Visual radical, com a saia do pára-choques dianteiro quase a roçar o asfalto e a traseira pontificada por uma grande e vistosa asa.Entrar no Type R é como que entrar num carro de corridas, em que tudo parece pedir para que transformemos um movimentado trajecto luso numa pista de velocidade.
E nem é tanto pelos números que impressiona (aliás, já se escreveu por estas páginas sobre carros com muito mais potência - alguns até com praticamente o dobro da cavalagem), mas antes pelo comportamento que nos leva a ter a certeza de que temos tudo entre as nossas mãos. Claro que há ajudas electrónicas, mas com a força dos 310cv concentrados na sua frente, é difícil não sentir um calafrio quando se pressiona o acelerador com afinco.
Por tudo o que já foi escrito atrás, não é de estranhar que o fabricante japonês tenha decidido classificar este Honda Type R como “um carro de corridas para a estrada” — uma declaração corroborada pelas prestações que conseguiu no circuito de Nürburgring aquando o seu lançamento. O Type R, que anuncia uma velocidade máxima de 270 km/h e uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 5,7 segundos, cumpriu uma volta em apenas 7’50’’, empatando com o BMW M3 CSL ou o Porsche 911 Carerra S de 2009. Atrás ficaram portentos como o Lamborghini Gallardo LP 560-4 (7’52’’) ou o Ferrari F430 F1 (7’55’’).
Assim sendo, se se sofre do coração o melhor é não ponderar a compra - não por não conseguir conduzir este carro, que, como acabámos por perceber, é até muito agradável de guiar em qualquer tipo de traçado, mas por se traduzir num desperdício. Pelo contrário, se diariamente se anseia por emoções fortes ao volante este é definitivamente um carro a equacionar. Só pela sua desenvoltura? Não. Também pelo conforto que proporciona, ao incluir, na versão de equipamento GT ensaiada, uma série de mimos que o tornam menos árido e agradável de guiar mesmo em trânsito urbano - apenas cuidado (muito!) com os buracos. E quanto a lombas o ideal mesmo é fugir delas.
O nível GT, que custa mais cerca de 2500€ face à versão base, é facilmente identificável pela faixa vermelha nos spoilers inferiores. Já os faróis em LED, os vidros escurecidos e as jantes de 19’’ são comuns aos dois modelos. No habitáculo, tal como acontece com a versão básica, sobressaem os bancos desportivos com tecido tipo veludo em vermelho e os pedais e punho da alavanca das mudanças em alumínio.
Mas o GT chega com sistema Honda Connect Navi com leitor de CD, assente num ecrã táctil de 7’’ multifunções e tecnologia MirrorLink que permite transpor as funções e aplicações de um smartphone para o carro (o modelo mais barato não inclui sistema de navegação). Além disso, os 2500€ a mais são justificados por um digno pacote de segurança: sistema de suporte dos máximos, sensores de chuva, luz e estacionamento, aviso de colisão frontal, reconhecimento de sinais de trânsito, alerta de saída de faixa de rodagem e informação de ângulo morto, incluindo o sistema de monitor de trânsito lateral muito útil em manobras de marcha atrás.
Com esta panóplia de mordomias é fácil de adivinhar que este é um carro que qualquer um pode conduzir e até mesmo a suspensão, que parece variar entre o dura e o duríssima, consegue ser facilmente suportada pelo excelente apoio proporcionado pelos assentos. Além do mais, com uma direcção que impressiona pela exactidão, as curvas, mesmo as mais apertadas, parecem alargar à sua passagem, tal é a forma como o carro as desenha.
Mas destape-se o capot para descobrir a alma deste Civic: a versão desportiva do automóvel nipónico do segmento C recebe vida de um 2.0 VTEC Turbo, uma estreia já que as anteriores gerações eram equipadas com propulsores atmosféricos. E este facto só por si transforma esta geração do Type R num carro totalmente distinto daquele que substitui ao disponibilizar o máximo de potência e binário muito mais cedo e por uma mais ampla faixa de rotação. Enquanto que o modelo de 2009 apresentava 201cv às 7800rpm e 193 Nm às 5600rpm, o novo Type R surge com 310cv que mostram toda a sua garra às 6500rpm e um torque máximo de 400 Nm disponível logo a partir das 2500 rotações, mantendo-se com toda a sua força até às 4500rpm. De referir ainda a aplicação das novas tecnologias de combustão de alta precisão que ajudam a melhorar a potência do motor e oferecem menores consumos e emissões: 7,3 l/100 km de média anunciada em circuito misto e 170 g/km de CO2, cumprindo a Norma Euro 6 de emissão de partículas.
A ajudar na exploração destes impressionantes números está uma transmissão manual de seis velocidades, precisa, e de relações bem curtinhas. E se alguma coisa falhar? Então, haja travões, como é o caso. Com discos ventilados de 350mm à frente e sólidos de 296mm atrás, o sistema de travões Brembo de elevada performance, da mesma fabricante que fornece os monolugares da Fórmula 1, garantem uma travagem firme.
À medida que se vai explorando as capacidades do carro também a pulsação estabiliza. E concluímos que, houvesse 42.305€, este seria um automóvel que poderíamos equacionar, tendo em conta as necessidades do dia a dia de espaço e lugares (tem quatro). Agora, se conseguiríamos alguma vez retirar do carro tudo aquilo que ele tem para dar? Não há resposta, apenas dúvidas.
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