Fugas - Motores

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A voar baixinho pelo autódromo

O sangue já me corria mais rápido pelas artérias. Ao sentar-me no GTS e ao amarrarem-me ao banco, senti-me o Sena cá do sítio. Ponho o coração da máquina a trabalhar e o ronco não se intimida: está bem presente e é bastante audível, parecendo o som de quem tem muito para dar e nenhum medo de o fazer.

A vingança de António

Nestas voltas senti-me um piloto de competição. Os bancos abraçam-nos de uma maneira que nos sentimos tão presos ao carro, tão seguros, como se fôssemos um só corpo. Segui o melhor que pude as indicações do meu guia e acreditei que estava a fazer uns “belos tempos”, apesar de a pista estar húmida. Velocidades para mim pouquíssimo comuns a voar baixinho, o GTS de tal maneira agarrado ao alcatrão que nas curvas sentia as aulas de Física acerca da força G, travagens impossíveis, tamanha a potência das mesmas. Sinto como se estivesse a aterrar num porta-aviões.

Disseram-me que, nestas lides, um pedal tem que estar sempre no fundo: ou o do acelerador ou o do travão. Assim o tentei. E desconfio ter conseguido, pois durante a minha prova não vejo ninguém pelo retrovisor. Ou isso ou sou o único carro em pista. Não é importante: volto às boxes de peito cheio, como quem acabou de vencer a prova que lhe deu o título mundial.

Acabou a minha experiência neste campeonato, pensei. Mas não! É que já tinha chegado o António! E este António, de apelidos Félix da Costa, tem um currículo impressionante: piloto vencedor de provas no DTM e na Fórmula E, esteve quatro anos ligado à Fórmula 1 como piloto reserva e piloto de testes da Red Bull.

Não é a primeira vez que encontro o António. Há uns anos, quando ainda era um piloto promessa, fui destacado para o fotografar, fazendo-o penar até conseguir as imagens que me agradavam. Acho que ele ainda se recorda do trauma e, quando assumiu os comandos do M4, surgiu a oportunidade de vingança. Claro que, por esta altura, achava que nada do que o António pudesse fazer me poderia surpreender. Engano meu. Só não sabia que a vingança do António poderia ter um gosto tão bom ao fazer-me voar mais alto.

Parece que, afinal, os meus tempos não eram assim tão fantásticos e que, em pista, não é o carro que faz o piloto.

É com esta certeza que volto à Palio com um sorriso nos lábios. E volto a casa feliz: com a experiência, com o dia, com as pessoas. Mas sobretudo feliz com a Palio.

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