Fugas - Motores

Teste Citroën C4 Cactus 1.2 Puretech 110cv Shine

Por João Palma

Com o seu estilo diferente e funcional, o C4 Cactus animou a gama Citroën. E o crossover tem um novo motor a gasolina.

“Ame-o ou deixe-o.” Esta é a expressão que caracteriza o Citroën C4 Cactus, um veículo que não deixa ninguém indiferente. Muitas vezes, quem experimenta os novos modelos que as marcas lançam no mercado, dá por si a pensar: “É bom, mas é mais do mesmo.” É verdade que, embora não haja carros perfeitos, hoje em dia também já não há carros maus. Todos os sistemas, sejam eles de segurança ou de informação e entretenimento, tendem a democratizar-se e a mecânica e motores são cada vez mais eficientes.

Porém, no que se refere ao visual e ao design, por vezes só ao perto é que se conseguem distinguir os diversos veículos de marcas diferentes. Não é o caso do Cactus: com osairbumps, os painéis de plástico com almofadas de ar nas portas e pára-choques que protegem o carro de pequenos toques em tom diverso do da carroçaria (uma imagem de marca exclusiva deste crossover), ele destaca-se tanto da multidão como um velho “carocha”, um Mini ou um Fiat 500.

Além da originalidade, o C4 Cactus foi concebido para ser um carro funcional recheado de soluções económicas mas muito úteis. O interior deste veículo de 4,16m de comprimento está bem aproveitado, com espaço para cinco e uma mala de 358 litros (1170 com a segunda fila de bancos rebatidos), o suficiente para uma família com dois filhos (e eventualmente a sogra) ir de férias e levar a bagagem. A ausência de túnel de transmissão central também contribui para a comodidade de quem se senta atrás ao meio. No habitáculo também existem diversos espaços para arrumos. O visual é original, com linhas puras e simples inspiradas em malas de viagem e a instrumentação, com comandos simples e poucos botões, divide-se por dois ecrãs, um atrás do volante e outro, táctil de 7’’, que nos níveis de equipamento superiores inclui um sistema de navegação.

Agora, nem tudo são rosas: para reduzir custos, no interior predominam os plásticos duros, a insonorização não é a melhor e acima dos 100 km/h, com vento de frente, o ar ao entrar nas condutas produz um assobio que se pode tornar incomodativo. Na mesma linha, a abertura dos vidros traseiros é a compasso e o volante só é regulável em altura (embora ajustando os confortáveis bancos dianteiros, “tipo sofá” no dizer da marca, se possa obter uma boa posição de condução). E, embora haja indicador de mudança de velocidade, sente-se a falta de um conta-rotações.

Já tínhamos conduzido este crossover compacto com outras motorizações. Experimentámos agora a nova adição à gama de propulsores: o 1.2 tricilíndrico turbo de injecção indirecta a gasolina com 110cv. Fazemos desde já uma declaração prévia: na nossa opinião, a estrela da companhia continua a ser o muito eficiente e económico 1.6 BlueHDi diesel com 100cv e uma caixa manual de cinco velocidades — a mesma que equipa a versão 1.2 a gasolina com 110cv. Mas esta é uma ideia susceptível de ser refutada.

Às mesmas velocidades e em percursos similares, a versão a gasolina gasta mais entre 1,0 e 1,5 litros aos 100km que o diesel de 100cv. O motor 1.2 tricilíndrico de nova geração disponibiliza o binário máximo logo às 1500rpm (é muito difícil o motor ir abaixo e há potência disponível logo no arranque — no seu comportamento e resposta até parece um motor a gasóleo), mas sente-se mais força no motor 1.6 de 100cv a gasóleo, nas recuperações, ultrapassagens e arranques, embora este apresente performancesligeiramente inferiores face ao propulsor a gasolina. A agradável ao tacto e eficiente caixa manual de cinco velocidades é idêntica para as duas versões. Válido para toda a gama Cactus, a suspensão suave proporciona viagens confortáveis sem comprometer em demasia a estabilidade do veículo.

O C4 Cactus com o motor 1.2 de 110cv só está disponível no nível de equipamento superior, Shine. Neste nível, o carro já traz tudo o que é requerido (e não só) para que não seja necessário adquirir equipamento opcional. O veículo que conduzimos tem um preço-base de 21.086€ e trazia extras no valor de 1000€, como roda sobresselente temporária, pintura ou airbumps com tom especial, que, à excepção da roda de emergência (100€), seriam perfeitamente dispensáveis. Já o Cactus 1.6 BlueHDi de 100cv no nível de equipamento Shine custa 23.686€ (21.883€ com o nível Feel). Isto é, em igualdade de equipamento, mais 2600€.

Considerando o menor consumo do motor diesel e a diferença de preço entre gasóleo e gasolina, é preciso fazer mais de 80.000km com o 1.6 BlueHDi para que a diferença no preço de aquisição se esbata — ou seja, se se fizer uma média de 10.000km/ano serão necessários oito anos para equilibrar a balança. Outros dados a ter em conta são, por um lado, o valor de retoma superior dos veículos a gasóleo e, por outro, o custo superior das suas revisões face ao das motorizações a gasolina. Por isso, citando um anterior primeiro-ministro português: “Há que fazer as contas.”

FICHA TÉCNICA

Motor: 1199cc, 3 cil., 12 válv. 

Potência: 110cv às 5500 rpm

Binário: 205 Nm às 1500 rpm

Transmissão: Manual, 5 vel.

Veloc. máxima: 188 km/h

Aceleração 0 a 100 km/h: 9,3s

Consumo médio: 4,7 l/100km

Combustível: Gasolina

Emissões de CO2: 107 g/km

Norma de emissões: Euro 6

Preço: 21.086€ (veículo ensaiado, 22.086€)

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