteiras é inferior ao guiador sabemos quando é que podemos passar com segurança. A iluminação é suficiente e as informações do painel de instrumentos asseguram-nos o necessário para a condução citadina.
Eficaz
A combinação do duplo paralelograma com duas forquilhas com 33mm de diâmetro assegura um funcionamento excelente. A rigidez e capacidade de absorção impressionam, contribuindo decisivamente para a segurança na condução. As jantes de 14 polegadas e o duplo travão de disco completam este quadro.
Actual
O monocilíndrico que equipa a Tricity já deu provas da sua resistência noutros modelos da marca e está bem configurado para as exigências desta versão. Dispõe de um bom arranque, as vibrações estão bem filtradas e os valores de consumos são razoáveis, mesmo numa utilização exigente e sem limitações neste capítulo.
Espaçosa
O espaço para as pernas é suficiente para nos movermos bem, facilitando as entradas e saídas. Funciona também muito bem como protecção aos diferentes elementos. Permite ainda colocar sem dificuldades uma mochila ou um saco, aumentando a capacidade de carga para valores muito interessantes.
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo: 4T, monocilíndrico, refrigeração líquida
Distribuição: SOHC, 2 válvulas p/cilindro
Cilindrada: 124,8 cc
Diâmetro x curso: 52,4 x 57,9 mm
Potência declarada: 8,1 Kw às 9.000 rpm
Binário declarado: 10,4 Nm às 5500 rpm
Alimentação: Injecção eletrónica
Arranque: Eléctrico
Embraiagem: Automática
Caixa: Variador contínuo
Ciclística
Quadro: Tubular em aço
Suspensão dianteira: Forquilha telescópica
Suspensão traseira: Braço oscilante com dois amortecedores
Travão dianteiro: Dois discos de 220mm
Travão traseiro: Disco de 230mm
Rodas dianteiras: 90/80-14’’
Roda traseira: 110/90-14’’
Peso e dimensões
Altura do assento: 780 mm
Capacidade do depósito: 6,6l
Peso:152 kg
Preço: 3983€