Fugas - Motores

Enric Vives-Rubio

Promessas cumpridas

Por João Palma

Criar uma imagem de marca leva décadas, mas os coreanos, uma vez definidos os objectivos, são persistentes. Na mente das pessoas ainda há resquícios da ideia de carros coreanos com estética duvidosa e mecânica questionável.

Por isso, no final dos anos 90 do século XX, foi recebido com algum cepticismo o anúncio dos responsáveis da Kia que numa década se iriam bater com os construtores europeus e japoneses. Porém, em 2007 surgiu o cee’d, fabricado na Eslováquia para o mercado europeu.

O cee’d, com design ao gosto europeu e fiabilidade mecânica — reforçada pela garantia de sete anos, que se tornou símbolo da marca —, representou uma revolução face ao passado da Kia. No lançamento da segunda geração do cee’d, em 2012, nova promessa: o fabricante coreano iria apontar para modificar a imagem low-cost da Kia, apostando na sofisticação. O novo Sorento e a terceira geração do cee’d aí estão para corroborar essa nova linha de orientação.

Tivemos agora oportunidade de conduzir o novo cee’d, com o nível superior de equipamento, GT Line, e confirmámos que estão a ser dados os passos certos para criar uma nova reputação da Kia — pode levar vários anos, mas este é o caminho.

Comecemos pelo pormenor menos conseguido deste carro: os consumos. Num percurso de cerca de 300km, englobando estrada, auto-estrada e condução em cidade, obtivemos uma média de 5,8 l/100km, algo distante dos 3,9 l/100km anunciados. É certo que era um carro novo e, com mais quilómetros percorridos, a média irá certamente baixar. Ainda assim, a diferença é apreciável.

Tirando isto, é difícil apontar defeitos a este veículo. A caixa manual de seis velocidades está bem escalonada, o sistema Start/Stop de paragem e arranque automáticos do motor funciona com eficiência, os 136cv do propulsor 1.6 diesel (um aumento face aos 128cv da geração anterior) proporcionam a potência necessária para deslocar o carro sem problemas, com boa resposta no arranque, nas recuperações e nas ultrapassagens. É certo que há motores de igual potência com melhor comportamento, mas neste particular não há muitos reparos a fazer.

Depois, a começar pelo exterior, o nível superior do Kia cee’d tem um design muito atractivo, elegante e dinâmico, em especial na frente, com ópticas que lhe dão um visual desportivo, complementadas por 4 LED de luzes do dia em cada extremidade do pára-choques. De noite, como pudemos comprovar, proporcionam uma boa visão, complementada por uma eficiente iluminação em curva.

O interior é espaçoso para os cinco ocupantes, sendo o túnel de transmissão baixo, o que representa conforto adicional para o passageiro do meio atrás. Aquela ideia pré-concebida de carros coreanos com interiores em plásticos duros, materiais baratuchos e acabamentos apenas razoáveis é totalmente varrida ao entrarmos no habitáculo: materiais macios e agradáveis ao toque, no caso do GT Line bancos envolventes e confortáveis em tecido e pele com pespontos, volante e alavanca das mudanças em pele, pedaleira em metal, dupla ponteira de escape, etc. — uma qualidade a aproximar-se da dos veículos das marcas premium.

No entanto, a Kia mantém-se uma marca low-cost e isso não é depreciativo, mas antes um elogio: beneficiando de um desconto de campanha de 5000€, considerando motor, potência e nível de equipamento, o cee’d GT Line é uma referência no segmento C, o dos pequenos familiares, em termos de relação preço/nível de equipamento. Alarme, sensores de luz e de chuva, faróis de nevoeiro com iluminação em curva, detector da pressão dos pneus, auxílio ao arranque em subida, um eficiente travão de estacionamento eléctrico, climatizador de duas zonas, modos de condução Normal, Confort e Desportivo, computador de bordo, cruise control, sistema de navegação (actualizável gratuitamente durante os sete anos da garantia), câmara de estacionamento traseiro, sensores de estacionamento, um bom rádio/CD, conexões Bluetooth e USB, etc., etc., que a lista de equipamento de série é longa. No veículo que nos disponibilizaram, o único extra era o tecto panorâmico (950€).

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