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«Pulp Fiction»: A história do Malibu desaparecido de Tarantino

Por Carla B. Ribeiro

Ao mesmo tempo que se tornava uma estrela de cinema no «Pulp Fiction» de Tarantino, o Chevy que Travolta conduz pelo filme tornava-se também estrela de um crime: foi furtado. Agora, quase duas décadas depois, a polícia recuperou o carro.
"I had it in storage for three years. It was out five days, and some dickless piece of shit fucked with it. (...) Don´t fuck with another man´s vehicle."

Quem o diz é Vicent Vega, o personagem que relançou John Travolta no Pulp Fiction (1994) de Tarantino, que viria a tornar-se uma obra de culto, durante uma conversa casual com o seu dealer Lance (Eric Stoltz), enquanto este lhe prepara a droga.

Em causa estava o Malibu de Vicent que, depois de ter estado na garagem durante três anos, esteve na rua apenas cinco dias e acabou por ser riscado com uma chave num (des)propositado acto de vandalismo. E a regra é avançada pelo gangster: "Não se brinca com o veículo de um homem." A ficção até poderia estar a tentar retratar a realidade, mas o que talvez tenha acabado por acontecer foi que a realidade imitou a ficção.

Já depois de ter servido para Vicent usufruir da heroína acabada de comprar - numa sequência de imagens a roçar o idílico e acompanhadas pelo tema dos Centurians Bullwinkle part II - ou de levar Mia Wallace (Uma Thurman) para o restaurante Jack Rabbit Slim, onde haveria de decorrer a famosa dança ao som de You never can tell, de Chuck Berry, o carro era estampado em frente à casa do traficante com uma Mia em overdose no banco ao lado após ter snifado a mesma heroína.

Mas esse não era o fim das suas desgraças: a viatura, no mundo real propriedade de Quentin Tarantino, foi furtada e, durante duas décadas, nada mais se soube do vermelho-cereja Chevelle, um compacto, produzido pela divisão da Chevrolet da General Motors entre 1964 e 1977, que teve direito a três gerações e a várias carroçarias: coupés, sedans, descapotáveis e carrinhas.

No caso do Malibu SS, a versão conduzida por Vega, a Chevrolet disponibilizou duas carroçarias - Sport Coupé (com tejadilho fixo) e Descapotável, como era o caso - que podia ser comercializado com qualquer bloco da gama Chevelle, de seis cilindros em linha ou de oito em V. A opção mais agressiva, em 1964, seria a de 5,4 litros servidos por 300cv, com transmissão de quatro relações (havia ainda opção de caixa automática Powerglide).

Com estes atributos - alguém se lembra da forma musculada como o desportivo "voou" perante uma Mia em apuros? - não é de admirar que, mesmo em meados de 1990, fosse um carro cobiçado ao ponto de ser subtraído.

Agora, 20 anos após o desaparecimento do veículo, o Chevy ainda poderá ter direito a um final feliz. E, tal como acontecia na maioria das cenas do filme de 1994, por puro acaso.

Um ajudante de xerife de San Bernardino, no estado norte-americano da Califórnia, apanhou, no último dia 18 de Abril, dois homens a desmontarem um velho carro e interveio. Quando colocou o número de série na base de dados, esta devolveu a matrícula como registada em Oakland, também na Califórnia. O caso chegou então à polícia de Oakland que, após alguma investigação, concluiu que o carro era na realidade o clássico de Tarantino.

"O delegado (Carlos) Arrieta fez um excelente trabalho com este caso", considerou o sargento Albert Anolin, do gabinete do xerife de Victorville, citado pelo jornal local The San Bernardino County Sun. "Percebeu que algo de maior se passava, ao contrário de muitos que achariam tratar-se de um delito menor, e perseguiu as pistas até desaguar num caso muito maior."

O Chevy de Tarantino brilhou no Pulp Fiction em 1994 e volta a brilhar agora enquanto não se conhece o desfecho da sua história. Afinal, Tarantino, co-responsável pelo argumento com Roger Avary, foi peremptório: "Don´t fuck with another man´s vehicle."
 
Outros motores Pulp Fiction
Pelo filme não é apenas a Chevrolet que tem lugar de honra, como recorda o site de notícias automóveis Torque News. Aliás, ao longo da película vêem-se alguns exemplares notáveis. Casos do Acura NSX de 1992, que chega com o “salvador do dia” Winston Wolf (Harvey Keitel), ou da Harley-Davidson FXR Super Glide, de 1986 (curiosidade: exibia o nome “Grace” que era como se chamava a namorada de Tarantino na altura), na qual Butch (Bruce Willis) consegue escapar. 
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