Fugas - Motores

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Uma limusina de luxo também pode ser poupadinha

Por João Palma

A Mercedes, para provar que até mesmo os seus topos de gama podem ser económicos nos consumos, propôs um desafio a vários jornalistas: num percurso de 150 quilómetros com velocidade controlada e tempo máximo para o efectuar tentarem fazer a melhor média de gasto de combustível, aproveitando todas as funcionalidades disponíveis nos três carros que disponibilizou. Todos tinham a mesma motorização a gasóleo com motor eléctrico auxiliar: classes C 300, E 300 e S 300, todos BlueTEC HYBRID.

Sempre que escrevemos sobre um veículo que ensaiamos, referimos as médias de consumos oficial e a real obtida na condução do dia-a-dia. A discrepância mínima é de cerca de um litro em cada 100 quilómetros, mas o normal é ser mais. As marcas reconhecem que as médias oficiais são obtidas em condições ideais, mas, embora reconhecendo que a realidade supera sempre os consumos teóricos, por vezes queixam-se do nosso “pé pesado” no acelerador.

No caso da Fugas, a política oficial é a de conduzir os veículos das marcas como se fossem os nossos e, embora testando as suas capacidades de aceleração, recuperação, travagem, estabilidade, etc., preocupamos sempre com os consumos. Foi por isso que aceitámos de bom grado o desafio proposto pela marca alemã: seis jornalistas divididos em três equipas de dois elementos. À equipa constituída pelo representante da Fugas/PÚBLICO e pelo jornalista da revista TopGear calhou em sorte o mais pesado e gastador (mas também o mais luxuoso e confortável) dos três carros que a Mercedes pôs à prova: o S 300 BlueTEC HYBRID.

Este é um “bicho” que pesa duas toneladas e cuja média oficial de consumos é de 4,4 l/100km — ainda assim um valor baixo, graças ao facto de ao motor diesel 2.2 de 204cv e 500 Nm de binário às 1600-1800 rpm estar associado um motor eléctrico de 27cv e 250 Nm (231cv de potência total). O motor eléctrico faz o arranque do carro e permite que este circule em modo 100% eléctrico até 35 km/h numa distância máxima de 1km, auxiliando o motor de combustão nas outras circunstâncias. Outras funções que contribuem para a redução de consumos são o sistema Start/Stop, a travagem regenerativa e o modo de condução “à vela”, que, até 160km e em certas condições (descidas, etc.), mesmo com a caixa automática de sete relações no modo Drive, permite circular com o motor desligado.

O percurso estabelecido, que teria que ser feito a uma média entre 66 km/h e 68 km/h, tinha como ponto de partida as instalações da Mercedes na Abrunheira (Sintra), com paragem intermédia no Porto Alto, na Companhia das Lezírias (cujos múltiplos motivos de atracção, já referidos aqui na Fugas, merecem uma visita) sendo o destino final Évora. Pois bem, cumprindo os tempos estabelecidos, acabámos com um consumo médio de 4,1 l/100km. É verdade que nos socorremos de todas funções disponíveis no carro para poupar no gasóleo. É também verdade que, em especial na recta entre Alcochete e Porto Alto, fomos ultrapassados por diversos “ferraris” disfarçados de camiões TIR. Os condutores destes devem ter pensado: “Mal-empregado um carro destes nas mãos de um ‘nabo’ que se anda para aqui a arrastar.” Mas é igualmente verdade que, para cumprir as médias estabelecidas, houve que manter uma velocidade constante igual ou até superior a 70 km/h (na auto-estrada, entre 100km/h e 120 km/h).

A Mercedes provou que tinha razão, que a velocidades moderadas é possível ter uma condução ultra-económica. Mas o que se poupa em combustível gasta-se em comprimidos para os nervos: é como levar uma facada, ao volante de uma “bomba” como um classe S, ser-se ultrapassado por camiões e ter sangue-frio para não reagir à “bofetada”. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: entre circular à velocidade que o carro pede, com sério risco de pagar ao Estado pela brincadeira, e o modo como conduzimos há um meio-termo: respeitando os limites legais e usando todas as formas de poupança é possível neste S 300 BlueTEC HYBRID fazer em estrada médias entre os 5,0 e os 6,0 l/100km.

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