Durante o teste que fizemos ao Seat Ibiza Cupra, ocorreu um episódio que pode caracterizar este desportivo, tanto no visual como nas performances. Rolando calmamente, ao fazer uma ultrapassagem, vindo disparado de trás colou-se à traseira do carro um “pilotaço” a fazer frenéticos sinais de luzes, talvez querendo que nos atirássemos para a berma ou contra o veículo que íamos a ultrapassar. Pois bem, bastou pisar no acelerador para que esse “senhor do asfalto” ficasse uma centena de metros atrás.
A versão desportiva do novo utilitário da Seat, posta à venda no início do ano, é o típico exemplo de cão que não ladra mas morde. Discreto por dentro e por fora, com uma única saída de escape trapezoidal ao centro do difusor de ar traseiro, à primeira vista confunde-se com um carro “normal”, uma espécie de mogway, um animalzinho adorável. Por isso não admira que alguns condutores fanfarrões, que se consideram reis da estrada em pilecas disfarçadas de desportivos, olhem com desdém o Seat Ibiza Cupra. Mas tal como os mogway, que alimentados depois da meia-noite e em contacto com água se transformam em monstros, em gremlins, o Ibiza Cupra, sob uma aparência inócua, esconde um “monstro” dotado de um “coração” de 192cv, um binário de 320 Nm, capaz de acelerar dos 0 aos 100 km/h em 6,7s, atingindo uma velocidade máxima de 235 km/h. Tudo isto por um preço inferior a 23.000€, valor imbatível para um veículo do seu segmento e potência com características similares.
É verdade que o veículo que nos disponibilizaram trazia alguns extras, como o sistema de navegação (335€) ou a pintura metalizada (422€), que somavam cerca de 1000€, mas pelo preço-base obtém-se um veículo perfeitamente apto a circular sem necessidade de opcionais. E mesmo os extras têm um preço razoável.
Este é um carro que não se adequa a quem dá mais importância ao visual que às performances. Não é que o Ibiza Cupra seja feio, pelo contrário, mas se não se tiver atenção aos pormenores como as grandes pinças de travão em vermelho, pode-se confundi-lo com um vulgar utilitário. Até os interiores, com instrumentação completa, em materiais macios ao tacto, mas onde predomina o negro e a sobriedade, podem levar ao engano – nem sequer os pedais são em metal como é usual em veículos desportivos (ou que, não o sendo, parecem que são…).
Em relação ao Ibiza Cupra de 2013, o motor aumentou a cilindrada (de 1.4 para 1.8), a potência (de 180cv para 192cv) e o binário, que atinge os 320Nm logo às 1450 rpm em vez de 250 Nm às 2000 rpm. Também a caixa passa a ser manual de seis velocidades em vez da anterior DSG de dupla embraiagem e sete relações. Esta mantém-se em alternativa no Volkswagen Polo GT, que partilha com o Ibiza Cupra mecânica e motor.
A caixa manual não tem relações muito curtas mas é precisa e permite uma resposta rápida. Aliás, o facto de o binário máximo estar logo disponível a baixas rotações faz com que o novo Ibiza Cupra, sendo a gasolina, se comporte nos arranques e recuperações como se fosse a gasóleo e não necessite de muito trabalho de caixa para responder com eficiência. Em recta e em especial em curva, o seu comportamento é muito equilibrado, ao que não é alheio o diferencial electrónico autoblocante XDS.