Escrever sobre uma versão de um carro que não é uma nova geração ou uma renovação e que, materialmente, não acrescenta nada ao modelo existente não é usual. Mas a edição especial do Fiat 500, Vintage ’57, mais que novos ou renovados motores e equipamentos, evoca e transporta para o presente o espírito e a essência de um veículo icónico, numa versão revivalista limitada a 3500 unidades. Em Portugal, a comercialização arranca no início de Maio com preços desde 17.000€ (1.2 gasolina, 69cv).
O ano de 1957 foi de viragem, marcando o início do “milagre económico”, de uma era de optimismo que sucedeu aos anos duros do pós-guerra. É o ano da criação da Comunidade Económica Europeia, que mais tarde iria originar a actual União Europeia, do lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik, do aparecimento dos primeiros supermercados na Europa e, no caso português, das emissões de televisão.
Em Itália, como no resto da Europa, um automóvel era um luxo ao alcance de poucos e o transporte individual era feito essencialmente sobre duas rodas — as Vespas e as Lambrettas. Por isso, os responsáveis da Fiat conceberam um carro acessível que proporcionasse soluções de mobilidade para uma jovem população urbana. Assim nasceu o Fiat 500, que redefiniu o conceito de carro pequeno e é considerado um dos primeiros citadinos.
O Fiat 500 original foi lançado no Verão de 1957 e teve produção continuada até 1975. Era um pequeno (2,97m de comprimento), prático e barato citadino, com uma capota de lona parcial, de quatro lugares, duas portas que abriam para trás e um motor refrigerado a ar de dois cilindros e 479cc (daí a designação “500”) de montagem traseira com 13cv de potência e transmissão manual de quatro velocidades, atingindo uns “estonteantes” 85 km/h de velocidade máxima.
Em 2007, no 50.º aniversário do lançamento do 500 original, a Fiat lançou um novo 500 inspirado estilisticamente no original, mas maior e mais pesado e com características de pequeno veículo premium, numa política semelhante à seguida pela BMW com o novo Mini e que foi igualmente bem-sucedida, merecendo acolhimento positivo do público em geral.
O novo Fiat 500 também tem tido várias variantes e versões, a última das quais um crossover compacto, o 500X. Mas agora a Fiat decidiu, num tributo ao icónico Fiat original, recriar num contexto actual o carro de 1957, transportando literalmente o futuro para o passado. Mais que inovações mecânicas ou tecnológicas, foi a reconstituição de todo um conceito primordial. A série especial 500 Vintage ’57 tem um visual retro que emula o primeiro 500: entre as 12 cores disponíveis, sobressai a carroçaria azul-pastel, com o tejadilho, o spoiler e os retrovisores em branco, as jantes de 16’’ em liga branca e cromadas a lembrar as dos anos 50 do século passado, os cromados, os estofos em pele castanha ou a faixa branca no tablier, cujo design também remete para 1957. Nesta versão, até o emblema da Fiat é o da época do seu lançamento original e não o actual.
Na apresentação desta nova/velha versão, que decorreu no Centro Histórico da Fiat, em Turim (Itália), onde foi criado um ambiente anos 50 do século XX, foi possível apreciar os traços estéticos comuns entre o primeiro 500 e o Vintage ’57. Mas as semelhanças acabam aí. Esta edição especial inclui entre o equipamento de série sete airbags, controlos de estabilidade e tracção, auxílio à travagem de emergência e ao arranque em subida rádio/CD MP3, tecnologia Blue&Me de comandos vocais com Bluetooth, comandos no volante, rádio digital com USB/AUX, etc. Em resumo, um veículo do século XXI com roupagem dos anos 50 do século XX.
No que se refere a motores, é possível optar pelo já referido 1.2 de 69cv ou pelos 0.9 Twin Air de 105cv a gasolina (18.300€) e o 1.3 diesel de 75cv (20.000€). Uma nota final: os valores reflectem a pesada e excessiva tributação automóvel portuguesa, pois tendo esta versão o mesmo preço-base de origem, em Itália custará 16.500€ e em Espanha, com o plano de retoma de veículos usados, ficará por pouco mais de 10.000€.
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Fiat 500 Vintage ’57, espírito revivalista